Entrevista a Ghoncheh Tazmini, analista política iraniana

Ghoncheh Tazmini vive entre Lisboa, Vancouver, Londres e Teerão. Para a autora de “Khatami’s Iran: the Islamic Republic and the Turbulent Path to Reform” (não publicado em Portugal), não haverá alterações drásticas na política externa, quem quer que seja o novo Presidente.
Que Irão sairá das eleições?
O Irão enfrenta um isolamento internacional sem precedentes e duras sanções que criaram muitas dificuldades económicas e praticamente fizeram colapsar a moeda. Há poucos dias, um pacote de sanções foi levantado apenas para ser substituído por um outro, dois dias depois. O Irão pós-eleições terá de lidar com a imprevisível ‘Política para o Irão’ da comunidade internacional. O desafio do novo Presidente será o crescimento económico, a inflação e o desemprego. Ao nível da política externa, não haverá alterações drásticas. O Irão situa-se numa região instável, à beira de explodir. A sua política externa é guiada por um facto: a nação iraniana, a sua segurança e soberania estão sempre em risco. Esta consideração é consistente, independentemente de quem manda.
Como votam os reformistas?
Quem estuda o Irão sabe que, em matéria de presidenciais, o melhor é não fazer previsões. Os últimos Presidentes, Mohammad Khatami e Mahmoud Ahmadinejad, são exemplos dessa imprevisibilidade. A candidatura do negociador nuclear Saeed Jalili deu a conservadores e principalistas (favoráveis ao statu quo) uma figura em torno de quem se unirem. Em Teerão, há a perceção de que o presumível candidato do Líder Supremo terá o voto de 12 milhões de fiéis seguidores. Mas mesmo que Jalili continue a apresentar-se como o candidato mais próximo do ayatollahAli Khamenei e assegure o voto do eleitorado “neezam” (do regime), não chega. Precisa daqueles junto de quem o populista Ahmadinejad construiu a sua popularidade.
É possível uma contestação pós-eleitoral como em 2009?
Nunca há garantias de um ambiente totalmente livre de manifestações ou protestos — algo que o todo-ansioso Ocidente faz questão de capitalizar no âmbito da sua agenda visando a mudança de regime. A segurança aumentou nos últimos quatro anos, mas a maior securitização advém do medo de que as potências estrangeiras possam fomentar, secretamente, uma sublevação política através da agitação.
“Não sei se algum líder reformista teria estômago para lidar com a realpolitik iraniana como Ahmadinejad fez
Que resta do Movimento Verde de 2009?
Não há uma “movimentação” por trás do Movimento Verde, por isso não o considero um “movimento” social per se. O movimento carece de estrutura, unidade, ideologia coerente, objetivos claramente delineados (um manifesto) e um líder eficaz e carismático. Muitos partidários do Movimento Verde estão dececionados ou desorganizados ou têm exigências e objetivos bastante diferentes, que estão além dos limites sociopolíticos da República Islâmica. Seria muito difícil mobilizá-los atrás de um candidato formidável com vontade e força para agitar as coisas.
Como será recordado Mahmoud Ahmadinejad?
Para muitos no estrangeiro, ele será o Presidente iraniano incendiário, conhecido pelos seus pontos de vista controversos em relação a Israel e pelo seu estilo bombástico. Internamente, rivais e detratores poderão vê-lo como o Presidente que venceu as eleições de 2009 após “roubar votos”. Em sua defesa tem o facto de o Irão não ter sido atacado durante a sua presidência, e de o país não se ter “magoado” neste cenário de duras sanções, isolamento e esforços estrangeiros para desestabilizar o regime. Não sei se algum dos líderes mais reformistas/moderados teria estômago para lidar com a “realpolitik” iraniana da forma que Ahmadinejad fez.
Artigo publicado no “Expresso”, a 8 de junho de 2013. Pode ser consultado aqui
