A segunda volta do referendo à nova Constituição do Egito anteve-se conflituosa. O “sim” lidera, mas os juízes já disseram que não asseguram a supervisão
A oposição ao Presidente egípcio, Mohamed Morsi, convocou para hoje uma jornada de protestos contra alegadas “irregularidades e violações” cometidas durante o primeiro dia de votação no referendo à Constituição, no sábado passado.
O escrutínio, que se realizou em metade do país (Cairo e Alexandria incluídos), continua no próximo sábado, dia 22. O “sim” lidera com 57% dos votos.
A contestação é liderada pela Frente de Salvação Nacional, uma coligação coordenada pelo Nobel da Paz egípcio Mohamed ElBaradei, que insiste no cancelamento do referendo, que considera demasiado islamita, e apela ao diálogo entre o Presidente e os seus críticos.
Ontem, a oposição cantou vitória quando foi conhecida a demissão do Procurador Geral Talaat Abdallah, nomeado pelo Presidente Mohamed Morsi no mês passado, entre grande controvérsia. Muitos juízes consideravam que a forma como Morsi afastara o antigo Procurador, Abdel Meguid Mahmoud, era um golpe na independência judicial.
Cerco ao tribunal
Prevista para sábado, a segunda volta do referendo anteve-se conflituosa. Ontem, um grupo de juízes anunciou que vai boicotar a supervisão da votação. A supervisão judicial é requerida por lei, mas os juízes exigem que seja levantado o cerco ao Supremo Tribunal Constitucional, levado a cabo por apoiantes do Presidente Morsi, e que dura desde 2 de dezembro.
No domingo, o presidente do Supremo Tribunal Constitucional, Maher Al-Beheiry, foi mesmo impedido de entrar no edifício.
Este “sit-in” já levou à suspensão indefinida dos trabalhos do Tribunal, incluindo a apreciação de um conjunto de queixas sobre a legitimidade da Assembleia Constituinte e da “Shura” (câmara alta do Parlamento).
Alemanha suspende perdão à dívida
Quase dois anos após a queda de Hosni Mubarak, o Egito continua um país politicamente dividido e economicamente cada vez mais em dificuldades.
Na segunda-feira, o ministro alemão da Cooperação e Desenvolvimento, Dirk Niebel, afirmou que o plano de perdão da dívida egípcia no valor de 240 milhões de euros foi adiado indefinidamente.
“Há o perigo de que o sistema ditatorial do Presidente deposto esteja de volta”, disse ao diário alemão “Berliner Zeitung”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 18 de dezembro de 2012. Pode ser consultado aqui