Portugal vai abrir uma embaixada em Tripoli. Com olho nos negócios. Entrevista ao futuro embaixador português na Líbia, Rui Lopes Aleixo

Portugal vai finalmente abrir uma embaixada na Líbia — o país que hoje assinala o 38.º aniversário da revolução de Kadhafi e onde vivem… três portugueses. A liderar a missão — a 91.ª a abrir portas em Tripoli e a 21ª da União Europeia (UE) — estará o embaixador Rui Lopes Aleixo, que parte com uma certeza na bagagem: “Nos próximos dois anos, a Líbia será um país de oportunidades”.
Quais as prioridades desta embaixada?
Há três. Por um lado, era necessário completar a nossa cobertura dos países do Norte de África, que são a fronteira sul da Europa. Durante o processo de alargamento, a UE olhou muito mais para a fronteira leste e, infelizmente, só olhou para sul quando começou a haver problemas de terrorismo e de imigração ilegal.
E as outras duas?
Em segundo lugar, a Líbia representa um mercado potencial muito importante em termos de investimentos, de exportações e de fornecimento de gás e petróleo. Além disso, a Líbia tem um papel em África que não se pode ignorar. A influência do Presidente Kadhafi é muitíssimo importante e decisiva na União Africana que, no seu modelo actual, é uma concepção do próprio Kadhafi.
Os Estados Unidos de África…
Ainda não estamos lá, mas a Líbia é incontornável no diálogo mediterrânico. A curto prazo, a prioridade passa pela realização da cimeira Europa-África [Lisboa, 8 e 9 de Dezembro] em que Tripoli terá um papel muito importante como interlocutor da parte africana.
Qual a mais-valia do mercado líbio para os empresários lusos?
O Governo líbio tem um plano de investimentos em infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, hospitais e universidades que quer ver concluído a tempo de comemorar o 40.º aniversário da revolução, a 1 de Setembro de 2009, e que oferece aos nossos empresários enormes oportunidades. Amanhã partem daqui seis empresários para desenvolver contactos. Ao nível da indústria do petróleo, temos empresas com grande capacidade tecnológica para fornecer materiais e equipamentos.
Agora, as partes interessadas têm de se encontrar…
A embaixada vai criar um “site” para anunciar os grandes concursos. E se a AICEP abrir uma delegação em Tripoli será a oportunidade para divulgar as oportunidades de negócio na Líbia e de apresentarmos as nossas potencialidades.
A cultura costuma ser um bom ponto de partida…
Tenho esperança que seja possível estabelecer uma cooperação cultural com a Líbia e ao nível da conservação dos sítios arqueológicos. Temos este grande elo do passado greco-romano…
A presidência portuguesa da UE tem iniciativas para impulsionar a cooperação com a Líbia?
Vamos pedir à Comissão um mandato para a negociação de um acordo de cooperação com a Líbia. Nesse mandato vai assentar o desenvolvimento de cooperação em áreas como a energia, o combate à imigração ilegal e o apoio à reestruturação económica e financeira e à exploração arqueológica.
ALVO: MAGREBE
Coma abertura da embaixada na Líbia, Portugal reforça a presença no Magrebe. O “Expresso” ouviu parceiros essenciais para o sucesso da cooperação. Basílio Horta, presidente da AICEP, diz que “não está prevista a abertura de uma delegação na Líbia”, mas revela que no futuro, “se o volume de oportunidades de negócios para as empresas portuguesas o justificar”. De mangas arregaçadas está o Instituto Camões, que vai iniciar actividades na Argélia e no Egipto. “Estamos a trabalhar na abertura de um leitorado na Líbia”, diz a presidente Simonetta Luz Afonso. Com delegações nos cinco países do Magrebe, o Instituto Luso-Árabe para a Cooperação orgulha-se de estar na Líbia desde 2004. Porém, o presidente Manuel Pechirra alerta para “a escassez de meios humanos e materiais que limita a actividade dos diplomatas e dificulta melhores resultados”.
Artigo publicado no “Expresso”, a 1 de setembro de 2007
