Líbios escolheram esta quarta-feira um novo Parlamento. Candidatos apresentaram-se individualmente e não em representação de partidos políticos, que têm contribuído para manter o país num impasse
Três anos após a queda de Muammar Kadhafi, os líbios continuam a ensaiar fórmulas políticas para construir um novo país. Esta quarta-feira, realizaram-se eleições legislativas, as segundas em dois anos.
Cerca de 1,5 milhões de líbios inscreveram-se para escolher os 200 membros da nova Casa dos Representantes — nas eleições de 2012, tinham-se inscrito 2,8 milhões (numa população de seis milhões). Este órgão legislativo substituirá o Congresso Geral Nacional, que muitos líbios já associam ao impasse político em que o país tem vivido.
A instituição irá supervisionar o processo de elaboração de uma nova constituição. Há escassos quatro meses, os líbios votaram para a Assembleia Constituinte, mas a fraca adesão combinada com boicotes por parte de minorias étnicas e violência localizada ditaram a sua ineficácia.
No escrutínio desta quarta apresentaram-se a votos 1628 candidatos independentes. A opção por figuras não partidárias destina-se a desencorajar disputas entre partidos políticos como a registada em maio, quando — sem constituição e com o Parlamento transformado numa arena política — o país viu-se, subitamente, com dois primeiros-ministros. O Supremo Tribunal acabaria por declarar “ilegal” a eleição de um deles, por falta de quórum à altura da votação.
Vários centros de poder
Dos 200 lugares da nova Casa dos Representantes, 32 estão reservados a mulheres. Alegando não ter garantias suficientes em relação à sua representatividade no novo Parlamento, grupos oriundos das minorias amazigh, tobu e tuaregue apelaram ao boicote.
As eleições foram convocadas há cerca de um mês, quando soaram receios de uma tentativa de golpe por parte de um general desertor. Khalifa Haftar negou as acusações, mas assumiu, por sua conta, o combate às milícias islamitas que controlam partes importantes do país, lançando uma ofensiva na região de Bengasi (leste). O general acusa as milícias de manterem o país refém.
A transição na Líbia tem sido acompanhada por uma sensação de anarquia, para a qual contribuem vários centros de poder — Governo, tribos, milícias, Irmandade Muçulmana (enraizada nas zonas rurais) —, alguns deles em disputa em áreas de produção de petróleo. A Líbia é um dos grandes produtores da OPEP e 95% das receitas do Governo provêm do setor do petróleo.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 25 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui