Liberdade para falar, só se Teerão deixar

No Irão, a liberdade de expressão tem custos. Os internautas estiveram quatro dias sem acesso ao email. E um bloguer acaba de ser condenado ao exílio interno por criticar as políticas do Governo

Os internautas iranianos respiraram hoje de alívio quando, ao fim de quatro dias sem comunicações, os serviços de email foram repostos. 

Segundo a agência iraniana Mehr, mais de 30 milhões de usuários do Gmail, Yahoo e Hotmail foram afetados pela interrupção nos serviços. “Internet lenta, falhas na ligação e acesso interdito” a alguns sítios iranianos e estrangeiros foram algumas das anomalias sentidas pelos internautas iranianos.

As autoridades iranianas não comentaram a interrupção nos serviços. As restrições ao uso da Internet são frequentes no Irão. Blogueres chegam mesmo a enfrentar penas de prisão.

Na semana passada, um tribunal revolucionário de Teerão condenou Mehdi Khazali, editor do blogue Baran, a 14 anos de prisão dez anos de exílio na cidade de Borazjan (sudoeste do Irão) e a 70 chicotadas.

Detido a 9 de janeiro, pela terceira vez em menos de dois anos, Khazali tem sido muito crítico do Governo, denunciando nomeadamente violações aos direitos humanos.

Em 2006 e em 2010, os Repórteres Sem Fronteiras rotularam o Irão como um dos países “inimigos da Internet”.

Redes sociais são arma para protestar

À semelhança do que acontece no mundo árabe, onde cerca de 60% da população tem menos de 30 anos, também o Irão tem vivido um aumento exponencial no uso das novas tecnologias. Estima-se que na região do Médio Oriente, apenas Israel tenha uma percentagem superior de internautas.

Muitos iranianos recorrem à Internet como forma de contornar os obstáculos impostos pelo regime dos ayatollahs à liberdade de imprensa, nomeadamente ao serviço da BBC em língua farsi.

O papel que, atualmente, as novas tecnologias e as redes sociais desempenham no Irão ganhou maior visibilidade sobretudo após a contestação popular que se seguiu às eleições presidenciais de 2009.

Mahmud Ahmadinejad foi, oficialmente, reeleito, mas milhares de iranianos saíram às ruas para contestar o resultado. A Internet, as redes sociais, os canais por satélite e os telemóveis foram usados para organizar as manifestações e dar voz às figuras da oposição. À semelhança, aliás, do que acontece nas chamadas primaveras árabes.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de fevereiro de 2012. Pode ser consultado aqui

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