Diálogo sobre o nuclear e, sobretudo, a necessidade de atacar conjuntamente o problema iraquiano aproximou britânicos e iranianos. A relação estava suspensa desde 2011
O braço de ferro diplomático entre Londres e Teerão parece ter os dias contados. O secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, William Hague, anunciou, esta terça-feira, a intenção de o Governo britânico reabrir a sua embaixada na capital iraniana.
“Nunca tive qualquer dúvida de que devíamos ter uma embaixada em Teerão, se as circunstâncias o permitissem”, disse. “O Irão é um país importante numa região volátil. Manter embaixadas por todo o mundo, ainda que em condições difíceis, é um pilar central da abordagem diplomática global do Reino Unido.”
Numa declaração escrita distribuída aos deputados britânicos, o governante admitiu que a decisão decorre do “aumento da confiança” entre as duas partes, nos últimos meses.
A eleição de um novo Presidente iraniano — Hassan Rohani assinalou, no domingo, um ano no poder —, tido como uma personalidade mais moderada comparativamente ao antecessor Mahmud Ahmadinejad, contribuiu para uma relação bilateral menos tensa.
Paralelamente, as negociações internacionais em curso sobre o programa nuclear iraniano, em que o Reino Unido participa — Irão e Ocidente têm até 20 de julho para conseguir um acordo final —, contribuíram para aproximar as partes.
Agenda comum no Iraque
A relação bilateral anglo-iraniana tem beneficiado também com o súbito drama colocado pela situação no Iraque, onde uma ofensiva dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), de inspiração sunita, ameaça Bagdade.
Londres e Teerão rejeitam esse cenário e o Irão — que partilha com o Governo iraquiano a defesa do credo xiita — surge como um parceiro fundamental para o combate às pretensões jihadistas.
Citado pela “BBC”, Sir William Patey, ex-embaixador britânico em Teerão, disse que este é um “momento muito significativo” para a realização de acordos entre os dois países. “Há a perspetiva de uma relação mais construtiva com Irão, porque há um inimigo maior, que é o EIIL.” Porém, alertou, o “potencial de desentendimento com o Irão é sempre muito alto”.
Reino Unido e Irão suspenderam as relações diplomáticas em 2011, após a missão diplomática britânica ter sido atacada por populares em fúria pelo apoio britânico às sanções contra Teerão.
Foi apenas o último de uma série de incidentes sérios que, nos anos anteriores, vinham condenando o relacionamento bilateral. Em 2007, 14 marinheiros britânicos tinham sido detidos pelas autoridades iranianas que os acusaram de entrada ilegal em águas territoriais do Irão.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui