À conquista do país de Kadhafi

Portugal vai abrir uma embaixada em Tripoli. Com olho nos negócios. Entrevista ao futuro embaixador português na Líbia, Rui Lopes Aleixo

Mapa da Líbia coberto pela bandeira do país DARWINEK / WIKIMEDIA COMMONS

Portugal vai finalmente abrir uma embaixada na Líbia — o país que hoje assinala o 38.º aniversário da revolução de Kadhafi e onde vivem… três portugueses. A liderar a missão — a 91.ª a abrir portas em Tripoli e a 21ª da União Europeia (UE) — estará o embaixador Rui Lopes Aleixo, que parte com uma certeza na bagagem: “Nos próximos dois anos, a Líbia será um país de oportunidades”.

Quais as prioridades desta embaixada?
Há três. Por um lado, era necessário completar a nossa cobertura dos países do Norte de África, que são a fronteira sul da Europa. Durante o processo de alargamento, a UE olhou muito mais para a fronteira leste e, infelizmente, só olhou para sul quando começou a haver problemas de terrorismo e de imigração ilegal.

E as outras duas?
Em segundo lugar, a Líbia representa um mercado potencial muito importante em termos de investimentos, de exportações e de fornecimento de gás e petróleo. Além disso, a Líbia tem um papel em África que não se pode ignorar. A influência do Presidente Kadhafi é muitíssimo importante e decisiva na União Africana que, no seu modelo actual, é uma concepção do próprio Kadhafi.

Os Estados Unidos de África…
Ainda não estamos lá, mas a Líbia é incontornável no diálogo mediterrânico. A curto prazo, a prioridade passa pela realização da cimeira Europa-África [Lisboa, 8 e 9 de Dezembro] em que Tripoli terá um papel muito importante como interlocutor da parte africana.

Qual a mais-valia do mercado líbio para os empresários lusos?
O Governo líbio tem um plano de investimentos em infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, hospitais e universidades que quer ver concluído a tempo de comemorar o 40.º aniversário da revolução, a 1 de Setembro de 2009, e que oferece aos nossos empresários enormes oportunidades. Amanhã partem daqui seis empresários para desenvolver contactos. Ao nível da indústria do petróleo, temos empresas com grande capacidade tecnológica para fornecer materiais e equipamentos.

Agora, as partes interessadas têm de se encontrar…
A embaixada vai criar um site” para anunciar os grandes concursos. E se a AICEP abrir uma delegação em Tripoli será a oportunidade para divulgar as oportunidades de negócio na Líbia e de apresentarmos as nossas potencialidades.

A cultura costuma ser um bom ponto de partida…
Tenho esperança que seja possível estabelecer uma cooperação cultural com a Líbia e ao nível da conservação dos sítios arqueológicos. Temos este grande elo do passado greco-romano…

A presidência portuguesa da UE tem iniciativas para impulsionar a cooperação com a Líbia?
Vamos pedir à Comissão um mandato para a negociação de um acordo de cooperação com a Líbia. Nesse mandato vai assentar o desenvolvimento de cooperação em áreas como a energia, o combate à imigração ilegal e o apoio à reestruturação económica e financeira e à exploração arqueológica.

ALVO: MAGREBE

Coma abertura da embaixada na Líbia, Portugal reforça a presença no Magrebe. O Expresso ouviu parceiros essenciais para o sucesso da cooperação. Basílio Horta, presidente da AICEP, diz que “não está prevista a abertura de uma delegação na Líbia”, mas revela que no futuro, “se o volume de oportunidades de negócios para as empresas portuguesas o justificar”. De mangas arregaçadas está o Instituto Camões, que vai iniciar actividades na Argélia e no Egipto. “Estamos a trabalhar na abertura de um leitorado na Líbia”, diz a presidente Simonetta Luz Afonso. Com delegações nos cinco países do Magrebe, o Instituto Luso-Árabe para a Cooperação orgulha-se de estar na Líbia desde 2004. Porém, o presidente Manuel Pechirra alerta para “a escassez de meios humanos e materiais que limita a actividade dos diplomatas e dificulta melhores resultados”.

Artigo publicado no Expresso, a 1 de setembro de 2007

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