Mulheres de Omã

A maioria das mulheres omanitas cobre o cabelo com o véu. Mas também há as que não se tapam e as que, ainda que bastante tapadas, se recusam a sentar ao lado de homens. Reportagem em Omã

Mulheres às compras num mercado de Mascate MARGARIDA MOTA

Desculpe, não se importa de trocar de lugar? Estão ali duas senhoras que não querem fazer a viagem sentadas ao lado de um homem! Não questionei o pedido que a hospedeira da Oman Air me fez e acedi. Chegada ao meu novo lugar, vi que duas mulheres trajando o hijab o lenço usado por muitas muçulmanas que pode deixar à vista apenas os olhos seriam as minhas companheiras de voo, entre Mascate e Salalah, a segunda cidade de Omã, no Sul. Assim que me sentei, ambas me olharam, como que a agradecer, e uma disse-me, em inglês: Obrigada por compreender!

Observando as mãos das mulheres porque pouco mais do corpo estava à vista , conseguia perceber que uma era jovem e a outra mais velha, provavelmente mãe e filha. Durante a viagem, que durou cerca de hora e meia, mal falaram. A mais nova ocupou o tempo fazendo exercícios de Sudoku. A mais velha ia dormitando e lançando o olhar na direcção da janela. Quando foi servida a refeição, a mais nova levantou o véu para comer. A mais velha subia e descia o lenço à medida que metia mais uma colherada à boca.

Quando o avião aterrou em Salalah, a mais velha, de unhas pintadas, nas mãos e pés, apressou-se a ligar o telemóvel. De seguida, tirou um espelho da carteira para observar o rosto…, retocou o rímel, perfumou-se por debaixo do véu e meteu uma pastilha elástica à boca. A mais nova guardou o livro de Sudoku na mala do computador portátil e saiu atrás da mais velha. Perguntei, então, à hospedeira qual a razão daquela situação. Ela respondeu: As mulheres de Salalah não gostam de se sentar ao lado de homens que não sejam da sua família, presume-se.

Apenas olhos e mãos ficam destapadas no corpo desta omanita de Salalah MARGARIDA MOTA

Um dia passado em Salalah foi suficiente para perceber que as mulheres locais vestem de forma incomparavelmente mais conservadora do que as da capital. Em Mascate, a maioria das mulheres cobre o cabelo, mas muitas há que não se cobrem e não são, por isso, apontadas a dedo. Em Omã, as mulheres podem escolher a profissão que querem há quatro ministras no governo e não são obrigadas a observar regras quanto à forma de vestir. A não ser as regras ditadas pela própria família…

Artigo publicado no Expresso Online, a 28 de abril de 2009. Pode ser consultado aqui

NOTA: Este artigo foi reproduzido no manual de Filosofia “Clube das Ideias 10”, de Carlos Amorim e Catarina Pires, Areal Editores

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