A Rainha Rania da Jordânia e o ex-Presidente Jorge Sampaio foram galardoados com o Prémio Norte-Sul. Hoje, o Parlamento português foi o palco desse reconhecimento

Quando a Rainha Rania se dirigiu para o púlpito da sala do Senado da Assembleia da República, para agradecer o Prémio Norte-Sul que acabara de receber, um discreto funcionário do protocolo jordano entregou-lhe uma pasta com o discurso a proferir. Na verdade, aquelas folhas de papel mais não eram do que uma precaução, pois, à frente da monarca jordana, duas aparentes placas de vidro funcionavam como teleponto, orientando-a no discurso (pontuado por várias referências à História de Portugal) e dando-lhe dicas quanto à postura (sobre para onde olhar e qual o momento certo para sorrir).
Para grande parte dos presentes no hemiciclo — lotado de políticos, diplomatas e personalidades tão distintas quanto o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, ou o Presidente do Comité Olímpico Português, Comandante Vicente de Moura —, Rania terá passado a imagem de uma mulher com uma capacidade de improviso brilhante. Mas os que se aperceberam do teleponto não terão ficado desiludidos: a monarca jordana é, definitivamente, uma mulher voltada para as novas tecnologias.
No ano passado, Rania lançou um canal no YouTube, onde presentemente uma música cantada por uma jovem portuguesa (Mia Rose) e um jovem árabe (Hanna Gargour) — “Waiting on the World to Change” (À espera que o Mundo mude) — é dos vídeos mais visitados. Rania serviu-se desse exemplo para explicar o que a move: “O meu objectivo foi tentar desconstruir os estereótipos negativos acerca da minha região, que minam a confiança entre nós. Os blogues e os ‘vlogs’ chegaram, para agrado do meu filho adolescente que, por momentos, pensou que a mãe era ‘fixe’!”, explicou ela, durante o discurso.
“Hoje, através da Internet, alcançamos o maior número de jovens na história. Em 2007, a utilização da Internet no Médio Oriente e em África cresceu mais do que em qualquer outra parte no mundo. Quero usar a Internet como alavanca para unir as pessoas, para sanar o fosso que separa o mundo muçulmano do Ocidente, para aumentar o diálogo digital, porque, hoje, uma viagem de 1000 quilómetros pode começar com um pequeno clique.”
Em Lisboa, Rania foi premiada pela sua dedicação às causas das crianças e das mulheres de meios mais desfavorecidos, através de instituições que fundou (Jordan River Foundation e Dar al-Aman). Em Lisboa, a soberana partilhou este reconhecimento público — e o Prémio Norte-Sul – com Jorge Sampaio, actual Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações — que promove o diálogo entre culturas. “Um autor português (Miguel Torga), habituado a olhar para além do horizonte, escreveu que ‘o Universal é o local sem os muros’. Sigamos a sua lição e, na linha dos louváveis objectivos do Centro Norte-Sul, procuremos derrubar os numerosos muros que prejudicam os nossos deveres de solidariedade e tolhem possíveis caminhos de concórdia”, afirmou Sampaio.
Desde 1995 que o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, sediado em Lisboa, atribui este galardão a duas personalidades que se destacam na cena internacional pela sua dedicação e desempenho em matéria de protecção de Direitos Humanos.
Os anteriores galardoados foram:
1995
– Vera Duarte e Peter Gabriel
1996
– Danielle Mitterrand e Mulheres da Argélia
1997
– Mary Robinson e Patricio Aylwin
1998
– Graça Machel e Lloyd Axworthy
1999
– Emma Bonino e Abderrahman Youssoufi
2000
– Marguerite Barankitse e Mário Soares
2001
– Maria da Nazaré Gadelha Ferreira Fernandes e Cornelio Sommaruga
2002
– Albina du Boisrouvray e Xanana Gusmão
2003
– Frene Ginwala e António de Almeida Santos
2004
– Nawal Al Sadawi e Embaixador Stéphane Hessel
2005
– Bogaletch Gebre e Bob Geldof
2006
– Mukhtaran Bibi e Padre Francisco Van Der Hoff
2007
– Simone Veil e Kofi Annan
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de março de 2009. Pode ser consultado aqui


