Negociar com os talibãs é uma possibilidade prática?

No Afeganistão, a nova estratégia dos EUA é reforçar tropas para forçar negociações com os talibãs. Mas pode falhar devido à teimosia do líder Mullah Omar

CARLOS LATUFF / WIKIMEDIA COMMONS

Podem ser dez mil, 20 mil ou mesmo 40 mil militares. Barack Obama tem sobre a mesa várias opções para atacar o desafio afegão que passam, invariavelmente, pelo reforço do contingente no terreno. Mas não só. “Não há uma solução puramente militar para a situação no Afeganistão. Precisamos também de uma solução política”, afirmou ao Expresso David Auerswald. Este professor do National War College inaugurou esta semana, em Lisboa, o ciclo de conferências “Visões Globais para a Defesa” do Instituto de Defesa Nacional.

“Entre os talibãs, há elementos com quem é possível a reconciliação. Outras facções não querem participar num processo político. Com os primeiros, é possível obter um acordo; com os últimos, não me parece. Temos de olhar para os vários grupos que apoiam a insurgência. A mesma estratégia não funciona necessariamente para todos. É preciso talhá-la para cada grupo individualmente”, diz Auerswald.

Desde que, em Março, Barack Obama afirmou que “parte do sucesso no Iraque passou pelo envolvimento de pessoas (até então) consideradas fundamentalistas islâmicas”, coloca-se uma questão: o diálogo político com os talibãs é prioritário? Numa entrevista telefónica ao Expresso, Bruce Riedel, ex-agente da CIA que liderou, na Primavera, a primeira revisão à estratégia de Obama para o Afeganistão, disse: “Estou céptico em relação à possibilidade de um acordo político com a liderança talibã. Mullah Omar não está interessado nisso, mas, antes, na retirada das forças estrangeiras e na construção do Emirado Islâmico do Afeganistão. Não mostrou interesse em partilhar poder com o Governo afegão, que considera traidor”.

Quando lhe é perguntado se a Administração Obama considera Mullah Omar um parceiro de conciliação, Riedel é seco: “Não!” Para este investigador do Brookings Institute, de Washington, “a estratégia política mais frutífera passa por tentar dividir os talibãs, separando o núcleo duro da liderança dos operacionais e elementos tribais no terreno. Estes, no presente, apoiam os talibãs porque têm, em grande medida, a percepção de que eles estão a ganhar”. Se, no próximo ano, a dinâmica de vitória se inverter, “muitos operacionais mudarão de campo ou, simplesmente, ficarão em casa. Seguir o vencedor é um padrão antigo dos combates no Afeganistão. Neste momento, os talibãs estão a ganhar. Ninguém vai desertar…”

Na sua última mensagem, a 19 de Setembro, Mullah Omar afirmou que o combate contra as forças estrangeiras “está à beira da vitória”. Riedel comenta: “Ele está confiante de que a NATO será derrotada no Afeganistão como foi a União Soviética”. Poder-se-ia pensar que, a troco de poder político, Mullah Omar pudesse entregar a cabeça de Osama bin Laden. “Nos últimos 13 anos, ele teve muitas oportunidades para acabar com Bin Laden. Recusou-se sempre a fazê-lo. Pensar que o fará é acreditar num conto de fadas”.

Artigo publicado no Expresso, a 14 de novembro de 2009

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *