Novas maravilhas

À entrada do milénio, todos os cidadãos do mundo são convidados a eleger as “7 Novas Maravilhas. Na Internet, 25 belos monumentos disputam o título

Cidade perdida de Machu Picchu, no Peru MARGARIDA MOTA

Bernard Weber é um exemplo vivo de como o sonho pode comandar a vida. A sua paixão pela aviação, pelas viagens à volta do mundo e pela produção de filmes colocaram este suíço, há 15 anos, num dilema: Que tema para o meu próximo documentário?

A resposta está acessível a todos e é hoje uma das iniciativas mais interessantes em curso na Internet — a eleição das “7 Novas Maravilhas do Mundo”. “Não se trata de substituir as antigas sete maravilhas, mas sim de usar o mesmo conceito levando a população mundial a eleger sete símbolos da unidade do Mundo Moderno no que diz respeito à diversidade cultural”, afirmou
Weber ao “Expresso”.

Até à hora de fecho desta edição, já tinham visitado o “site” e feito a sua escolha 5.668.444 cidadãos de todo o mundo, entre os quais mais de 25 mil portugueses. São 25 os monumentos a concurso — 17 escolhidos por um júri especializado e os restantes oito por exigência do público — todos construídos após o ano 200 a.C.

O património português não está contemplado. Os portugueses deixaram muito património no estrangeiro, dos tempos da colonização, mas nós tínhamos que nomear estruturas que sejam bem conhecidas, se não como é que as pessoas iriam votar?, refere o fundador da campanha.

Ruínas do Coliseu de Roma, em Itália MARGARIDA MOTA

Apesar de não reconhecer, oficialmente, a iniciativa — por ter um estatuto que contraria a selecção de património em detrimento do seu levantamento exaustivo —, a UNESCO “considera que se trata de um projecto muito valioso, porque promove o património da Humanidade”, diz Weber. Todas as “maravilhas” a concurso constam, aliás, da lista de património da Humanidade da UNESCO.

Os Estados Unidos e a Itália são os campeões das nomeações, com três cada: Empire State Building, a Ponte Golden Gate e a Estátua da Liberdade (EUA) e o Coliseu de Roma, a Torre de Pisa e o Palácio dos Doges (Itália). Porém, se a iniciativa terminasse hoje, apenas o anfiteatro romano seria uma das 7 Novas Maravilhas do Mundo, cuja lista actualizada é encabeçada pelo Taj Mahal (Índia), seguindo-se o Chichén Itzá (México), a Grande Muralha (China), o Coliseu de Roma (Itália), a Ilha da Páscoa, a Basílica de Santa Sofia (Turquia) e o Kremlin (Rússia).

Seria um resultado, no mínimo, surpreendente se se levar em consideração que ficariam de fora candidatas de peso como as mediáticas Torre Eiffel (França), Estátua da Liberdade (EUA) ou Torre de Pisa (Itália) ou sítios tão emblemáticos como o Palácio Potala (Tibete), Machu Picchu (Peru), ou o Angkor (Cambodia).

É curioso, aliás, que, sendo os peruanos quem mais votou — com 24,45% do total de votos expressos até ao momento —, a sua maravilha (Machu Picchu) não seja eleita. Contrariamente, não é somente graças aos indianos (4,99% dos votos) que o Taj Mahal lidera as preferências, o que vem ao encontro do desejo de Weber de que as escolhas sejam verdadeiramente universais (e não nacionais).

“O Tesouro”, o templo mais famosa de Petra, na Jordânia MARGARIDA MOTA

Os portugueses não são, até ao momento, dos mais entusiastas, mas também não revelam uma total indiferença: ocupam o 20º lugar (com 0,45%, o que corresponde a cerca de 25 mil votantes), de uma lista de 238 países votantes e de onde se salienta, a título de curiosidade, a 151ª posição de Timor-Leste, com 0,003% dos votos.

Não está ainda definida uma data para o fim da votação, mas dificilmente será antes de 2003. Para Bernard Weber, é importante que continue até haver um resultado representativo de todo o mundo. A Ásia, por exemplo, ainda não participou. A China contribuiu com cerca de dois mil votos, o que é ridículo”. “Na próxima Primavera, estamos a planear acções de promoção, como por exemplo sobrevoar a Grande Muralha num balão”.

Não se trata de substituir as sete maravilhas da Antiguidade, mas de eleger sete símbolos da unidade do Mundo Moderno

Foi em 200 a.C. que Filon de Bizâncio, um engenheiro grego, elaborou a lista das 7 Maravilhas do Mundo, como um símbolo da unidade da Antiguidade Clássica. Das sete — as Pirâmides de Gizé, o Farol de Alexandria, os Jardins Suspensos da Babilónia, a Estátua de Zeus, o Templo de Artemis, o Colosso de Rodes e o Mausoléu de Halicarnasso — apenas as Pirâmides estão de pé e há dúvidas sobre se os Jardins Suspensos da Babilónia terão de facto existido.

A entrada num novo milénio surge, assim, como o momento perfeito para uma iniciativa deste género que, além do simbolismo histórico, possui uma vertente pedagógica de inegável interesse. Cada votante poderá registar-se como membro da Comunidade das 7 Novas Maravilhas, uma espécie de amplo grupo de trabalho em defesa da preservação do património mundial, que já começou a dar frutos.

Troço da Grande Muralha da China MARGARIDA MOTA

Há cerca de um mês, arrancou um projecto visando nada mais nada menos do que a reconstrução dos budas de Bamiyan, destruídos pelo regime talibã em Março. Se tudo correr como o previsto, as estátuas serão reconstruídas com um décimo do seu tamanho original e expostas no Museu Afegão em Bubendorf (Suíça).

Aos 49 anos, Bernard Weber não deixa que os seus sonhos morram às mãos da inércia, por isso tem já em mente novos projectos: os 7 Símbolos da Paz, as 7 Maravilhas da Natureza e as 7 Maravilhas da Técnica.

Fala de todos eles com grande entusiasmo e quando se lhe pergunta quais foram as “maravilhas em que votou, não evita uma sonora gargalhada e responde: “Não quero prognosticar, mas estou muito feliz que em primeiro lugar esteja o Taj Mahal. É o símbolo do amor e da paixão e isto vai ao encontro da forma como promovemos as Maravilhas — que cada uma tenha uma qualidade do ser humano.”

Nota: A 7 de julho de 2007, foram anunciadas as 7 Novas Maravilhas do Mundo: Chichen Itza (México), Estátua do Cristo Redentor (Brasil), Coliseu (Itália), Grande Muralha (China), Machu Picchu (Peru), Petra (Jordânia) e Taj Mahal (Índia).

Artigo publicado no suplemento Vidas do Expresso, a 1 de dezembro de 2001