Al-Qaeda, 20 anos a espalhar medo

Nasceu no Paquistão e disseminou-se pelo mundo. O Expresso faz um ‘dicionário’ da organização terrorista

Osama bin Laden (à esquerda) e Ayman al-Zawahiri, durante uma entrevista ao jornalista paquistanês Hamid Mir, a 8 de novembro de 2001 HAMID MIR / WIKIMEDIA COMMONS

A 11 de Agosto de 1988, uma reunião entre Osama Bin Laden, Ayman al-Zawahiri e Sayyed Imam Al-Sharif (dr. Fadl), em Peshawar (Paquistão), criou a Al-Qaeda (AQ) — “a base”. Bin Laden era o garante de uma riqueza extraordinária; Al-Zawahiri, líder da Jihad Islâmica Egípcia, personificava uma crença inabalável no radicalismo islâmico; e o intelectual egípcio dr. Fadl a base filosófica da “jihad”. Vinte anos depois, a AQ tornou-se a organização terrorista mais temida de sempre. De A a Z, o Expresso caracteriza essa hidra.

Aden Foi nesta cidade portuária do Iémen que a AQ atentou pela primeira vez: a 29 de Dezembro de 1992, um ataque contra o Gold Mihor Hotel matou duas pessoas.

Bin Laden Oriundo de uma família rica, próxima da realeza saudita, o líder da AQ nasceu a 10 de Março de 1957, em Riade.

Constelação AQ Mais do que uma organização altamente centralizada, a AQ consiste numa galáxia de grupos regionais que partilham uma ideologia, objectivos estratégicos, “modus operandi” e um ódio fanático aos EUA, a Israel e aos regimes muçulmanos que traem o verdadeiro Islão. Os atentados em Nova Iorque (2001), Bali (2002), Casablanca (2003) e Londres (2005) atestam a eficácia global da AQ.

Documentário Produzido pela BBC, ‘O Poder dos Pesadelos’ (2004) defende que a ameaça do radicalismo islâmico é um mito perpetrado, designadamente, pelos neoconservadores americanos, por forma a unir o povo após o falhanço das ideologias.

Embaixadas A 7 de Agosto de 1998, ataques simultâneos às representações diplomáticas dos EUA em Nairobi (Quénia) e Dar-es-Salaam (Tanzânia) fizeram 224 mortos. Bill Clinton mandou bombardear os campos de treino da AQ no Afeganistão.

Financiamento Criado em 1984, por Abdullah Azzam e Bin Laden, o “Maktab al-Khidamat” foi uma espécie de precursor da AQ. Este escritório angariava fundos e recrutava “mujahedines” estrangeiros para lutar contra os soviéticos no Afeganistão.

Guerra ao terrorismo Esta expressão engloba as acções legais, políticas ou militares adoptadas pelo Governo dos EUA. Oficialmente, visam a contenção de ameaças terroristas.

Hierarquia Se Bin Laden é o rosto da AQ, Ayman al-Zawahiri é o principal estratega. Desconhece-se o paradeiro de ambos.

Internet O ciberespaço é um elemento-chave no processo de treino, planeamento e logística da AQ. Há quem considere a AQ a primeira rede de guerrilha direccionada para a internet.

“Jihad” Recorrendo à “guerra santa”, a AQ — uma organização sunita de inspiração wahabita (uma interpretação conservadora do Islão) — prossegue o fim da influência estrangeira nos países muçulmanos e a instituição de um califado universal.

“Kamikaze” Por razões teológicas, a AQ sempre se opôs à utilização de mulheres em ataques-suicidas. Quando, no Iraque, Al-Zarqawi acolheu voluntárias suicidas, a AQ nunca comentou.

Lawrence Wright Premiado com um Pulitzer, este especialista no mundo muçulmano escreveu um livro sobre o 11 de Setembro (‘A Torre Ameaçadora’) que resulta de entrevistas a “jihadistas”, espiões, peritos, funcionários, amigos, mulheres e amantes de protagonistas. Revela também as fraquezas da AQ.

