Atlântico, a ponte para o centro do mundo

Portugal está a meio caminho entre a Europa e o novo mundo. A aposta no Atlântico pode tirar o país da periferia europeia

“Enquanto fui ministro dos Negócios Estrangeiros, tive sempre como referência dois vizinhos fundamentais: a Espanha, que era a nossa porta para a Europa, e o Atlântico, que era a nossa porta para o mundo.” Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, dava o mote para o debate centrado no Atlântico,  na conferência “Portugal na balança da Europa e do mundo”.

Para o ex-governante, a rota do Atlântico coloca Portugal “no centro de uma nova realidade económica e financeira, e não na periferia europeia”. Independentemente da forma como a Europa arrumar a casa pós-crise, “um dos vetores fundamentais para a estabilidade da nova ordem em gestação é a reorganização do sistema atlântico”, diz.

Uma troika do desenvolvimento

O Atlântico é, hoje, uma ponte entre uma região em processo de afirmação (América Latina) e o continente do século XXI (África). E Portugal tem potencialidades a explorar nas duas margens: desde logo, o Brasil e Angola, países de língua portuguesa em franco crescimento económico, mas também as comunidades lusófonas na Venezuela e na África do Sul, por exemplo, países de grande importância económica para Portugal.

“Lisboa está a meio caminho entre a Europa e o novo mundo”, diz Francis Kornegaly, investigador no Institute for Global Dialogue da Universidade da África do Sul. “Porque não explorar a possibilidade de ser observador do IBSA, tornando-se assim um parceiro de diálogo próximo da Índia e da África do Sul? Angola poderia fazer o mesmo.”

O IBSA é um fórum de diálogo que reúne três economias emergentes: o Brasil, a Índia e a África do Sul. Esta troika é o grande pólo dinamizador da cooperação Sul-Sul.

O recurso do futebol

António Monteiro, embaixador, recorda que foram os portugueses que transformaram o Atlântico Sul “num mundo de convergências”. Hoje, esse papel pode ser recuperado, “estabelecendo pontes entre nações do Atlântico Norte e as nações emergentes do Atlântico Sul”.

Profundo estudioso da História de Portugal, Kenneth Maxwell, professor de História na Universidade de Harvard, diz que Portugal tem um papel a desempenhar na interação entre as duas margens do Atlântico. “O potencial de um país reside muito mais no seu ‘soft power’, na sua diplomacia cultural, do que nas dinâmicas mais tradicionais de natureza geopolítica e militar.”

Grandes fundações reconhecidas internacionalmente como a Gulbenkian, a Luso-Americana, Oriente e Champalimaud são exemplos de valiosos recursos ao dispor do país. Mas não só. “O próximo campeonato do mundo de futebol e os próximos Jogos Olímpicos no Brasil também vão constituir uma oportunidade. E, apesar de tudo, Portugal tem o futebol: José Mourinho, André Vilas Boas e Cristiano Ronaldo são portugueses conhecidos lá fora.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de abril de 2013. Pode ser consultado aqui

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