A nova vida da Al-Qaeda

A organização de Osama Bin Laden aperfeiçoou a táctica e revela cada vez maior sentido de oportunidade. A edição de Fevereiro do “Courrier Internacional”, desde hoje à venda, analisa a nova estratégia da Al-Qaeda bem como os fenómenos que a alimentam

Nos últimos anos, por várias vezes, altos responsáveis norte-americanos anunciaram a derrota iminente da Al-Qaeda. A tentativa de atentado contra um avião da Northwest Airlines, no dia de Natal, e a morte de sete operacionais da CIA, no Afeganistão, num ataque suicida perpetrado por um informador de confiança da secreta americana, poucos dias depois, contrariam este cenário e projectam uma Al-Qaeda revigorada.

A edição de Fevereiro do “Courrier Internacional” apresenta-lhe um dossiê sobre a organização de Osama Bin Laden, em que se destaca uma análise de Bruce Hoffman, professor de Estudos de Segurança na Universidade de Georgetown aos cinco pilares da nova estratégia da Al-Qaeda. “Ao contrário dos planos do 11 de Setembro, que visavam levar os EUA ao tapete, a liderança da Al-Qaeda evoluiu para uma abordagem do tipo ‘morte por mil golpes'”, defende Hoffman.

Neste dossiê, é dada também uma atenção especial ao Iémen, que a “Foreign Policy” designa de Alqaidistão. Em 2010, o país assinala o 20.º aniversário da sua unificação nacional, sob a ameaça do desmembramento. Uma rebelião xiita expande-se a Norte e a ameaça separatista renova-se no Sul. Paralelamente, os lençóis freáticos iemanitas foram praticamente consumidos por anos de más práticas agrícolas e as reservas de petróleo estão a esgotar-se. Escreve a revista: “Enquanto o Presidente dos EUA se preocupa em tentar acabar com os refúgios terroristas em Jalalabad e no Waziristão, outros vão surgindo aqui, em Marib, Shabwa e Al-Jawf”.

O “Courrier Internacional” analisa ainda como a aliança entre Washington e Islamabad colocou o Paquistão na mira dos jihadistas – uma situação da qual a Al-Qaeda procura tirar dividendos. São ainda publicados artigos do jornal árabe “Al-Hayat”, sedeado em Londres, que explicam como a Al-Qaeda se alimenta da instabilidade crónica de alguns países muçulmanos e de como as ofensivas militares contra a organização terrorista contribuem para exacerbar os sentimentos anti-ocidentais das populações civis.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de janeiro de 2010. Pode ser consultado aqui

Talibãs chamados a participar

Reunidos em Londres, representantes de cerca de 70 governos e organizações internacionais aprovaram uma nova estratégia para o Afeganistão. Um fundo foi criado para pagar a talibãs que aceitem depor as armas. Reportagem na Conferência de Londres sobre o Afeganistão

O conflito no Afeganistão entrou numa nova fase. “Esta Conferência marca o início do processo de transição, distrito a distrito, província a província” e do “processo de transferência de responsabilidades das forças de segurança internacionais para as forças afegãs”, afirmou hoje o primeiro-ministro Gordon Brown, durante o encontro que levou à capital britânica, Londres, cerca de 70 ministros dos Negócios Estrangeiros e representantes de 70 países e organizações internacionais.

A “afeganização” da nova estratégia internacional passa pela consolidação das instituições afegãs — prioritariamente as forças de segurança — para que assumam “a responsabilidade de combater o terrorismo e o extremismo e para que as nossas forças possam começar a regressar a casa”, disse Brown. A presença das tropas britânicas no Afeganistão é um assunto sensível no Reino Unido, sobretudo após a morte em combate de mais de 100 militares britânicos, durante 2009.

A nova abordagem deste conflito combina, fundamentalmente, três eixos: o reforço dos contingentes militares internacionais, incluindo o português; o reforço da componente civil dos esforços de estabilização; e o início de um processo de reintegração social de combatentes talibãs. “Temos de os trazer de volta à sociedade e dar-lhes uma perspectiva de futuro, emprego, educação…”, afirmou Rangin Spanta, ministro dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão durante o primeiro mandato do Presidente Hamid Karzai.

Depor as armas em troca de dinheiro

Um fundo para este efeito foi especialmente criado, tendo a comunidade internacional disponibilizado, para o primeiro ano de funcionamento, 140 milhões de dólares (quase 100 milhões de euros). Recorrendo a este fundo, o Governo procurará que afegãos que presentemente combatem ao lado dos talibãs deponham as armas em troca de dinheiro, de um emprego ou de um pedaço de terra para cultivar. Este fundo irá “providenciar uma alternativa económica àqueles que não tem nenhuma.

Quanto aos insurgentes que recusarem aceitar estas condições de reintegração, não teremos outra escolha que não seja combatê-los militarmente”, afirmou Brown. Ao abrigo deste programa de reintegração, os insurgentes terão de renunciar à violência, cortas os laços com a Al-Qaeda e demais grupos terroristas, respeitar a Constituição afegã e encarar objectivos políticos pacificamente.

Paralelamente, serão feitos investimentos nas forças de segurança afegãs, designadamente ao nível da formação. As metas aprovadas em Londres prevêem que em Outubro de 2010, o Exército afegão (ANA) seja constituído por 134 mil homens e, um ano depois, por 171.600. Igualmente, está previsto uma reforma da Polícia Nacional Afegão (ANP) que deverá concluir num aumento dos efectivos de 109 mil, em Outubro de 2010, para 134 mil em Outubro de 2011.

Sancionar funcionários corruptos

A Conferência de Londres acordou ainda num conjunto de medidas destinadas a combater a corrupção — um fenómeno ao mais alto nível que, de resto, Hamid Karzai já reconheceu. O Presidente afegão nomeou um gabinete independente para investigar e sancionar funcionários corruptos. E afirmou a intenção de aprovar um decreto proibindo que familiares de ministros, deputados, governadores e outras entidades possam trabalhar em sectores como a alfândega ou as finanças.

O Afeganistão tem eleições legislativas marcadas para 17 de Setembro. Antes disso, uma nova conferência internacional deverá reunir em Cabul para lançar projectos de concretização das directrizes aprovadas em Londres. Como preparação a esse encontro na capital afegã, está já agendada uma “jirga” (grande assembleia de chefes tradicionais) para concertar a posição afegã. Com ou sem a participação dos líderes talibãs?

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 28 de janeiro de 2010. Pode ser consultado aqui