Os portugueses, esses invasores…

A chegada de Afonso de Albuquerque a Ormuz, no século XVI, é, para os portugueses, motivo de exaltação. Mas a história omanita não é meiga com os nossos navegadores. Reportagem em Omã

Fotografia aérea do Palácio do Sultão Qaboos, em Mascate, em que se vê um dos antigos fortes portugueses MARGARIDA MOTA

“Portuguesa? Ah, parece que temos uns problemazitos entre nós…” A recepção ao “Expresso” no Forte de Nakhal, cerca de 120 quilómetros a sudoeste de Mascate, não foi, à primeira vista, calorosa. Adil, o guia de serviço, acabava de ser informado que uma portuguesa queria visitar aquele que é um dos fortes mais antigos de Omã e descaiu-se. Afinal de contas, nos livros de história omanitas, Portugal é descrito como um invasor que atentou contra o território.

No início do século XVI, Afonso de Albuquerque tomou Ormuz, estendendo posteriormente o domínio português a outros pontos da costa do território de Omã, incluindo Mascate. Precisamente na capital, erguem-se ainda hoje os fortes Jalali e Mirani, construídos pelos portugueses — no meio deles está o Palácio do Sultão Qaboos.

Ilustração portuguesa mostra a muralha em redor da cidade de Mascate. A informação disponibilizada pelo Centro Bait Al Baranda estima que a representação foi feita em 1622, ano em que a muralha foi construída MARGARIDA MOTA

Não muito longe, no Centro Bait Al Baranda — um museu interactivo sobre a evolução de Mascate, desde a era da formação geológica dos continentes até à actualidade — é possível ouvir-se uma gravação em português da descrição que Afonso de Albuquerque fez daquela praça estratégica. Quanto à informação escrita que é disponibilizada aos visitantes, ela não é nada meiga com os nossos navegadores… “Os portugueses invadiram e ocuparam Mascate em 1507 A.D. Bombardearam a cidade e aterrorizaram a população. Foi só após o estabelecimento do estado de Yaaruba que os omanitas recuperaram Mascate e a libertaram dos portugueses, em 1650 A.D”.

Transcrição dos termos em que portugueses e omanitas celebraram a paz. Informação disponibilizada pelo Centro Bait Al Baranda, de Mascate MARGARIDA MOTA

Com este legado em mente, Adil não se conteve perante a presença de uma portuguesa no forte. A visita demoraria mais de uma hora, com Adil, sem qualquer tipo de ressentimentos, a revelar-se um anfitrião orgulhoso do património do seu país — o Forte de Nakhal é anterior à era islâmica. E na hora da despedida, o omanita voltou a ser genuíno: “Olha que eu estava a brincar… Volta sempre, minha amiga!”

Artigo publicado no Expresso Online, a 27 de abril de 2009. Pode ser consultado aqui

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