Fotogaleria: muçulmanos cumprem a peregrinação anual a meca

Quinto pilar da fé islâmica, a grande peregrinação anual ao recinto sagrado de Meca, na Arábia Saudita, é recomendada a todo o muçulmano pelo menos uma vez na vida. Vindos do mundo inteiro, milhões de muçulmanos cumprem vários rituais que comportam uma intensa carga simbólica e emocional

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Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

Sheikh Munir entre os 500 mais influentes

O imã da mesquita de Lisboa está entre os muçulmanos mais influentes em todo o mundo. Um reconhecimento que decorre do seu trabalho em prol do diálogo inter-religioso

David Munir, o imã da mesquita de Lisboa, foi considerado um dos 500 muçulmanos mais influentes em todo o mundo. A distinção consta de um índice publicado pelo Real Centro de Estudos Estratégicos Islâmicos, da Jordânia que destaca o envolvimento do sheikh Munir no diálogo inter-religioso com membros das outras fés abraâmicas. Recebi a notícia com grande satisfação, reagiu ao Expresso o sheikh Munir. Compartilho esta honra com todos os portugueses.

À frente da mesquita de Lisboa desde os 23 anos hoje, tem 46 , o imã recorda a visita do Dalai Lama ao templo islâmico, em Setembro de 2007, como um exemplo de uma manifestação inter-confessional. O líder espiritual dos budistas tibetanos participou num encontro que reuniu budistas, muçulmanos, judeus, cristãos, hindus e bahais e afirmou ter vivido uma experiência única e memorável. Já viajei por muitos países, mas foi a primeira vez que fui recebido numa mesquita. Paralelamente, o sheikh Munir destaca todo o trabalho desenvolvido pelo Fórum Abrâamico, uma associação criada por membros das comunidades judaica, cristã e islâmica portuguesas.

O ranking dos 500 muçulmanos mais influentes é liderado pelo rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdul Aziz Al Saud, que é o guardião dos lugares santos do Islão de Meca e Medina. Segue-se o grande ayatollah Ali Khamenei, líder espiritual do Irão, e Mohammed VI, rei de Marrocos que ostenta o título de Comandante dos Crentes. No quinto posto surge Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, e o Aga Khan, líder espiritual da comunidade ismaelita, aparece no 20º posto.

Publicada agora pela primeira vez, e editada pelos professores John Esposito e Ibrahim Kalin da Universidade Georgetown, de Washington, a publicação dedica ainda um capítulo às muçulmanas. Entre as 41 mulheres destacadas estão Zahra Rahnavard, mulher do candidato derrotado à presidência do Irão Mir-Hossein Mousavi, Norah Abdallah al Faiz, a primeira saudita a integrar um conselho de ministros, e Rebiya Kadeer, a líder do movimento em defesa do povo uighur, na China.

Artigo publicado no Expresso Online, a 25 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

“Ou me deixam regressar ou faço jejum até à morte”

Chamam-lhe a Gandhi saraui. Foi impedida de entrar no seu Sara Ocidental e “exilada” em Lanzarote. Promete levar a greve de fome até às últimas consequências

Aminetu Haidar faz o rei de Marrocos ajoelhar-se para colocar no seu passaporte o carimbo da cidadania sarauí CARLOS LATUFF

Aminetu Haidar, uma destacada defensora da resistência pacífica no Sara Ocidental, completa hoje 12 dias em greve de fome, no aeroporto de Lanzarote. A ex-presa política saraui viajava desde Nova Iorque, onde recebera o Prémio da Coragem Civil 2009 concedido da Fundação John Train, quando, no aeroporto de El Aiun, a capital do Sara Ocidental, foi detida pelas forças marroquinas, que ocupam o território. Interrogada durante horas, recusou-se, diz Marrocos, a declarar-se “marroquina”, sendo expulsa para as Canárias, sem passaporte nem telemóvel.

Em Lanzarote, recusou baixar do avião durante 20 minutos, até ser forçada pelos agentes espanhóis, apesar de não ter passaporte. Em declarações ao “El País”, a activista acusa as autoridades espanholas de cumplicidade com Marrocos. Acusou o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros de estar ao corrente de tudo e disse que quando a polícia a instou a baixar do avião já havia uma autorização de residência preparada. Em declarações à Cadena SER, o ministro Miguel Ángel Moratinos disse que Madrid “facilitou a sua chegada para oferecer-lhe tratamento médico”.

Se não a deixarem regressar a El Aiun, onde esta divorciada de 42 anos reside com os dois filhos, ela parece determinada em levar o seu protesto até às últimas consequências: “Continuarei em greve de fome até que o Governo espanhol me deixe ir para casa ou até à morte”.

Conhecida como a Gandhi saraui, devido à determinação com que defende a utilização da arma da desobediência cívica contra a ocupação marroquina do Sara Ocidental —, Aminetu foi, em 1987, um dos 700 manifestantes detidos por participar numa manifestação pacífica em que se reclamava o referendo de autodeterminação. Foi dada como “desaparecida”, não tendo sido apresentada a tribunal nem confirmada a sua prisão. Até 1991, permanecem em centros de detenção secretos, juntamente com outras 17 mulheres sarauis, sendo sujeita a diversas formas de tortura. Foi libertada em 2005.

