Um dos principais rostos da oposição a Hosni Mubarak foi, ontem, ao encontro dos manifestantes no centro do Cairo. E prometeu lutar pelo fim do regime. Reportagem no Egito, com fotos de Jorge Simão

A multidão começava a desmobilizar após o sexto dia de manifestações na praça Tahrir (Liberdade), no centro do Cairo, quando, subitamente, as atenções viraram-se para um novo grupo que se dirigia à praça.
Rodeado por câmaras de televisão, jornalistas e manifestantes eufóricos, Mohammed ElBaradei, um dos principais rostos da oposição ao regime de Hosni Mubarak, rapidamente viu-se afogado numa multidão que não se continha nos gritos de ordem: “O povo quer que o regime venha abaixo!” “Deixa-nos!”, numa clara alusão ao Presidente Hosni Mubarak.
Enquanto esperava para ouvir o que ElBaradei ia dizer, o jovem Hesham explicava ao Expresso porque razão, sendo ele um apoiante da Irmandade Muçulmana, aplaudia o Prémio Nobel da Paz: “Ele é pela mudança! E o povo quer a mudança!” ElBaradei não desapontou Hesham: “Nós apenas temos uma exigência, o fim do regime”, afirmou. “O que começámos não voltará atrás.”
Caças mandam recolher
O aparecimento de ElBaradei junto dos manifestantes foi um final inesperado para um dia de protestos que, apesar do recolher obrigatório marcado para as 16 horas, prolongou-se pela noite dentro. Nem os voos ameaçadores de dois caças da Força Aérea, que ocuparam os céus da praça mal soou as 16 horas fizeram os manifestantes dispersar.
Estes, ao longo da tarde, ora cantavam, ora gritavam slogans a plenos pulmões, ora paravam para rezar. Uns procuravam gravar tudo com o telemóvel, outros seguiam solitários empunhando folhas A4 com as suas palavras de ordem. Comum a todos, o mesmo sentimento: estão fartos de Mubarak.

Vários tanques militares estavam dispersos pelo perímetro da praça. Muitos manifestantes subiam para cima dos blindados para se deixarem fotografar com os militares. Pelo menos numa ocasião, um militar deixou-se levar em ombros pelos manifestantes, ora fazendo o ‘v’ da vitória ora gritando ‘Alá é o maior’!
Os manifestantes elogiam os militares com a mesma convicção com que repudiam a polícia. Uma televisão egípcia noticiou hoje que esquadras de polícia tinham sido abandonadas bem como algumas prisões. Cerca de 1000 criminosos andariam à solta, pilhando e assaltando casas e negócios. Os habitantes do Cairo têm receio e responsabilizam o regime pela abertura das portas das prisões. Dizem que Mubarak quer lançar o caos nas ruas.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de janeiro de 2011. Pode ser consultado aqui