O governo da Líbia abriu os cordões à bolsa e desbloqueou uma verba avultada para investimentos, sobretudo em construções e turismo. A bola está agora do lado dos empresários portugueses

A prova de que quase ninguém fica indiferente a Muammar Khadafi aconteceu na sexta-feira de manhã quando o Presidente líbio se predispôs a participar no seminário “Problemas da Sociedade Contemporânea”, na reitoria da Universidade Clássica de Lisboa. A curiosidade era imensa, a segurança aparatosa e os notáveis abundavam na plateia, de militares a embaixadores. Mas Khadafi foi tudo menos diplomático: “A esperança que depositamos nas Nações Unidas está a desaparecer. Actualmente, a lei da força foi imposta no sentido de ser a lei da concordância e os abusos continuam. É o mais forte quem redige as leis”, disse. Khadafi considerou mesmo que “nas Nações Unidas assistimos a uma ditadura”.
Os ecos da intervenção do Presidente líbio chegariam ao Pavilhão Atlântico onde decorre a Cimeira UE-África. Após Khadafi ter defendido que “os colonizadores devem indemnizar os povos que colonizaram”, o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, não se poupou ao bate-boca e reagiu dizendo que os “colonizadores já pagaram” e “não têm lições a receber”.
Sem nunca se referir a um país em particular, o Presidente líbio defendeu ainda a proibição total de armas nucleares: “A arma nuclear é permitida para uns e proibida para outros. Se essa arma ameaça a vida, deve ser proibida para todos”. E concluiu com um apelo às massas: “Gostava de me dirigir à opinião pública: se deixarmos esta situação difícil que se vive no mundo nas mãos dos políticos, eles nunca a vão resolver. Não podemos contar com eles. Os políticos necessitam de ser pressionados”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui