Brevemente, a Transportadora Aérea Portuguesa poderá passar a voar para… «eGoli». Não se trata de um novo país, nem tão-pouco de uma região perdida no mundo, antes o nome pelo qual a cidade sul-africana de Joanesburgo poderá vir a ser conhecida.
Segundo a BBC, além de Joanesburgo, também a área metropolitana de Pretória e as cidades costeiras de Port Elizabeth e Durban preparam-se para mudar de nome. A iniciativa terá partido dos próprios governos locais e visa o baptismo das grandes metrópoles com nomes tradicionais africanos.

Joanesburgo deverá passar para «eGoli» – uma designação zulu que significa «o lugar do ouro» -, nome pelo qual é, aliás, conhecida localmente e que, nos últimos anos, se tornou ainda mais popular por ser o título de uma telenovela de sucesso, rodada precisamente em Joanesburgo.
Igualmente, a área metropolitana de Pretória deverá mudar para «Tshwane», ou seja, «nós somos o mesmo», num claro apelo à união racial entre os seus habitantes. Contudo, a cidade de Pretória deverá conservar o mesmo nome – escolhido para imortalizar Andries Pretorius, o chefe boer que, em 1838, derrotou os zulus e fundou a República Boer do Natal.
A cidade de Mandela
Port Elizabeth é outra das designações em renovação. Esta cidade, na costa Sul, deverá adoptar o nome de «Nelson Mandela Metropole», numa evidente homenagem ao Presidente sul-africano que, entre 1994 e 1999, assegurou a transição do país para a era pós-«apartheid».
Não é um dado adquirido que todas as sensibilidades étnicas e raciais adoptem, em uníssono, a nova designação de Port Elizabeth, mas o presente, a esse nível, é um pouco caótico: os afrikaners chamam-lhe «Die Baai» (A Baía), os xhosa «iBhayi» e os anglófonos simplesmente «PE».
Na costa do Índico, Durban deverá passar a «eThekwini», nome pelo qual já é chamada entre os nativos de etnia zulu.
Apesar das alterações toponímicas serem uma prática corrente em vários países africanos, só agora ela se generaliza na África do Sul. Em 1994, aproveitando uma redefinição das fronteiras das províncias – o que originou a incorporação de parcelas de território (que anteriormente estavam sob outra administração) em províncias diferentes -, apenas duas regiões optaram por nomes africanos: «Gauteng» (designação tswane) tornou-se o nome da província que engloba Joanesburgo e Pretória e «Mpumalanga» («Nascer do Sol») passou a designar o leste do Transvaal.
Um único precedente
Anteriormente, uma única cidade tinha mudado de nome – Verwoerdburg -, por força do incómodo que causava a sua imediata associação ao ideólogo do «apartheid», Hendrik Verwoerd.
A oficialização dos novos nomes poderá, porém, demorar algum tempo, uma vez que os governos locais terão de aprovar as novas designações e dificilmente o farão sem antes auscultar a opinião das populações em causa.
Em Joanesburgo, por exemplo, um jornal local revelou que 58% dos residentes estavam contentes com o nome da cidade.
Indiferente a esta pequena «revolução», a Cidade do Cabo vai ficar como está, ou seja, com três designações oficiais: «Cape Town» (a inglesa), «Kaapstad» (a afrikaner) e «iKapa» (a xhosa).
(FOTO Skyline da cidade de Joanesburgo, na África do Sul)
Artigo publicado no “Expresso”, a 29 de julho de 2000
