Projeto palestiniano vence Prémio Aga Khan para a Arquitetura

O Prémio Aga Khan para a Arquitetura 2013 é entregue, esta sexta-feira, em Lisboa. O projeto de Restauro do Centro Histórico de Birzeit, no território palestiniano da Cisjordânia é um dos distinguidos

O restauro do Centro Histórico de Birzeit, na Cisjordânia, foi distinguido pela Fundação Aga Khan. “A obtenção de um prémio internacional cria nos palestinianos a sensação de que podem ser como qualquer outro povo”, afirmou ao Expresso a ministra palestiniana do Turismo.

A ministra Rula Ma’ayah receberá o prémio relativo ao projeto, numa cerimónia realizada no Castelo de São Jorge que contará com a presença de Aga Khan, líder espiritual dos ismaelitas (uma vertente do xiismo) e do Presidente Cavaco Silva.

“Para um cidadão ou para uma instituição palestinianos, a obtenção de um prémio internacional funciona como um impulso. Ficamos com a sensação que podemos ser como qualquer outro povo”, afirmou Rula Ma’ayah, 43 anos.

“Nós vivemos sob ocupação (de Israel), enfrentamos muitos problemas, mas temos pessoas e instituições capazes, que podem competir a nível internacional.”

Vinte finalistas, de todo o mundo

Instituído em 1977, o Prémio Aga Khan para a Arquitetura, no valor de um milhão de dólares (quase 760 mil euros), promove conceitos de construção que correspondam às necessidades e aspirações de comunidades com uma presença muçulmana significativa. E reconhece exemplos de excelência arquitetónica no campo do design contemporâneo, habitação social, preservação histórica e melhoria do meio ambiente.

Da lista de 20 finalistas, constaram projetos como o Liceu Francês Charles de Gaulle, em Damasco (Síria), a Escola Primária de Girubuntu, em Kigali (Ruanda) e o Restauro Pós-Tsunami das Casas de Kirinda, de Tissamaharama (Sri Lanka).

Conhecedora do trabalho do gabinete de Arquitetura Riwaq, responsável pelo projeto premiado, Eva Oliveira, 34 anos, investigadora de Estudos Palestinianos na Universidade de Birzeit, comenta: “O prémio é importante, desde logo, pelo reconhecimento internacional da qualidade do trabalho arquitetónico executado na Palestina. Este projeto é representativo de vários outros que estão em desenvolvimento nos centros históricos de Jenin e Hebron, por exemplo.”

Uma imagem diferente da Palestina

Outra razão realçada pela investigadora portuguesa prende-se com o aspeto financeiro, “dada a situação económica precária do Estado palestiniano e a dependência de financiamento externo. Com certeza que o dinheiro será usado na restauração de algumas aldeias que estão em ruínas. Os custos da restauração dos edifícios são altos e várias famílias estão a vender as pedras dos edifícios antigos para construírem novas casas a preços mais baixos”.

Há ainda a questão da conservação do património cultural que “sofre ameaças diárias, sobretudo desde a construção do muro de separação (entre Israel e a Cisjordânia). Sabendo-se que aquele que ocupa e coloniza tenta apagar os sinais nativos, prévios à sua chegada, compreende-se que preservar e conservar o património cultural palestiniano é também uma forma de resistência à ocupação: o chamado sumud“.

Por último, Eva Oliveira refere que o prémio “dá uma imagem diferente da Palestina, normalmente associada a caos, conflitos, pessoas mumificadas com pedras e fisgas nas mãos. Este prémio realça os aspetos positivos do povo palestiniano: a humanidade, a cultura, o conhecimento, o profissionalismo. Há um grande potencial na Palestina à espera de ser explorado”.

FOTOS FUNDAÇÃO AGA KHAN

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 5 de setembro de 2013. Pode ser consultado aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *