Barack Obama inicia hoje a primeira visita a Israel e à Palestina desde que é Presidente dos EUA. O périplo dura 51 horas e evita o Muro das Lamentações
QUARTA-FEIRA
O Air Force One que transporta Barack Obama aterra no Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, cerca das 12h15 (10h15 em Lisboa). Obama tem a recebê-lo o Presidente israelita, Shimon Peres, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O secretário de Estado John Kerry acompanha-o. Michelle Obama ficou na Casa Branca. A primeira dama não gosta de viajar para o estrangeiro, deixando as filhas para trás, em tempo escolar.
Visita a uma bateria da Cúpula de ferro, colocada no aeroporto para este efeito. O programa da visita divulgado pela Casa Branca explica que a Cúpula de Ferro é um sistema defensivo anti-missil desenvolvido por Israel e produzido pelos EUA que “salvou incontáveis vidas israelitas” Segundo o “Times of Israel”, a Cúpula de Ferro intercetou 84% dos foguetes disparados desde a Faixa de Gaza, no último conflito, em novembro passado.
A bordo do helicóptero presidencial Marine One, Obama segue para Jerusalém. Pelas 16h (14h em Lisboa), é recebido por Shimon Peres na Beit Hanassi, a residência presidencial, e por 60 crianças, com bandeiras dos EUA e de Israel. Antes das reuniões de trabalho, Obama plantará uma árvore no jardim da residência. Em Jerusalém (e posteriormente em Ramallah), Obama desloca-se num Chevrolet blindado, conhecido como “A Besta”.
Pelas 17h30 (!5h30 em Lisboa), Obama encontra-se com Benjamin Netanyahu, para uma “maratona de conversações”, escreve o “Times of Israel”. Cinco horas estão, oficialmente, reservadas para este encontro bilateral. Netanyahu oferecerá a Obama um nano-chip de 0,04 milímetros quadrados com as Declarações de Independência dos EUA e de Israel, gravadas a uma profundidade de 0,00002 milímetros.
As conversações continuarão num jantar de trabalho preparado pelo chefe Shalom Kadosh, que já cozinhou para os Presidentes Jimmy Carter, Bill Clinton e George W. Bush. O menu inclui raviolis recheados com alcachofras de Jerusalém, sorvete de romã e toranja, filé de carne assada em especiarias aromáticas e uma seleção de legumes de primavera e figos e tâmaras caramelizados com amêndoas verdes. Obama pernoita no histórico Hotel Rei David.
QUINTA-FEIRA
Visita ao Museu de Israel, em Jerusalém, que está fechado ao público na quarta e quinta-feiras. Aqui, Obama apreciará os Manuscritos do Mar Morto, porções da Bíblia Hebraica, alguns dos quais com 2400 anos. Do passado para o futuro, Obama visita, de seguida, uma exposição sobre sete dos maiores contributos de Israel para a ciência e tecnologia.
Segue para Ramallah, no território palestiniano da Cisjordânia, para um almoço com o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, uma reunião com o primeiro-ministro Salam Fayad e um encontro com jovens no Centro Juvenil de Al-Bireh.
De regresso a Jerusalém, Obama fará um discurso no Centro Internacional de Convenções. Bill Clinton, em 1994, e George W. Bush, em 2008, discursaram no Knesset (Parlamento).
Shimon Peres é o mestre de cerimónias do jantar em honra de Obama, que receberá a Medalha Presidencial de Distinção, a mais alta condecoração civil em Israel. O jantar não escapou à polémica. Chefes palestinianos reagiram com indignação ao saber que será servido humus e falalel e apresentados como “cozinha israelita”.
SEXTA-FEIRA
No Monte Herzl, Obama visita as campas do líder sionista Theodore Herzl e do ex-primeiro-ministro Yitzhak Rabin.
Segue-se a visita ao Museu do Holocausto Yad Vashem, onde Obama depositará uma coroa no Hall da Recordação, à semelhança do que fez em 2008 quando – era ele senador pelo Illinois e candidato democrata às Presidenciais – visitou Israel pela primeira vez.
Obama volta a entrar no território palestiniano da Cisjordânia para uma visita à Igreja da Natividade, em Belém, onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu. O sítio foi incluído na Lista de Património da UNESCO em junho passado, após a organização ter aceite a Palestina como Estado membro de pleno direito.
Regresso ao Aeroporto Ben Gurion, onde cerca das 15h (13h em Lisboa), partirá de Israel em direção à Jordânia, onde se encontrará com o Rei Abdallah II e visitará Petra. A essa hora, no estádio Ramat Gan, em Telavive, já a seleção portuguesa de futebol está a disputar com a congénere israelita mais um jogo de apuramento para o Mundial de 2014, no Brasil.
Uma dúvida fica: Por que razão Barack Obama não vai visitar o Muro das Lamentações? O “Times of Israel” aponta duas razões. A primeira prende-se com o facto da comunidade internacional não reconhecer a anexação de Jerusalém Leste (onde fica o Muro) por parte de Israel, em 1967. Visitar o local, sob os auspícios de Israel, desencadearia uma controvérsia diplomática que Obama quer evitar, como Clinton e W. Bush o fizeram.
Quanto à segunda razão: “Quando da sua última visita ao local mais sagrado do Judaismo, em 2008, e após colocar uma mensagem numa das fendas do Muro, repórteres israelitas curiosos tiraram o papel e publicaram o que lá estava escrito, provocando um pequeno escândalo”.
A mensagem dizia: “Senhor, protege-me a mim e à minha família. Perdoa os meus pecados e ajuda-me a proteger-me contra o orgulho e o desespero. Dá-me a sabedoria para fazer o que é certo e justo. E faz de mim um instrumento da tua vontade”.
Então, Obama foi vaiado por locais que lhe gritavam: “Obama, Jerusalém é a nossa terra! Obama, Jerusalém não está à venda!”
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de março de 2013. Pode ser consultado aqui