A chegada de Afonso de Albuquerque a Ormuz, no século XVI, é, para os portugueses, motivo de exaltação. Mas a história omanita não é meiga com os nossos navegadores. Reportagem em Omã

“Portuguesa? Ah, parece que temos uns problemazitos entre nós…” A recepção ao “Expresso” no Forte de Nakhal, cerca de 120 quilómetros a sudoeste de Mascate, não foi, à primeira vista, calorosa. Adil, o guia de serviço, acabava de ser informado que uma portuguesa queria visitar aquele que é um dos fortes mais antigos de Omã e descaiu-se. Afinal de contas, nos livros de história omanitas, Portugal é descrito como um invasor que atentou contra o território.
No início do século XVI, Afonso de Albuquerque tomou Ormuz, estendendo posteriormente o domínio português a outros pontos da costa do território de Omã, incluindo Mascate. Precisamente na capital, erguem-se ainda hoje os fortes Jalali e Mirani, construídos pelos portugueses — no meio deles está o Palácio do Sultão Qaboos.

Não muito longe, no Centro Bait Al Baranda — um museu interactivo sobre a evolução de Mascate, desde a era da formação geológica dos continentes até à actualidade — é possível ouvir-se uma gravação em português da descrição que Afonso de Albuquerque fez daquela praça estratégica. Quanto à informação escrita que é disponibilizada aos visitantes, ela não é nada meiga com os nossos navegadores… “Os portugueses invadiram e ocuparam Mascate em 1507 A.D. Bombardearam a cidade e aterrorizaram a população. Foi só após o estabelecimento do estado de Ya’aruba que os omanitas recuperaram Mascate e a libertaram dos portugueses, em 1650 A.D”.

Com este legado em mente, Adil não se conteve perante a presença de uma portuguesa no forte. A visita demoraria mais de uma hora, com Adil, sem qualquer tipo de ressentimentos, a revelar-se um anfitrião orgulhoso do património do seu país — o Forte de Nakhal é anterior à era islâmica. E na hora da despedida, o omanita voltou a ser genuíno: “Olha que eu estava a brincar… Volta sempre, minha amiga!”
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de abril de 2009. Pode ser consultado aqui