A calamidade do século

António Guterres, Alto Comissário da ONU para os Refugiados, chamou-lhe “a grande tragédia deste século, uma deplorável calamidade humana”. O conflito na Síria arrasta-se desde março de 2011, já provocou mais de 115 mil mortos e forçou um terço da população síria a fugir de casa

FALTA INFOGRAFIA

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de novembro de 2013. Pode ser consultado aqui

Síria anuncia data da Conferência Internacional sobre o conflito

A conferência realiza-se a 12 de dezembro, em Genebra, e visa a busca de uma solução para o conflito na Síria

O jornal oficial sírio “Al-Watan” anunciou hoje que a conferência internacional Genebra II sobre o conflito na Síria irá realizar-se a 12 de dezembro.

O jornal diz que a data será confirmada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a 25 de novembro.

Esta conferência visa reunir todas as partes em conflito na busca de uma solução. Divergências relativas a quem deverá participar na conferência bem como à agenda da discussão têm levado ao seu adiamento sucessivo.

No início de novembro, o enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria, o argelino Lakhdar Brahimi, afirmou: “Temos esperança que a conferência se realize antes do fim do ano”.

FALTA INFOGRAFIA

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de novembro de 2013. Pode ser consultado aqui

Escola nova na Palestina com dinheiro português

Governo português financiou uma escola na região de Nablus. Mas à conta da crise não se preveem novas ações de cooperação

Foi hoje inaugurada, na região de Nablus (norte da Cisjordânia), a Escola Feminina de Beit Furik, financiada pelo Governo português. A estrutura inclui 16 salas de aula, totalmente equipadas, e irá acolher 470 alunas.

O projeto custou um milhão de dólares (cerca de 740 mil euros) e decorre do Protocolo de Cooperação celebrado entre Portugal e a Autoridade Nacional Palestiniana em 2009. O documento previa a construção de três escolas de ensino básico, num custo total de três milhões de dólares (2,2 milhões de euros).

A primeira escola foi inaugurada em 2010, em Qalqis, na região de Hebron. Em junho de 2011, começou a construção do segundo estabelecimento de ensino, hoje inaugurado. Os valores desembolsados pela cooperação portuguesa dizem respeito aos anos orçamentais de 2009 e 2010.

Em virtude das dificuldades económicas entretanto surgidas, “foi acordado posteriormente com as autoridades palestinianas restringir o protocolo à construção de duas escolas”, explicou ao Expresso Jorge Lobo Mesquita, Chefe de Missão da Representação de Portugal em Ramallah. 

“Neste momento, não se prevê o desenvolvimento de novas ações de cooperação nos territórios palestinianos ocupados.”

Mais crise, menos cooperação

Para além do diplomata português, marcaram presença na cerimónia de inauguração Ali Zaidan Abu Zuhri, ministro palestiniano da Educação, e Jibreen al-Bakri, governador de Nablus, uma das principais cidades da Cisjordânia. A escola situa-se no sopé do colonato judeu Itamar, maioritariamente povoado por judeus ortodoxos.

“O ministério da Educação local acompanhou a construção da escola, sob supervisão de auditores internacionais, num modelo semelhante ao aplicado pela comunidade doadores”, disse o diplomata.

Portugal abriu a sua representação diplomática em Ramallah em 1999 e, desde então, apoiou a construção de uma residência universitária feminina na Universidade Al-Najah, em Nablus, e ainda a construção de um campo desportivo na localidade de Al-Khader, na área de Belém.

Através dos orçamentos de cooperação dos 28 Estados membros e do orçamento comunitário, a União Europeia é quem mais contribui, em ajuda externa, para a Palestina.

