Na véspera de se despedir de Portugal, onde foi embaixador de Israel nos últimos quatro anos, Aaron Ram disse ao Expresso que o objectivo da ofensiva em Gaza é atingir severamente a infraestrutura do Hamas

A deposição do Hamas é o principal objectivo desta operação?
Há apenas uma semana, centenas de mísseis e morteiros foram lançados sobre civis israelitas (incluíndo 80 mísseis num só dia). Israel tem de proteger os seus cidadãos destes ataques através de uma resposta militar contra a infraestrutura terrorista em Gaza. Esta não é mais que a tradução básica do direito à auto-defesa de qualquer país. O alvo desta operação é, pois, atingir severamente a infraestrutura terrorista do Hamas e seus aliados em Gaza e proteger os cidadãos israelitas por forma a melhorar as condições de segurança no sul de Israel a longo prazo, impedindo os ataques e o rapto de cidadãos.
Israel consultou ou informou previamente a Autoridade Palestiniana acerca desta operação?
Israel tem estado sistematicamente comprometido em negociações com o governo Palestiniano eleito, liderado pelo Presidente Mahmud Abbas e pelo primeiro-ministro Salam Fayyad. Paralelamente, desenrola-se a luta constante contra os ataques terroristas perpetrados pelo Hamas e outros grupos radicais na oposição, avessos a qualquer tipo de acordo ou solução pacífica. O Hamas é, para além do mais, o principal obstáculo à paz entre Israel e o povo palestiniano no seu desejo de implementação da visão de dois Estados. Consequentemente, qualquer enfraquecimento no poder ilegítimo do Hamas sobre Gaza irá fortalecer a posição moderada Palestiniana.
Não teme que esta operação militar em Gaza constitua a sentença de morte de Gilad Shalit?
Israel vê o Hamas como único responsável pela situação em que se encontra o soldado Gilad Shalit, raptado por esta organização, em 2006. Israel não o esquece por um minuto e está comprometido em lutar pelo seu regresso a casa, são e salvo, o mais rapidamente possível.
Israel iniciou os bombardeamentos num Shabbat. Queria surpreender o Hamas?
A decisão que fundamentou quando e como espoletar esta operação foi tomada em consultas entre a liderança política e os comandos militares, de acordo com circunstâncias operacionais que tiveram em atenção factores como o clima, a preparação das forças, etc. O Shabat é o dia mais sagrado da semana para o povo judeu, mas quando a segurança dos cidadãos está em risco, até as leis religiosas mais ortodoxas permitem uma tomada de acção.
A partir da próxima semana, Israel será representado em Lisboa por um novo embaixador. Nascido em Jerusalém, em 1946, Ehud Gol é um diplomata de carreira, com passagens pelos Estados Unidos, Brasil, Espanha e Itália. Em Israel, foi porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros entre 1986 e 1989. Mais recentemente (2002-2006), foi o representante permanente de Israel na FAO, em Roma. Desde 2007, era embaixador não residente para a Arménia, Quirguistão, Tajiquistão e Turquemenistão. É fluente em cinco línguas, entre as quais o português.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de janeiro de 2009. Pode ser consultado aqui. Uma versão reduzida da entrevista foi publicada no “Expresso”, no mesmo dia

