“Não tenho o e-mail da ETA…”

Ideologicamente próximo do sector radical basco, o Gara é um jornal a quem a ETA recorre para fazer passar a sua mensagem. Na redacção do diário, terrorismo é palavra proibida. Reportagem no País Basco

Sempre que a ETA comete um atentado ou quer fazer passar uma mensagem, o diário basco Gara recebe os comunicados em primeira mão. Desde que foi fundado, há nove anos, o Gara tem uma vocação: ser um jornal nacional de um país da Europa que se chama Euskal Herria (País Basco), afirma ao Expresso o seu director Josu Juaristi, de 43 anos.

Ao mesmo tempo que refere que a linha editorial do jornal prevê o direito dos cidadãos bascos a decidirem livremente sobre o seu futuro, através de um diálogo político entre todas as partes, o director queixa-se da qualidade da democracia e do estado de direito em Espanha, que deixam muito a desejar, porque não garantem direitos políticos e civis que para nós são básicos, como o direito à liberdade de expressão.

Josu Juaristi foi jornalista do Egin, o primeiro diário basco encerrado pelas autoridades espanholas mediante acusações de que estava ao serviço da ETA. O jornal deixou dívidas à segurança social que atingem hoje um acumulado de 6 milhões de euros e agora o Estado espanhol quer que seja o Gara a pagar, o que o director considera tratar-se de uma forma de pressão sobre o jornal.

Ironicamente (ou talvez não), se um jornalista do Gara escrever um texto onde se refira à ETA como organização terrorista, o editor intervém e muda para organização armada. O Gara nunca se refere à ETA como organização terrorista. Nem o Gara, nem a BBC, nem muitos outros órgãos de comunicação…, defende Josu Juaristi. Temos de ter cuidado com a linguagem que empregamos, porque senão também temos de falar de terrorismo de Estado, quando o Estado espanhol utiliza a tortura ou quando processa pessoas por se manifestarem… Para o Gara, o 11 de Setembro ou o 11 de Março não são atentados terroristas. Também nunca escrevemos terrorismo islâmico…, acrescenta o director. Eu sei que todas as pessoas que aqui vêm têm essa expectativa, mas… não, eu não tenho o e-mail da ETA.

Editado a partir de San Sebastián, o Gara (www.gara.net), que vende cerca de 45 mil exemplares todos os dias, sai para as bancas com textos em castelhano e em basco. Temos de assegurar que aproximadamente 20% dos textos na edição diária são escritas em euskera (basco), conclui o director.

Artigo publicado no Expresso Online, a 9 de março de 2008. Pode ser consultado aqui

Primeira página da edição de 8 de abril de 2007 do ‘Gara’

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