Dia de inauguração é dia de festa, em qualquer parte do mundo e na Palestina também…
Em Nablus, uma das grandes cidades da Cisjordânia, foi inaugurada a “Escola Portuguesa”
Centenas de jovens da localidade de Beit Furik participaram na cerimónia…
… e realizaram vários momentos culturais, incluindo a tradicional dança folclórica “Dabka”
“Sejam bem vindos”, lê-se no cartaz exibido por esta aluna
A escola Beit Furik é um estabelecimento de ensino feminino
O Governo português financiou a construção do edifício e os equipamentos das salas
A escola tem capacidade para acolher 470 alunas…
… e foi construída num terreno doado pela Câmara Municipal de Beit Furik
O representante diplomático de Portugal em Ramallah, Jorge Lobo Mesquita, e o ministro palestiniano da Educação, Ali Zaidan Abu Zuhri, cortam a fita
No seu discurso, o ministro palestiniano valorizou o facto da construção da escola ter obedecido aos mais altos padrões internacionais de engenharia
O governador de Nablus, Jibreen al-Bakri, referiu que os colonatos e as práticas de ocupação israelitas causam sofrimento na região
A Escola Beit Furik fica no sopé do colonato Itamar, maioritariamente habitado por judeus ortodoxos
As alunas também se fizeram ouvir durante a cerimónia de inauguração
O diplomata português recordou os laços de amizade fortes e históricos entre os dois povos
Os palestinianos agradecem ao “Governo e ao povo irmão de Portugal”, lê-se na placa oferecida

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de novembro de 2013. Pode ser consultado aqui

Espectro do terrorismo islamita volta a assustar

Dois atentados suicidas frustrados mostram o risco do terrorismo no país onde nasceu a Primavera Árabe e onde o Governo islamita moderado agoniza

Não passou de um susto, mas as duas tentativas de ataques suicidas, esta semana, na Tunísia provam que a ameaça terrorista está a ganhar dimensão. Quarta-feira de manhã, um homem fez-se explodir numa praia junto ao turístico Hotel Riadh Palm, na cidade costeira de Sousse, após ser descoberto.

Horas depois, em Monastir, igualmente na costa, as forças de segurança neutralizaram um suicida de 18 anos que planeava detonar a sua carga junto ao mausoléu do ex-Presidente e líder da independência tunisina Habib Bourguiba.

Vários suspeitos foram detidos e a segurança foi reforçada. Segundo Mohamed Ali Laroui, porta-voz do Ministério do Interior, o grupo salafita Ansar al-Sharia (Defensores da lei islâmica literal) está envolvido. O Governo de Tunis já o tinha rotulado de “organização terrorista”.

Na véspera desta jornada tensa, o embaixador português em Tunis alertava, numa conferência no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa, para o “fenómeno perigoso e imprevisível” que constitui o salafismo jihadista na Tunísia. “Pela primeira vez, ouço tunisinos reconhecerem que há um problema de terrorismo que tem de ser enfrentado”, disse Luís Faro Ramos.

Farol da Primavera Árabe, a Tunísia encontra-se num impasse quase três anos após a queda do ditador Ben Ali. “Hoje, a situação política assemelha-se a um processo de ajustamento de placas a seguir a um tremor de terra”, explicou o embaixador.

Ao ritmo das estações

Para este diplomata, desde a revolução de 14 de janeiro de 2011 o processo tunisino já percorreu todas as estações do ano. “A primavera durou até às eleições de outubro de 2011, ganhas pelo partido islamita Ennahda. O resultado surpreendeu muitos tunisinos que não se tinham dado conta que por baixo da ‘Tunísia de Ben Ali’ havia um país diferente. A vitória islamita iniciou um verão que se transformou em outono a 6 de fevereiro de 2013 quando se registou o primeiro assassínio político (do opositor Chokri Belaid). O outono transformou-se em inverno a 25 de julho com o segundo assassínio (do opositor Mohamed Brahmi). Agora, a primavera volta a espreitar.”

Na semana passada, islamitas (no poder) e oposição iniciaram um “diálogo nacional”. Sobre a mesa está a aprovação da Constituição, a escolha de um novo Governo provisório e a realização de eleições legislativas e presidenciais. Para Faro Ramos, o país tem instrumentos que podem contribuir para o cumprimento desses desafios: capacidade de diálogo, propensão para o consenso e aversão à violência e, ainda, “não-papel” das Forças Armadas, que se têm mantido equidistantes. “O tunisino privilegia a concertação o que, às vezes, pode criar a impressão de que as coisas demoram. Na verdade, as coisas vão-se fazendo, ao ritmo deles.”

(IMAGEM PIXABAY)

Artigo publicado no Expresso, a 2 de novembro de 2013