Favorito nas presidenciais escapa a atentado

Abdullah Abdullah sobreviveu a uma dupla explosão, em Cabul. ‘Modus operandi’ do ataque aponta para os talibãs. Morreram pelo menos quatro civis

O candidato favorito às eleições presidenciais no Afeganistão sofreu, esta sexta-feira, uma tentativa de atentado, da qual saiu ileso. Abdullah Abdullah terminara uma ação de campanha, em Cabul, quando a sua caravana sofreu o impacto de duas explosões. 

Segundo o porta-voz do ministério do Interior, o cortejo foi atingido por um bombista suicida e, num segundo momento, por uma bomba colocada à margem da estrada, na área de Kote Sangi, perto do Hotal Ariana. Morreram pelo menos quatro civis.

Abdullah surgiu, de imediato, na televisão dizendo que estava bem mas que guarda-costas seus tinham ficado feridos.

O ataque não foi imediatamente reivindicado, mas o modus operandi aponta para os talibãs, que lutam para derrubar o Governo apoiado pelo ocidente e que, há menos de um mês, iniciaram a sua tradicional “ofensiva da Primavera” (operação Khyber).

A segunda volta das eleições presidenciais no Afeganistão realiza-se a 14 de junho. Abdullah Abdullah, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, enfrentará Ashraf Ghani Ahmadzai, um ex-ministro das Finanças que trabalhou para o Banco Mundial.

Na sua conta no Twitter, Ahmadzai condenou o ataque ao seu adversário. “Isto é a ação dos inimigos do Afeganistão para perturbar o processo democrático no país.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 6 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui

Portugal saúda o novo Governo palestiniano

O Governo português está disponível para trabalhar com as novas autoridades palestinianas, afirma o ministro dos Negócios Estrangeiros em comunicado

O Executivo português congratulou-se, esta quarta-feira, com a formação do novo Governo de unidade nacional palestiniano, que tomou posse há dois dias. 

“Portugal sempre apoiou a reconciliação palestiniana, sob a liderança do Presidente Abbas e desde que o Governo de unidade respeite o princípio da não violência e os acordos anteriores no âmbito do processo de paz, incluindo o reconhecimento do Estado de Israel”, afirmou, em comunicado, o ministério dos Negócios Estrangeiros. 

“O Governo Português congratula-se, assim, com a declaração do Presidente Abbas assegurando que o novo Governo respeitará estes princípios e reafirma a disponibilidade para trabalhar com as novas autoridades comprometidas com a paz”, continuou o comunicado.

Chefiado pelo primeiro-ministro Rami Hamdallah e composto por tecnocratas, o novo executivo decorre do acordo de reconciliação celebrado entre as duas principais fações palestinianas, Fatah (do Presidente Mahmud Abbas) e Hamas (que não reconhece Israel).

“A reconciliação palestiniana é um passo necessário para a solução de dois Estados, Israel e Palestina”, concluiu o Governo de Lisboa “É agora urgente que as partes retomem as negociações no âmbito do processo de paz.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui

“Paródia eleitoral” na Síria

Bashar al-Assad “sujeitou-se” esta terça-feira à vontade popular para obter um terceiro mandato presidencial. Com a guerra civil em curso, as urnas de voto só chegaram às áreas controladas pelo Governo

Bashar al-Assad foi a votos pela terceira vez desde que é Presidente da Síria. Mas contrariamente a 2000 e 2007, quando foi candidato único, desta vez os boletins de voto continham algo mais do que as opções “sim” e “não”.

Assad foi “desafiado” por duas outras personalidades, desconhecidas dos sírios até serem candidatos.

Maher al-Hajjar, 46 anos, é deputado desde 2012, em representação da província de Alepo. Durante a campanha, prometeu combater a corrupção, melhorar a educação, proteger os consumidores e… libertar os Montes Golã (território sírio ocupado por Israel em 1967).

Hassan al-Nuri, 54 anos, é um empresário com formação académica na Universidade do Wisconsin (EUA), que serviu como ministro de Assad entre 2000 e 2002. Considera-se um dissidente e diz que foi afastado da pasta do Desenvolvimento Administrativo por ser demasiado crítico para com o Governo. Algo difícil de levar a sério tendo em conta afirmações suas ao diário britânico “The Telegraph”, na véspera das eleições… “As minhas hipóteses (de ganhar) não são tão boas como as do Presidente Assad, claro. O povo sírio quer estabilidade, segurança e combate ao terrorismo. Querem uma liderança militar e o Presidente Assad está a fazer um bom trabalho neste domínio.”

Assad votou acompanhado da mulher, Asma, numa assembleia de voto em Maliki, um bairro residencial do centro de Damasco. Os seus adversários exerceram o voto no Hotel Sheraton da capital. 

“Eleições sangrentas”

Washington e Londres qualificaram as eleições sírias como “uma paródia da democracia”. O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, falou esta terça-feira em “farsa”. A oposição síria no exílio – impedida de disputar as eleições por força de uma lei adotada no início deste ano, que restringe a possibilidade de candidatura a cidadãos que vivam no país nos últimos dez anos – referiu-se a “eleições sangrentas”.

Com uma guerra civil em curso no país desde há mais de três anos – as Nações Unidas deixaram de contabilizar os mortos, que já terão superado os 150 mil -, a votação decorreu apenas nas regiões controladas pelo Governo. Bashar al-Assad já não controla largas partes do território, sobretudo a norte – onde, em janeiro, os curdos estabeleceram uma administração autónoma – e a leste. Nessas regiões, multiplicaram-se os apelos ao boicote e as urnas de voto nem foram entregues.

No referendo presidencial de 2007, Bashar al-Assad obteve 97,6% dos votos. Com mais ou menos ponto percentual, conquistará esta terça-feira o terceiro mandato de sete anos. A Constituição síria, de 2012, permite-lhe um quarto mandato, que poderá conquistar em 2021. Se lá chegar e cumpri-lo, somará 28 anos no poder e ficará a apenas um de igualar o “reinado” do pai, Hafez al-Assad (1971-2000).

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui

Novo Governo na Palestina. Conseguirá governar?

Fatah e Hamas formaram um Governo de unidade nacional que tomou posse esta segunda-feira. O Executivo é composto por independentes e tecnocratas

Fatah e Hamas ultrapassaram divergências que duravam há sete anos e formaram um Governo de unidade nacional que tomou posse esta segunda-feira, em Ramallah.

As duas principais fações políticas palestinianas negociaram um Executivo de personalidades tecnocratas e politicamente independentes, chefiado por Rami Hamdallah, o atual primeiro-ministro da Cisjordânia.

O ministério dos Assuntos dos Prisioneiros foi a pasta mais disputada, levando as negociações até ao último minuto. O executivo tem 17 ministros, cinco dos quais oriundos da Faixa de Gaza. Hamdallah é também ministro do Interior.

A principal tarefa do novo Governo é a organização de eleições gerais dentro de seis meses. As últimas eleições presidenciais na Palestina realizaram-se em 2005 e últimas legislativas um ano depois. 

“Hoje, com a formação de um Governo de consenso nacional, anunciamos o fim de uma divisão palestiniana que tem prejudicado muito a nossa causa nacional”, afirmou o Presidente palestiniano, Mahmud Abbas. 

Em Israel, o anúncio foi recebido com hostilidade. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apelou aos líderes mundiais que não se apressem a reconhecer o novo Governo. “O Hamas é uma organização terrorista que defende a destruição de Israel, e a comunidade internacional não deve apoiá-lo. Isso não reforçaria a paz, isso fortaleceria o terror”, disse.

Israel tinha já suspendido as conversações de paz com a Autoridade Palestiniana após a celebração da reconciliação nacional Fatah-Hamas, a 23 de abril passado.

A sombra do passado

Desde 2007 que as duas fações palestinianas têm governado os dois territórios palestinianos separadamente — a Fatah (moderada) na Cisjordânia, através da Autoridade Palestiniana, e o Hamas (islamita) na Faixa de Gaza.

O Hamas vencera as eleições legislativas palestinianas no ano anterior, das quais saíra uma coligação governamental com a Fatah. Esse status quo — ou seja, a participação do Hamas nesse Governo — não foi reconhecido internacionalmente, levando Estados Unidos e outros países ocidentais a reter milhões de dólares de ajuda aos palestinianos.

O crescente isolamento internacional da Palestina levou à rutura. O Hamas depôs a Fatah na Faixa de Gaza, acentuando a liderança bicéfala palestiniana.

As pazes são feitas sete anos depois, com as mesmas preocupações internacionais de então. Num telefonema feito no domingo para o Presidente palestiniano, o secretário de Estado norte-americano John Kerry disse que o novo Governo tem de “comprometer-se com os princípios da não-violência, reconhecimento do Estado de Israel, e aceitação dos acordos prévios” celebrados com os israelitas.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui