Os árabes israelitas têm, pela primeira vez, um ministro no Governo. Mas as queixas de discriminação não desapareceram ainda
Raleb Majadele acaba de fazer história em Israel. Cidadão israelita, árabe e muçulmano, foi esta semana nomeado ministro. Aparentemente, um governante árabe deveria ser motivo de regozijo para 20% da população israelita (1,2 milhões pessoas), tão árabes quanto Majadele. Não é assim que acontece.

“Esta nomeação é pura cosmética. Em nada vai contribuir para a promoção do estatuto da população árabe em Israel”, afirmou ao Expresso Ibrahim Sarsur, líder da Lista Árabe Unida, o partido árabe com mais deputados no Parlamento — quatro.
Sarsur votou contra a nomeação de Majadele. A trica política é simples de contar. O novo ministro era deputado pelo Partido Trabalhista que, em Maio, terá eleições primárias. Ao promovê-lo, Amir Peretz, líder partidário e ministro da Defesa, lança um trunfo no sentido da sua recondução, surgindo empenhado na cooperação com os árabes.
Parte integrante do Estado de Israel, a minoria árabe israelita — 75% muçulmanos, 15% cristãos e 10% drusos — vem denunciando situações de discriminação que os transforma em cidadãos de segunda. “É suposto sermos iguais perante a lei, mas desde a criação de Israel (1948) que as políticas adoptadas nos fazem sentir ignorados e completamente abandonados”, continua Sarsur.
À cabeça das queixas, o deputado refere a falta de paridade de direitos entre a minoria árabe e a maioria judia. “Não se trata apenas de um sentimento mas de uma realidade no terreno”, diz. “Sentimo-lo nas cidades e aldeias, nas escolas, nos serviços de saúde, na construção e na industrialização. Mais de 50 cidades árabes dentro de Israel não são reconhecidas pelo Governo, o que significa a ausência de qualquer tipo de serviços”.
Em 1998, um relatório das Nações Unidas denunciou a existência de 17 leis discriminatórias em relação aos cidadãos árabes. Ibrahim Sarsur exemplifica citando a política de expropriações, que priva os árabes israelitas do acesso à terra. Mostra-se também preocupado com a existência física da comunidade e teme pela sobrevivência da sua identidade, em perigo pela crescente “sionização dos programas escolares”.
Acresce que entre judeus e árabes israelitas há uma profunda desigualdade económica: 50% dos árabes vivem abaixo do limiar de pobreza e a taxa de desemprego é incomparavelmente mais alta.
Nos meandros académicos, há quem procure justificar as políticas discriminatórias com a chamada ameaça demográfica — o receio de que, a prazo, o número de árabes muçulmanos supere o de judeus. Isto faz de Israel um país com regime de “apartheid”?
“Israel executa políticas muito semelhantes às adoptadas pelo antigo regime da África do Sul. Se os sul-africanos brancos chegaram à conclusão de que esta forma de vida devia ser eliminada do mundo moderno, os israelitas deveriam levá-lo em consideração”, conclui Sarsur.
Artigo publicado no “Expresso”, a 3 de fevereiro de 2007
