Um continente à espera de crescer

Combina o melhor e o pior e é o continente com a população mais jovem. Cobiçada pelo resto do mundo, África é uma grande promessa

Mapa de África WIKIMEDIA COMMONS

O continente africano está a mexer. E Cabo Verde é prova disso. Este PALOP é o país africano com o mais alto registo no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas (102º lugar em 177 países) e, em média, um cabo-verdiano vive 71 anos, a mais alta esperança de vida à nascença no continente. A estratégia do sucesso tem sido orientada pela capacidade de tirar o melhor rendimento possível do turismo, dos serviços aeroportuários e das remessas enviadas pela diáspora de 800 mil cabo-verdianos espalhados pelo mundo. O arquipélago já passou ao estatuto de país de médio rendimento segundo a ONU e é um dos mais reconhecidos casos de progresso entre os 53 membros da União Africana.

FALTA INFOGRAFIA

África tem extremos: grandes vulnerabilidades e imensas riquezas naturais. À margem da conferência da Amnistia Internacional (AI) ‘Direitos Humanos e Desenvolvimento — Uma Estratégia para África’, organizada com o objectivo de dar voz à sociedade civil africana no âmbito da cimeira UE-África, o missionário comboniano Padre Leonel Claro (há dez anos no Chade), disse ao Expresso que “o petróleo é uma maldição para o Darfur e para o Chade. As companhias petrolíferas consomem mais energia do que toda a população do Chade. E apesar do petróleo, o país está hoje mais pobre, inseguro e sem perspectivas de futuro que há dez anos”. A cobiça política por tantas riquezas, as consequências devastadoras das alterações climáticas e as disputas entre etnias estão na origem de algumas das piores crises humanitárias do último meio século, como a do Darfur.

“Vim há dez dias do Sudão onde decorriam bombardeamentos aéreos e terrestres sobre a população, onde se vive uma total falta de segurança, onde os jornalistas estão presos, e os dirigentes gozam de total impunidade”, disse Salih Mahmud Osman, o Prémio Sakharov 2007, outro participante na mesma conferência da AI. O activista sudanês acrescentou que “o número de pessoas directamente afectadas pelo genocídio — chamo-lhe assim porque sou advogado — é de cinco milhões”. O respeito pelos direitos humanos no continente é o garante da paz e do desenvolvimento, já dizia o ganês Kofi Annan, o ex-secretário-geral da ONU que lançou, em 2000, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio para 2015.

Milhões é também a ordem de grandeza da pandemia do HIV-sida no território. Só na região subsariana, oito países albergam quase um terço de todos os novos infectados e das mortes por HIV-sida do planeta. Entre eles está a Zâmbia com 17% da sua população infectada. Andrew Tandeo é dirigente juvenil nesse país e, em declarações ao Expresso à margem da Cimeira da Juventude, alertou para a necessidade de multiplicar os fundos para programas de prevenção. Porque “África é um continente muito jovem e o mais afectado pelo HIV-sida e porque os jovens são os agentes da mudança”.

Dentro de três anos, África captará o olhar do mundo ao realizar o maior evento desportivo de sempre no continente — o Mundial de Futebol. A África do Sul será o lugar da expressão da capacidade de realização africana.

— 90% das jazidas mundiais de platina, crómio e cobalto, 25% das de titânio, matérias utilizadas nas novas tecnologias, encontram-se em território africano

— 10% das reservas de petróleo do planeta estão em África. O maior exportador do continente é a Nigéria

— 40% do ouro e 60% do manganésio existente na Terra estão à espera de ser extraídos do solo africano

— 295 mil barris de gás natural líquido são produzidos pela Argélia diariamente

— Nos últimos dez anos, o Ruanda e o Uganda conseguiram ganhar sete anos na esperança de vida à nascença

— As exportações na África subsariana aumentaram de 125 milhares de milhões de euros, em 2004, para 157 milhares de milhões de euros, em 2005, o que representa um aumento de 26%

— A maior população da África subsariana é de 131,5 milhões de pessoas (Nigéria); a mais pequena é de 0,1 milhão (Seychelles)

— A soma do PIB da África do Sul e do da Nigéria corresponde a 54% do total o continente

— 700 empresas chinesas investem actualmente em 49 países africanos. Na Serra Leoa, país que ocupa o último lugar do índice de desenvolvimento humano (177º), os chineses estão a investir 1615 milhões de euros na construção de instalações balneares

— Os maiores investidores em África no sector energético são a União Europeia, os Estados Unidos, França, Brasil, China e Índia

— A Mauritânia tem a mais alta taxa de frequência no ensino secundário (88%); a Namíbia tem a mais baixa (7%)

— Na última década, dois africanos foram galardoados com o Prémio Nobel da Paz: o ganês Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas (2001), e a queniana Wangari Maathai, activista dos direitos humanos (2004)

Artigo escrito com Cristina Peres.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007 Pode ser consultado aqui

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