Mubarak não se demitiu, como a praça Tahrir exigia. Digerida a desilusão, os manifestantes querem aproveitar a sexta-feira para voltar a desafiar o Presidente. Reportagem no Egito, com fotos de Jorge Simão

Ainda Hosni Mubarak não terminara o seu discurso à nação e já a Praça Tahrir gritava a uma só voz: “Fora! Fora! Fora!” A notícia de que Mubarak iria falar ao país surgiu a meio da tarde, fazendo disparar os rumores sobre o conteúdo da mensagem. Na praça, esperava-se que ao 17.º dia de contestação, o “rais” abandonasse o poder.
“Ainda não foi hoje. Amanhã cá estarei”, diz Ahmad Ramadan, um designer gráfico de 31 anos, com a cara pintada com as cores da bandeira do Egito. Às primeiras horas da madrugada, a praça ainda não sabia como reagir à rasteira pregada por Mubarak.
“Ainda estamos a discutir o que fazer. Mas talvez depois da oração do meio-dia vamos em marcha até ao palácio presidencial, em Heliopolis”, disse um jovem manifestante. “Vamos pedir-lhe que se vá. Ele e todo o seu Governo, Suleiman incluído. Todos!”

Exército é uma incógnita
A iniciativa dos manifestantes saírem ou não da praça dependerá muito da reação do exército, que tem os seus tanques posicionados nas ruas que dão acesso à praça. Recorde-se que hoje, depois de já ser público que Mubarak iria falar, o Chefe de Estado do Exército, general Sami Eman, dirigiu-se aos manifestantes da praça e disse: “Todas as vossas exigências serão realizadas esta noite.” Não foram.
Sami Eman é um dos membros do Alto Conselho das Forças Armadas para quem se aguardava que Mubarak transferisse os seus poderes, fora da moldura constitucional. Ao abrigo da Lei Fundamental, a demissão de Mubarak obrigaria o Presidente do Parlamento a assegurar as funções do chefe de Estado.
Enquanto continua por esclarecer o papel do exército neste impasse, na praça, nasceu mais um slogan. “Ilegal! Ilegal!” Mubarak está ilegal no poder, porque o povo já não lhe reconhece qualquer autoridade.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de fevereiro de 2011. Pode ser consultado aqui