As mães da realeza

O centenário da Rainha-Mãe de Inglaterra é, ao mesmo tempo, a celebração da instituição monárquica dos tempos em que os soberanos governavam, faziam as leis e serviam nas guerras. Isabel de Inglaterra, Juliana da Holanda, Ingrid da Dinamarca e Fabiola da Bélgica — as Rainhas-Mãe ainda vivas — são os últimos rostos das monarquias desses anos

Cem anos de vida é, em qualquer circunstância, motivo para comemorações. Mas se o aniversariante é uma das pessoas mais conhecidas e acarinhadas do mundo, as razões para os festejos multiplicam-se.

Ontem, a Rainha-Mãe de Inglaterra completou um século de existência. Um século de simpatia e graciosidade que lhe valeram o afecto não só do mais dedicado dos súbditos como do mais militante dos republicanos. É uma espécie de «rainha das rainhas-mães», que quase relega para o anonimato as três homólogas ainda vivas nas restantes nove monarquias europeias.

A «moeda do centenário» é a última delícia dos amantes da numismática. Em ouro ou em prata, foram cunhadas três mil moedas, com um valor facial de cinco libras (1.625$00), que serão vendidas a 495 libras (mais de 160 contos) cada

Duas delas — a Princesa Juliana da Holanda e a Rainha Ingrid da Dinamarca — partilham com Isabel de Inglaterra o facto de serem mães das três únicas mulheres que reinam, actualmente, no Velho Continente: Isabel é mãe de Isabel II de Inglaterra; Juliana, de Beatriz da Holanda; Ingrid, de Margarida II da Dinamarca

Juliana, a estadista

Das três, apenas Juliana foi chefe de Estado. Nascida em 1909, subiu ao trono em 1948, sucedendo à mãe, Guilhermina — detentora do reinado mais longo da história holandesa, quase 58 anos — e, em 1980, abdicou voluntariamente.

Isabel de Inglaterra e Ingrid da Dinamarca só se tornaram rainhas por via do matrimónio: aos 23 anos, Isabel casou com aquele que viria a ser o Rei Jorge VI e Ingrid, em 1935, com o futuro Rei Frederico IX — tinha ela 25 anos.

O mesmo se passou com Fabíola da Bélgica, viúva do Rei Balduíno, com quem casara em 1960. Com 72 anos, esta espanhola de nascimento é a mais jovem das rainhas-mães e, seguramente, a mais dinâmica.

Ao longo da década de 90, destacou-se como uma activa defensora dos direitos das mulheres, tendo sido uma forte impulsionadora da Conferência de Pequim de 1995.

À parte estas quatro soberanas, há, pois, seis monarquias que apenas recordam as suas rainhas-mães. À semelhança de Juliana da Holanda, a Grã-Duquesa Charlotte do Luxemburgo foi a única das rainhas-mães já desaparecidas que, efectivamente reinou: em 1919, sucedeu à irmã Maria Adelaide e, em 1964, abdicou para o seu primogénito, o actual Grão-Duque João. Charlotte morreu em 1985. Se fosse viva, teria 104 anos e seria a mais velha das rainhas-mães.

Também Charlotte do Mónaco, falecida em 1977, seria mais velha do que a Rainha-Mãe inglesa: no próximo dia 30 de Setembro a mãe de Rainier faria 102 anos. A Princesa Charlotte representa, juntamente com as homólogas espanhola e sueca, uma outra categoria de rainhas-mães: as que assim se afirmaram sem que as próprias ou os consortes tenham sido coroados.

Em 1944, Charlotte do Mónaco, filha ilegítima de Luís II — que reinou até 1949 e não tinha filhos do seu casamento —, renunciou aos direitos sucessórios, a favor de Rainier.

Situação semelhante ocorreu em Espanha, com Juan Carlos, em 1975, a suceder directamente ao avô, Afonso XIII. Em Espanha vigorava a República quando, em 1935, a madrilena Maria de las Mercedes casou com Juan de Borbón, o sexto filho de Afonso XIII.

Mercedes, a exilada

A subida de Franco ao poder forçou o casal ao exílio no Estoril e é daí que assistem à transmissão de poder, do ditador para o filho. D. Maria de las Mercedes viria a falecer em Janeiro deste ano, com 89 anos.

Também na Suécia, a Princesa Sibylla, nascida em 1908, nunca ocupou o trono. Em 1932, casou-se com Gustavo Adolfo — filho de Gustavo VI Adolfo, que reinou de 1950 a 1973, e irmão de Ingrid, a Rainha-Mãe dinamarquesa —, mas em 1947 viria a perder o marido, num acidente de aviação. Sibylla morreu em 1972, menos de um ano antes do seu filho Carlos XVI Gustavo ter ascendido ao trono sueco.

Restam as Rainhas-Mães do Liechtenstein e da Noruega. Georgina Wilczek tornou-se Princesa Gina do Liechtenstein quando, em 1943, casou com o Príncipe Francisco José II. Gina morreria em 1989, nas vésperas de completar 68 anos e antecedendo em menos de um mês a morte do marido. Na Noruega, Marta tornou-se princesa após casar, em 1929, com aquele que, de 1957 a 1991, viria a ser o Rei Olavo V. Contudo, não chegaria a assistir à coroação do marido, pois morreu em 1954, com apenas 53 anos.

Artigo publicado no “Expresso”, a 5 de agosto de 2000

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