A ex-correspondente da Al-Jazeera em Ramallah é a nova porta-voz da Autoridade Palestiniana. Nour Odeh diz que o mundo não parece estar preparado para a nova realidade palestiniana

Nour Odeh é um rosto conhecido dos apreciadores da Al-Jazeera em língua inglesa. Durante nove anos, esta palestiniana foi correspondente da estação do Qatar em Ramallah e enviada especial aos principais conflitos envolvendo palestinianos.
Em 2008, ganhou a “Ninfa de Ouro” no Festival de Televisão de Monte Carlo pela sua cobertura da luta interna entre Fatah e Hamas na Faixa de Gaza. Um sabor agridoce, confessou ao Expresso.
“Foi o momento mais doloroso da minha carreira. Estávamos a cobrir os confrontos há quatro dias e ficamos retidos no nosso escritório. Eu era a única mulher num edifício cheio de homens muito, muito assustados. Estávamos sob fogo de snipers e corríamos muito perigo. Então, tomamos a decisão de ir para o ar em direto. Se fossemos morrer, precisávamos de testemunhas…”
Há cerca de meio ano, Nour Odeh deixou o jornalismo e tornou-se porta-voz da Autoridade Palestiniana (AP). “Quando recebi este convite, senti que o meu trabalho ia continuar a ser o mesmo: contar a história do meu povo.”
Israel recolhe impostos dos palestinianos
Atualmente, a AP controla apenas 40% do território da Cisjordânia. Os restantes 60% – que incluem as terras férteis do Vale do Jordão – estão ocupadas por Israel. A AP tem instituições prontas para governar, mas depende de Telavive, financeiramente.
É Israel que recolhe os impostos pagos pelos palestinianos, estando comprometido a devolver-lhes, todos os meses, 400 milhões de shekels (82 milhões de euros). Muitas vezes, Israel não paga e os salários dos funcionários públicos sofrem atrasos.
Impõem-se, pois, a pergunta: Vão os palestinianos fazer uso das novas prerrogativas conquistadas após a aprovação do estatuto de Estado Não Membro nas Nações Unidas e denunciar Israel junto do Tribunal Penal Internacional?
“Neste momento, a liderança palestiniana está a estudar aquilo que mais nos interessa estrategicamente”, diz a porta-voz da AP. “Contudo, o que é mais irónico é que o mundo não parece estar pronto para enfrentar essa realidade. Em muitos aspetos, parece até que houve um choque: ‘Ó meu Deus, a Palestina é um Estado. Agora têm acesso a todos estes acordos e convenções. Será que vão atrever-se a usá-los?'”
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de março de 2013. Pode ser consultado aqui