Cavaco Silva acredita na adesão do país à União Europeia. Reportagem na Turquia

A expectativa é grande e a confiança maior ainda. Os turcos esperam que, logo à noite, a Europa se renda à sua canção no Eurofestival. Se tal acontecer, até perdoam a Hadise, a vistosa intérprete, a escolha da indumentária. “Os turcos não gostam do vestido. É demasiado oriental e pouco europeu”, diz uma jornalista da Fox turca. “Teve mais importância nos jornais do que a visita do vosso Presidente. Nós já sabemos que Portugal apoia a Turquia. Diferente seria se fosse Merkel ou Sarkozy a dizê-lo…”
França, Alemanha, Áustria e Holanda são os que mais reticências colocam à entrada da Turquia na União Europeia. O país é enorme e, em breve, será também o mais populoso. Para os turcos, esta rejeição é incompreensível: com uma taxa de crescimento anual de 7%, eles têm a 15.ª economia do mundo. Só uma pequena parte do território turco se situa na Europa, mas os turcos dizem sentir-se europeus. A Turquia já tem uma união aduaneira com a UE, disputa as competições da UEFA e integra o programa Erasmus, ao abrigo do qual 185 turcos estudam em universidades portuguesas. Em 2010, Istambul será Capital Europeia da Cultura.
Se o medo é o Islão — a Turquia é um Estado laico, com população maioritariamente muçulmana e um partido islâmico no poder —, há aspectos que nem um governo islâmico consegue erradicar. A bebida nacional é o raki, que tem 45% de álcool, e o fim-de-semana observa-se ao sábado e domingo. E o facto da primeira-dama ser acérrima defensora do véu, não faz lei. Entre as 250 pessoas que assistiram à conferência de Cavaco na Universidade do Bósforo, havia uma única aluna velada.
Cavaco Silva mantém a certeza: “Margaret Thatcher, que se sentava ao meu lado nos Conselhos da UE, costumava dizer: ‘Uma moeda única, nunca! Usarei o veto!’ Como vêem, não conseguiu. Nem sempre os países grandes levam a sua avante”.
Artigo publicado no “Expresso”, a 16 de maio de 2009