Recorde-se que o Sara Ocidental — uma antiga colónia espanhola com fronteiras com Marrocos, Argélia e Mauritânia e bordejado pelo oceano Atlântico — é o único território africano a aguardar pela auto-determinação. Hoje, Marrocos, o movimento independentista da Frente Polisário e o governo da República Árabe Sarauí Democrática (RASD) — os dois últimos apoiados pela Argélia — disputam o controlo e o futuro deste território. A RASD é membro de pleno direito da União Africana.

Este caso envolvendo Aminetu Haidar surge na sequência da detenção, a 8 de Outubro, de sete activistas sarauis dos direitos humanos, na cidade marroquina de Casablanca. Regressavam de uma visita aos campos de refugiados sarauis em Tinduf, na Argélia, e foram acusados de traição à pátria e de atentado contra a soberania e integridade territorial de Marrocos. Os sete detidos enfrentam um julgamento num tribunal militar, que poderá concluir na aplicação da pena capital.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 25 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

“Temos infraestruturas, falta cultura desportiva”

Num debate sobre “100 anos de olimpismo em Portugal”, falou-se de feitos desportivos e de dificuldades organizativas. Carlos Lopes recordou como, há 25 anos, sabia que a vitória na maratona em Los Angeles não lhe ia escapar…

ILUSTRAÇÃO DEVANATH / PIXABAY

Durante dois anos e meio Carlos Lopes não pensou noutra coisa… “Fui para Los Angeles para ganhar a maratona. Tinha-a preparado ao detalhe durante dois anos e meio, observado os adversários… No ano anterior aos Jogos, corri 12 mil quilómetros. O meu grande objectivo era ser campeão olímpico!”, recorda.

A 12 de Agosto de 1984, desde que soou o tiro de partida para a corrida mais longa do atletismo, o maratonista nascido em Vildemoinhos (Viseu) limitou-se a fazer a sua corrida. Concluiu o percurso em 2h09m21s. “Se tivesse tido necessidade de fazer menos tempo, teria feito!”, continua a relembrar.

Na segunda-feira à noite, Carlos Lopes falou dessa determinação na palestra “100 anos do olimpismo em Portugal”, organizada pelo curso de Administração e Gestão Desportiva da Universidade Autónoma de Lisboa.

Marco histórico alterou filosofia

Essa vitória foi um marco da história olímpica portuguesa — pela primeira vez, um atleta luso ganhava uma medalha de ouro — e da própria filosofia das participações do país nos Jogos. Se até então o objectivo era participar — fazendo jus aos ideais do barão Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna —, a partir dos anos 1980 começou a ser imposto um limite qualitativo mínimo à participação dos atletas.

As condições melhoraram a partir dos Jogos de Barcelona de 1992, quando passou a haver um apoio directo a atletas e treinadores. Mas devido à proximidade geográfica com Barcelona, Portugal quis deslumbrar…

“Barcelona era aqui ao lado, tínhamos de nos mostrar. Levámos quase 100 atletas mas não trouxemos uma única medalha. Foram desistências atrás de desistências…”, recordou Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), outro participante no encontro.

 

Dentro do avião, durante a viagem de regresso a Lisboa, Vicente Moura foi confrontado com um pedido insólito por parte da equipa olímpica. “Pediram-me que os autorizasse a despir a farda oficial. Estavam envergonhados e queriam passar incógnitos no aeroporto…” E assim foi.

Preparação custa dinheiro

A cumprir o seu quinto mandato à frente do COP, Vicente de Moura referiu que a gestão diária do COP é difícil, mas disse ter “excelentes relações com todas as federações, sem excepção”. O grande obstáculo ao funcionamento do COP prende-se com a questão do financiamento.

Recusada que foi, no passado, a possibilidade de o Comité ter uma fonte de financiamento fixa proveniente das receitas do Totoloto, a estrutura fica mais dependente de patrocinadores. ” À velha maneira portuguesa, os sponsors aparecem mais nos anos próximos aos Jogos…” — quando, na realidade, os apoios são necessários durante toda a fase de preparação dos atletas. “‘Ainda falta muito para os Jogos’, costumo ouvir. ‘Volte a falar quando lá chegarmos…'”, lamentou-se Vicente de Moura.

Orçado em 14,6 milhões de euros, o projecto olímpico Londres/2012 — envolvendo 90 atletas — está já em desenvolvimento. Todos os meses, o COP distribui uma verba entre 170 e 180 mil euros por atletas e federações.

“Receber o dinheiro a tempo e horas cria estabilidade para os atletas. Todas as condições que lhes dermos nunca são demais”, disse o presidente do COP. O comandante referiu ainda que a isentação de IRS da bolsa dos atletas foi uma conquista importante e que, apesar da crise, o financiamento ao programa olímpico tem-se mantido.