Manchester Foi nesta cidade britânica que, em Abril de 2000, a Polícia apreendeu um manual da AQ. Nele havia recomendações sobre como conduzir operações de combate, escapar a uma situação de captura ou comportar-se em cativeiro.

Nedal “Laden” ao contrário foi um vírus criado por um “ciberjihadista” chamado ‘Melhacker’. Quando a invasão do Iraque se tornou iminente, ele infectou milhares de “e-mails” nos EUA.

Operação Cannonball Com início previsto para 2006, esta acção da CIA visava a captura de Bin Laden. A rivalidade entre as agências de informação norte-americanas ditou o fracasso.

Pearl A 1 de Fevereiro de 2002, o norte-americano Daniel Pearl, que tinha sido raptado, foi decapitado em Karachi. O jornalista do ‘Wall Street Journal’ investigava alegados laços entre a AQ e a secreta paquistanesa.

Qatar Acolhe a sede da Al-Jazira, a televisão árabe que, após o 11 de Setembro, ganhou mediatismo ao difundir mensagens de Bin Laden. O braço da AQ para os “media” é, porém, a As-Sahab, uma produtora de conteúdos com a chancela AQ.

Reino Unido Os ataques suicidas contra o sistema de transportes de Londres, a 7 de Julho de 2005, matando 52 pessoas, confirmou a Europa como um alvo da AQ. No ano anterior, a 11 de Março, em Madrid, dez explosões em comboios tinham provocado 191 mortos.

Sudão Este país africano deu guarida a Bin Laden entre 1991 e 1996. Após pressão dos EUA, o saudita foi expulso, rumando, de seguida, ao Afeganistão.

Talibã O regime dos “estudantes de Teologia” providenciou um santuário à AQ. Suspeita-se que Bin Laden esteja escondido nas montanhas junto à fronteira entre Paquistão e Afeganistão.

USS Cole Contrária à presença militar norte-americana em solo muçulmano, a 12 de Outubro de 2000, a AQ realizou uma acção suicida que visou o contratorpedeiro USS Cole, no porto de Aden. Morreram 17 marinheiros.

Vídeos Entre boatos que o dão como morto, de tempos a tempos, Bin Laden — que, crê-se, tem uma deficiência glandular chamada doença de Addison — renova as suas ameaças em vídeos e gravações áudio. Desde o 11 de Setembro, já foram difundidas mais de 20 mensagens.

World Trade Centre O mítico edifício de Nova Iorque foi, por duas vezes, alvo da AQ. A 26 de Fevereiro de 1993, uma bomba matou seis pessoas e feriu mais de 1000. A 11 de Setembro de 2001, dois aviões suicidas embateram nas torres-gémeas de 110 pisos, matando 3000. O ataque terá custado 500 mil dólares.

“X-files” Em 1996, a CIA criou a Unidade Bin Laden para seguir o rasto do terrorista saudita. O grupo de trabalho foi desarticulado em 2005. Bin Laden permanece um dos dez terroristas mais procurados pelo FBI.

Yanbu O ataque de quatro atiradores à Petroquímica Yanbu, na Arábia Saudita, a 1 de Maio de 2004, colocou a indústria petrolífera na mira da AQ. Outros ataques seguir-se-iam, com uma tónica semelhante: matar estrangeiros, mas não muçulmanos.

Zarqawi Até ser morto, em 2006, o jordano Abu Musab al-Zarqawi — líder da Al-Qaeda no Iraque — foi um dos principais instigadores da insurgência islamista. Já a ligação de Saddam Hussein a Bin Laden nunca foi provada.

Artigo publicado no “Expresso”, a 9 de agosto de 2008 e republicado no “Expresso Online”, a 2 de maio de 2011. Pode ser consultado aqui

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