Conselho de Segurança discute futuro da Síria

Liga Árabe apresenta hoje no Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução que prevê o afastamento de Bashar al-Assad. O regime sírio conta com a proteção da Rússia

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se, hoje à tarde, em Nova Iorque, para discutir um projeto de resolução sobre a crise na Síria, de iniciativa dos países árabes.

Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe, tem prevista uma intervenção para apresentar as grandes linhas da proposta, que passam pelo fim da violência, pela transferência de poderes do Presidente Bashar al-Assad para o seu vice-presidente e pela abertura de negociações com a oposição.

“A renúncia de Assad é a condição para qualquer negociação sobre a transição para um Governo democrático na Síria”, reagiu Burhan Ghalioun, líder do Conselho Nacional Sírio (CNS), que agrupa a oposição ao regime. No passado dia 3, Ghalioun esteve em Lisboa, onde foi recebido por Paulo Portas e solicitou apoio à diplomacia portuguesa.

Portugal é membro não-permanente no Conselho de Segurança para o biénio 2011-2012. O ministro dos Negócios Estrangeiros português estará presente hoje em Nova Iorque, tal como os homólogos dos EUA (Hillary Clinton), França (Alain Juppé) e Reino Unido (William Hague).

Em várias intervenções públicas, Paulo Portas tem-se mostrado favorável a uma “iniciativa árabe” no Conselho de Segurança como saída para a crise na Síria.

Objeções da Rússia

A Rússia tem sido, na comunidade internacional, o grande apoiante do regime de Assad e — por força do seu direito de veto no Conselho de Segurança — o grande obstáculo à sua condenação, desde que começaram as manifestações antirregime, há 11 meses.

Moscovo tem uma importante base naval na Síria, em Tartus — com origem num acordo de 1971 — que é uma peça importante do velho desígnio geoestratégico russo de estar presente nos “mares quentes”.

Hoje, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Gennady Gatilov, escreveu no Twitter: “O projeto de resolução ocidental do Conselho de Segurança sobre a Síria não conduz a um compromisso. Defender esta resolução é meio caminho para a guerra civil”.

As objeções russas levaram o ministro francês dos Negócios Estrangeiros a admitir, ontem, que ainda não estavam reunidas as condições para que fosse adotada uma resolução condenatória do regime sírio. Mas para Alain Juppé sobram razões para ir à reunião no Conselho de Segurança: “Vou a Nova Iorque fazer a máxima pressão para que acabe esta matança”, disse.

Violência diária no terreno

A cada dia que passa, a situação na Síria assemelha-se a uma guerra civil. Hoje, o Conselho Nacional Sírio (CNS) apelou, em comunicado, para que seja realizado um “dia de luto e cólera”. A coligação opositora lamentou a ausência de “medidas rápidas”, por parte da comunidade internacional, “para proteger os civis com todos os meios disponíveis” e defendeu que o regime de Bashar al-Assad “se aproveita” das divisões internacionais para “acentuar a repressão”.

Com os jornalistas estrangeiros impedidos de entrar no país — na última edição do Expresso, o repórter Paulo Nunes dos Santos relata como correu perigo de vida durante sete dias em território sírio —, os relatos da repressão chegam, sobretudo, através do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres.

Segundo informações dos Comités Locais de Coordenação, só na segunda-feira terão morrido mais de 100 civis. Os ativistas acusam o regime de utilizar carros de combate e armas pesadas no bombardeamento a bairros onde, estimam, estão escondidos desertores do exército sírio.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 31 de janeiro de 2012. Pode ser consultado aqui

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