Bashar al-Assad “sujeitou-se” esta terça-feira à vontade popular para obter um terceiro mandato presidencial. Com a guerra civil em curso, as urnas de voto só chegaram às áreas controladas pelo Governo
Bashar al-Assad foi a votos pela terceira vez desde que é Presidente da Síria. Mas contrariamente a 2000 e 2007, quando foi candidato único, desta vez os boletins de voto continham algo mais do que as opções “sim” e “não”.
Assad foi “desafiado” por duas outras personalidades, desconhecidas dos sírios até serem candidatos.
Maher al-Hajjar, 46 anos, é deputado desde 2012, em representação da província de Alepo. Durante a campanha, prometeu combater a corrupção, melhorar a educação, proteger os consumidores e… libertar os Montes Golã (território sírio ocupado por Israel em 1967).
Hassan al-Nuri, 54 anos, é um empresário com formação académica na Universidade do Wisconsin (EUA), que serviu como ministro de Assad entre 2000 e 2002. Considera-se um dissidente e diz que foi afastado da pasta do Desenvolvimento Administrativo por ser demasiado crítico para com o Governo. Algo difícil de levar a sério tendo em conta afirmações suas ao diário britânico “The Telegraph”, na véspera das eleições… “As minhas hipóteses (de ganhar) não são tão boas como as do Presidente Assad, claro. O povo sírio quer estabilidade, segurança e combate ao terrorismo. Querem uma liderança militar e o Presidente Assad está a fazer um bom trabalho neste domínio.”
Assad votou acompanhado da mulher, Asma, numa assembleia de voto em Maliki, um bairro residencial do centro de Damasco. Os seus adversários exerceram o voto no Hotel Sheraton da capital.
“Eleições sangrentas”
Washington e Londres qualificaram as eleições sírias como “uma paródia da democracia”. O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, falou esta terça-feira em “farsa”. A oposição síria no exílio – impedida de disputar as eleições por força de uma lei adotada no início deste ano, que restringe a possibilidade de candidatura a cidadãos que vivam no país nos últimos dez anos – referiu-se a “eleições sangrentas”.
Com uma guerra civil em curso no país desde há mais de três anos – as Nações Unidas deixaram de contabilizar os mortos, que já terão superado os 150 mil -, a votação decorreu apenas nas regiões controladas pelo Governo. Bashar al-Assad já não controla largas partes do território, sobretudo a norte – onde, em janeiro, os curdos estabeleceram uma administração autónoma – e a leste. Nessas regiões, multiplicaram-se os apelos ao boicote e as urnas de voto nem foram entregues.
No referendo presidencial de 2007, Bashar al-Assad obteve 97,6% dos votos. Com mais ou menos ponto percentual, conquistará esta terça-feira o terceiro mandato de sete anos. A Constituição síria, de 2012, permite-lhe um quarto mandato, que poderá conquistar em 2021. Se lá chegar e cumpri-lo, somará 28 anos no poder e ficará a apenas um de igualar o “reinado” do pai, Hafez al-Assad (1971-2000).
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de junho de 2014. Pode ser consultado aqui