Dura já há quase três semanas o tormento de um jovem português, que foi detido no passado dia 24, em Barcelona, no final de uma manifestação antiglobalizagão, às portas de uma reunião do Banco Mundial (que seria cancelada).
Desde então, recai sobre Tiago Santos, de 19 anos, uma ordem de expulsão que o impedirá de entrar no território espanhol (e no espaço Schengen, exceptuando Portugal) durante cinco anos. O caso foi considerado “não urgente”, pelo que o jovem poderá ter de esperar mais uma semana pela resposta ao requerimento solicitando a suspensão da ordem de expulsão. Enquanto o processo se arrastar, ele não poderá sair de Espanha e terá de apresentar-se na Polícia nos dias 1 e 15 de cada mês.
Segundo o auto de detenção de Tiago — ao qual o “Expresso” teve acesso —, e ao abrigo da Lei sobre Direitos e Liberdades dos Estrangeiros em Espanha, o jovem foi detido por não possuir “autorização de trabalho e de residência”, não ter “domicílio habitual e próprio” em Espanha e por ter sido dada como provada a sua participação “em actos contra a ordem pública”. Mas em declarações ao “Expresso”, Isabel Pereira, a mãe, afirma que o filho nega que tenha atirado paus e pedras, como o acusa a Polícia.
Na quinta-feira, o diário espanhol “El País” noticiou que a juíza Consuelo Sanchís, do Tribunal de Instrução n° 33 de Barcelona, arquivara cinco processos e considerara que os 21 detidos não tinhan cometido delitos atentatórios da ordem pública — contrariando assim o critério que sustentava a acusação da Polícia. A decisão não anula, porém, a ordem de expulsão sobre o português e sobre um cidadão italiano, os dois únicos estrangeiros detidos.
Curiosamente, a actuação policial tem sido alvo de várias críticas, sobretudo da imprensa espanhola, que denunciou a passividade da Polícia, numa primeira fase, perante actos de vandalismo e, no final, não hesitou em carregar duramente sobre manifestantes pacíficos, incluindo alguns jornalistas.
Para Isabel Pereira, toda a situação assemelha-se “a um enredo muito ‘kafkiano’”. Por isso, não rejeita a possibilidade de vir a processar o Estado espanhol pelas várias irregularidades que, no seu entender, foram cometidas ao longo do processo.
Artigo publicado no “Expresso”, a 14 de julho de 2001