Suar ou jogar playstation?

Porém, o desporto escolar é insuficiente: “Em Portugal, não consigo sequer compreender que percentagem do PIB o Estado dedica ao desporto. Fiz uns cálculos… julgo andar à volta dos 0,8%. É pouco”, insistiu.

O Brasil, por exemplo, tem um programa de “detecção de talentos” da responsabilidade do Ministério da Educação. “Os talentos estão nas aulas de Educação Física”, concordou o judoca Nuno Delgado (medalha de bronze nos Jogos de Sydney/2000), também presente no debate. “Mas a maioria dos miúdos prefere ir jogar Playstation…”

Nuno Barreto (medalha de bronze, com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta/1996, em vela) e presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, estabeleceu um paralelismo entre o seu próprio percurso e a realidade que hoje observa: “Eu só comecei a sair para o mar acompanhado de treinador três anos antes dos Jogos. Durante muitos anos, fui para o mar sozinho. Hoje, os miúdos não querem ir para dentro de água sem treinador, ao frio, à chuva… Preferem ficar em casa”.

A falta de “cultura desportiva” é, porventura, um dos maiores obstáculos à obtenção de mais e melhores resultados desportivos. Nuno Delgado defendeu que não faltam boas infraestruturas desportivas em Portugal. “O problema é que não estão bem distribuídas. Não são rentabilizadas até ao limite”, disse o judoca, que dirige a sua própria escola de judo.

Conclusão de Vicente de Moura: “O desporto evoluiu. Portugal progrediu. O drama é que os outros também progridem…”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

Negociar com os talibãs é uma possibilidade prática?

No Afeganistão, a nova estratégia dos EUA é reforçar tropas para forçar negociações com os talibãs. Mas pode falhar devido à teimosia do líder Mullah Omar

CARLOS LATUFF / WIKIMEDIA COMMONS

Podem ser dez mil, 20 mil ou mesmo 40 mil militares. Barack Obama tem sobre a mesa várias opções para atacar o desafio afegão que passam, invariavelmente, pelo reforço do contingente no terreno. Mas não só. “Não há uma solução puramente militar para a situação no Afeganistão. Precisamos também de uma solução política”, afirmou ao Expresso David Auerswald. Este professor do National War College inaugurou esta semana, em Lisboa, o ciclo de conferências “Visões Globais para a Defesa” do Instituto de Defesa Nacional.

“Entre os talibãs, há elementos com quem é possível a reconciliação. Outras facções não querem participar num processo político. Com os primeiros, é possível obter um acordo; com os últimos, não me parece. Temos de olhar para os vários grupos que apoiam a insurgência. A mesma estratégia não funciona necessariamente para todos. É preciso talhá-la para cada grupo individualmente”, diz Auerswald.

Desde que, em Março, Barack Obama afirmou que “parte do sucesso no Iraque passou pelo envolvimento de pessoas (até então) consideradas fundamentalistas islâmicas”, coloca-se uma questão: o diálogo político com os talibãs é prioritário? Numa entrevista telefónica ao Expresso, Bruce Riedel, ex-agente da CIA que liderou, na Primavera, a primeira revisão à estratégia de Obama para o Afeganistão, disse: “Estou céptico em relação à possibilidade de um acordo político com a liderança talibã. Mullah Omar não está interessado nisso, mas, antes, na retirada das forças estrangeiras e na construção do Emirado Islâmico do Afeganistão. Não mostrou interesse em partilhar poder com o Governo afegão, que considera traidor”.

Quando lhe é perguntado se a Administração Obama considera Mullah Omar um parceiro de conciliação, Riedel é seco: “Não!” Para este investigador do Brookings Institute, de Washington, “a estratégia política mais frutífera passa por tentar dividir os talibãs, separando o núcleo duro da liderança dos operacionais e elementos tribais no terreno. Estes, no presente, apoiam os talibãs porque têm, em grande medida, a percepção de que eles estão a ganhar”. Se, no próximo ano, a dinâmica de vitória se inverter, “muitos operacionais mudarão de campo ou, simplesmente, ficarão em casa. Seguir o vencedor é um padrão antigo dos combates no Afeganistão. Neste momento, os talibãs estão a ganhar. Ninguém vai desertar…”

Na sua última mensagem, a 19 de Setembro, Mullah Omar afirmou que o combate contra as forças estrangeiras “está à beira da vitória”. Riedel comenta: “Ele está confiante de que a NATO será derrotada no Afeganistão como foi a União Soviética”. Poder-se-ia pensar que, a troco de poder político, Mullah Omar pudesse entregar a cabeça de Osama bin Laden. “Nos últimos 13 anos, ele teve muitas oportunidades para acabar com Bin Laden. Recusou-se sempre a fazê-lo. Pensar que o fará é acreditar num conto de fadas”.

Artigo publicado no Expresso, a 14 de novembro de 2009