Cavaco na Turquia… para seduzir

O Presidente da República inicia hoje uma visita oficial à Turquia. Cavaco Silva quer reafirmar o apoio português à adesão da turca à União Europeia e cativar o interesse dos empresários locais. Reportagem na Turquia

Cavaco Silva à conversa com os jornalistas, a bordo do avião que o levou para a Turquia MARGARIDA MOTA

O Presidente da República inicia hoje uma visita oficial à Turquia. Cavaco Silva quer reafirmar o apoio português à adesão da turca à União Europeia e cativar o interesse dos empresários locais. Reportagem na Turquia

A tripulação da SATA mal tinha acabado de servir o almoço quando Cavaco Silva irrompeu pelo corredor do avião, para cumprimentar quem o acompanhava na visita oficial à Turquia — que se inicia hoje.

Quando chegou junto dos jornalistas, deixou-se ficar e, como que retomando os antigos hábitos de professor, discorreu sobre as lições que a Turquia deve tirar do processo português de adesão à União Europeia. Portugal esperou sete anos para aderir à Comunidade.

“As negociações entre a União Europeia e a Turquia só começaram em 2005. A Turquia tem de ter paciência e tem de seduzir a União Europeia, sobretudo a França, a Alemanha e a Áustria, mostrando as suas potencialidades. Foi o que Portugal fez durante sete anos”, afirmou.

Para além do apoio português à integração da Turquia na União Europeia, o Presidente da República partiu para esta viagem — um convite do seu homólogo turco, Abdullah Gul — com vontade de dinamizar as relações comerciais entre os dois países, deficitárias para Portugal.

Na comitiva, seguem cerca de 30 empresários, de áreas tão variadas quanto a construção, a biotecnologia ou a enologia.

Em declarações ao Expresso, Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), enumera as mais-valias do mercado turco para os empresários portugueses: “É uma das maiores economias do mundo. É um mercado de dezenas de milhões de pessoas, com uma classe média em crescimento”.

“Tem grupos muito ricos, com um grande poder de compra. E está numa região muito importante para nós. Faz fronteira com o Irão, por exemplo, onde, muito recentemente, uma missão económica da Associação Empresarial de Portugal (AEP) teve muitos bons resultados”, revela.

Precisamente na próxima quinta-feira, Cavaco Silva participará no encerramento do Seminário Económico Portugal-Turquia, que decorrerá em Istambul. Terá, então, um palco privilegiado para cativar o interesse dos empresários turcos pelo mercado português.

A atenção dos turcos, essa, Cavaco já cativou. Na sua edição de segunda-feira, o “Today’s Zamam”, um dos mais importantes jornais turcos (em língua inglesa), que foi a Lisboa entrevistar o chefe de Estado português, dedicava-lhe a manchete: “A Europa precisa da Turquia, do seu entusiasmo”, disse o Presidente português. Cavaco já começou a seduzir.

Artigo publicado no Expresso Online, a 12 de maio de 2009. Pode ser consultado aqui

O cheiro que “Os Lusíadas” consagraram

Beneficiando de um clima tropical único, a árvore do incenso cresce de forma selvagem no Sul de Omã. Em 2000, a UNESCO inscreveu esta resina na lista de património da humanidade. Reportagem em Omã

Árvore do incenso, no sul de Omã MARGARIDA MOTA

“És cristã? Sabes que quando Jesus nasceu, o nosso rei foi a Belém oferecer-lhe incenso?” Em frente a uma loja de incenso no “suq” de Salalah (cerca de 1000 km a Sul de Mascate), Abdullah não se privou de recorrer à lenda de que os Três Reis Magos terão atravessado o actual território de Omã a caminho de Belém, para demonstrar o valor histórico daquele bem.

Apreciado nos mais antigos impérios e civilizações, onde chegou a ser mais valioso do que o ouro, o incenso é uma resina extraída, através de uma incisão, dos troncos de uma árvore chamada “Boswellia sacra”. Usado na medicina tradicional, na indústria de perfumes e em actos religiosos, é, ainda hoje, um produto de exportação para Omã.

Neste Sultanato, a árvore do incenso cresce, de forma selvagem e sem intervenção humana, na região de Dhofar, no Sul. Devido às monções que fazem com que durante três meses do ano (Junho, Julho e Agosto), esta região mais pareça a Irlanda, com prados e montanhas verdejantes , Dhofar tem um clima único, que a diferencia geograficamente do resto do país.

A 2 de Dezembro de 2000, a UNESCO inscreveu a “Terra do Incenso” na sua lista de Património Mundial da Humanidade. Esse reconhecimento já, 500 anos antes, Luís Vaz de Camões o fizera no Canto X de “Os Lusíadas”:

“Olha Dófar, insigne porque manda

O mais cheiroso incenso pera as aras;

Mas atenta: já cá destoutra banda

De Roçalgate, e praias sempre avaras,

Começa o reino Ormuz, que todo se anda

Pelas ribeiras que inda serão claras

Quando as galés do Turco e fera armada

Virem de Castelbranco nua a espada.”

Artigo publicado no Expresso Online, a 3 de maio de 2009. Pode ser consultado aqui

Por que não há piratas no Golfo Pérsico?

Contrariamente ao Golfo de Aden, no lado oposto da Península Arábica não há piratas. A Marinha de Omã é soberana na monitorização do tráfego marítimo. Reportagem em Omã

Se, nos dias que correm, o Golfo de Aden tornou-se uma armadilha para a marinha mercante que percorre o Mar Vermelho, é legítimo questionar por que razão o fenómeno da pirataria não se repete no Golfo Pérsico, no lado oposto da Península Arábica. Provavelmente, porque Aden não é longe da Somália, responde Said bin Khalfan Al-Harthy, assessor no Ministério da Informação, em entrevista ao Expresso. Julgo que a pirataria não é um problema crónico. Pode ser ultrapassado, mas os países envolvidos nesta ameaça têm de colaborar, têm de ir à raiz do problema, diz. Ou seja, enfrentar a situação que se vive na Somália, um Estado em progressiva desagregação.

Em matéria de navegação, os omanitas sabem do que falam. Nós somos um dos guardiães do Estreito de Ormuz, continua Al-Harthy. De frente para o Irão, a Península de Musandam território omanita encrostado nos Emiratos Árabes Unidos penetra no mar e afunila a passagem dos petroleiros que descem o Golfo Pérsico. No Estreito, cabe à Marinha Real de Omã a monitorização do trânsito e a segurança dos petroleiros.

Ao dominar Ormuz, Omã domina uma das rotas comerciais marítimas mais antigas e mais importantes do mundo. Os portugueses perceberam-no no século XVI e os Estados Unidos mais recentemente… Na Península de Musandam, está instalada uma base militar norte-americana.

Artigo publicado no Expresso Online, a 1 de maio de 2009. Pode ser consultado aqui