Líder do Hamas regressa a Gaza após 45 anos no exílio

Khaled Meshaal entrou hoje em Gaza, após 45 anos no exílio. O líder político do Hamas participa sábado na cerimónia de 25º aniversário do grupo islamita

Khaled Meshaal, líder político do Hamas, vive exilado no Qatar WIKIMEDIA COMMONS

Khaled Meshaal, o líder político do Hamas, entrou hoje na Faixa de Gaza, terminando com um exílio de 45 anos. Depois de pisar solo palestiniano, Meshaal ajoelhou-se e beijou o chão.

Amanhã, o líder do Hamas participará no comício comemorativo do 25º aniversário da fundação do Hamas (oficialmente assinalada a 14 de dezembro), na cidade de Gaza. O palco já está montado e tem ao centro uma réplica gigante do rocket M75, de longo alcance, fabricado pelo Hamas, e disparado contra Telavive e Jerusalém no conflito com Israel do mês passado.

Meshaal, de 56 anos, vive no Qatar desde janeiro de 2012. Até então, ele geria o Hamas a partir de Damasco, cidade que abandonou no contexto do conflito armado na Síria que opõe o Presidente Bashar al-Assad a grupos opositores de inspiração sunita, como o Hamas.

Em 1997, ele foi alvo de uma tentativa de envenenamento, em Amã. Dois agentes da Mossad foram detidos durante a operação e o rei Hussein da Jordânia obrigou Israel a fornecer o antídoto em troca da sua libertação.

A visita de Meshaal a Gaz dura 48 horas.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de dezembro de 2012. Pode ser consultado aqui

Egito a ferro e fogo

Mohamed Morsi vai discursar hoje ao país para tentar sossegar os ânimos. Confrontos junto ao palácio presidencial, entre apoiantes e opositores, fizeram ontem seis mortos

Pelo menos seis pessoas morreram e mais de 700 ficaram feridas nos confrontos que se iniciaram ontem e estenderam-se pela madrugada, junto ao palácio presidencial, no Cairo. Segundo a Al-Jazeera, pelo menos cinco tanques do Exército saíram à rua e estão posicionados junto ao palácio.

Os confrontos opõem apoiantes da Irmandade Mulçulmana (e do Presidente Mohamed Morsi), e opositores ao regime, que exigem a anulação do referendo à nova Constituição previsto para 15 de dezembro e a revogação do decreto constitucional de 22 de novembro que alarga os poderes do Presidente.

“Foi o dia mais triste que já vi no Egito”, tweetou Sherine Tadros, uma das repórteres da Al-Jazeera em reportagem no Cairo.

Segundo a estação pública egípcia Nile TV, Mohamed Morsi vai hoje discursar ao país. Na terça-feira, Morsi foi evacuado do palácio quando um grupo de manifestantes tentou invadir o edifício. A polícia anti-motim interveio e dispersou-os com gás-lacrimogéneo.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 6 de dezembro de 2012. Pode ser consultado aqui

Manifestantes fazem “último aviso” ao Presidente do Egito

Opositores a Mohamed Morsi realizaram hoje a manifestação do “Último aviso” junto ao palácio do Presidente. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo

Milhares de pessoas concentraram-se hoje junto ao palácio presidencial do Cairo, na área de Heliopolis, num protesto anti-governamental a que deram o nome de “Último Aviso”. Alguns manifestantes tentaram quebrar o cordão de segurança em redor do edifício, tendo a polícia respondido com gás lacrimogéneo.

“Duas fontes citadas pela Reuters, mas não identificadas, garantem que o Presidente abandonou o palácio durante os protestos.”

Os manifestantes pediram a anulação do decreto constitucional de 22 de novembro, com o qual o Presidente Mohamed Morsi alargou substancialmente os seus poderes. Protestaram também contra o referendo à nova Constituição, previsto para o próximo dia 15, dizendo que o texto foi aprovado de forma apressada.

“O povo quer o fim do regime”, gritaram os manifestantes, socorrendo-se do mesmo slogan com que em fevereiro de 2011 contribuíram para o derrube de Hosni Mubarak. O Egito vive a pior crise política desde o início da revolução.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de dezembro de 2012. Pode ser consultado aqui

Porque voltaram as tendas ao centro do Cairo?

A Praça Tahrir, no centro do Cairo, está repleta de tendas como nos dias da contestação a Hosni Mubarak. E assim deverá continuar até ao referendo à Constituição, no dia 15

Hoje, 12 jornais privados egípcios suspenderam a sua publicação. Amanhã, será a vez de cinco televisões não emitirem. Os órgãos de informação querem denunciar o que consideram ser ameaças à liberdade de expressão decorrentes do projeto de Constituição que será referendado no próximo dia 15.

Esta iniciativa dos media une-se assim à luta de centenas de pessoas que estão acampadas em permanência na Praça Tahrir, desde há mais de uma semana, em protesto contra o rumo que a revolução está a tomar.

Na mira da contestação está o Presidente Mohamed Morsi que, no passado dia 22 de novembro, aprovou uma declaração constitucional ampliando fortemente os seus poderes.

Morsi demitiu o procurador-geral (conotado com o regime de Mubarak), ordenou a repetição de julgamentos de pessoas envolvidas na repressão à revolução (uma exigência dos revolucionários) e decretou que nenhuma decisão judicial poderá fazer reverter decisões por ele tomadas.

‘Um Mubarak com barbas’

Ao colocar-se acima dos tribunais, Morsi foi acusado de ser um novo ditador. “Um Mubarak com barbas”, ouviu-se na praça Tahrir.

Os ânimos contra o Presidente inflamaram-se ainda mais após a assembleia constituinte — dominada por islamitas — ter aprovado, numa sessão-maratona de 19 horas, que terminou na madrugada de sexta-feira, os 234 artigos da nova Constituição.

O plenário tinha até fevereiro para aprovar a nova Lei Fundamental, mas a contestação ao Presidente acelerou o processo. No próximo dia 15, os egípcios irão referendar o texto que prevê, entre outros, o limite do mandato do Presidente a dois períodos de quatro anos e a aprovação por parte do Parlamento do primeiro-ministro indigitado pelo Presidente.

Ainda segundo o projeto, a “sharia” (lei islâmica) continuará a ser a principal fonte de lei. Um artigo que inicialmente fazia depender o estatuto das mulheres à “sharia” não consta, porém, do texto final. A liberdade religiosa é garantida para muçulmanos, cristãos e judeus, apenas.

O povo é quem mais ordena

Apesar da contestação, Morsi não está só. Eleito em junho, como candidato da Irmandade Muçulmana, ele conta com o apoio de milhões de simpatizantes daquele que é a associação social melhor organizada do país.

No sábado passado, milhares de pessoas concentraram-se junto à Universidade do Cairo para apoiar o Presidente e a nova Constituição. “Pela primeira vez, o povo será a fonte de todos os poderes”, afirmava Khaled Mohamed à reportagem do órgão de informação egípcio “Ahram Online”.

Propositadamente, a ‘manif’ pró-Morsi evitou passar pela Praça Tahrir para evitar possíveis confrontos com os críticos do Presidente. O braço de ferro pelo poder transbordou dos corredores políticos e dividiu as ruas do Egito. Assim deverá continuar pelo menos até ao referendo à Constituição.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de dezembro de 2012. Pode ser consultado aqui