Fidel, Portugal e os portugueses

Fidel esteve em Portugal por duas vezes. A primeira no Porto, em 1998, para participar na VIII Cimeira Ibero-Americana. A segunda em maio de 2001, para contactos institucionais. José Saramago, António Guterres, Jorge Sampaio, Pina Moura e Américo Amorim foram alguns dos portugueses que, em Portugal ou no estrangeiro, privaram com “El Comandante”. Fotogaleria de encontros históricos

José Saramago e Fidel Castro abraçam-se durante uma ação de solidariedade com Cuba, em Matosinhos, em 1998 REUTERS
Na fila atrás de Fidel, para além de Saramago, está Narciso Miranda, então presidente da câmara de Matosinhos REUTERS
O comício em Matosinhos realizou-se a 18 de outubro de 1998, dez dias após José Saramago ter ganho o Prémio Nobel da Literatura REUTERS
Fidel, Jorge Sampaio (Presidente de Portugal) e José Maria Aznar (primeiro-ministro de Espanha), na foto de família da VII Cimeira Ibero-Americana, em 1997, na Ilha de Margarita (Venezuela) ANDREW WINNING / REUTERS
A VIII Cimeira Ibero-Americana realizou-se no Porto, nos dias 17 e 18 de outubro de 1998. Fidel brinda com o monarca espanhol Juan Carlos, com um cálice de Porto JOSÉ MANUEL RIBEIRO / REUTERS
Ao lado de Andrés Pastrana (Presidente da Colômbia) e à frente Fraga Iribarne (presidente da Galiza), durante a cerimónia de entronização da Confraria do Vinho do Porto, a 17 de outubro de 1998 DESMOND BOYLAN / REUTERS
Sessão final da VIII Cimeira Ibero-Americana, realizada no edifício da Alfândega da cidade Invicta RICKEY ROGERS / REUTERS
Foto de família dos chefes de Estado e de Governo da América Latina, de Portugal e de Espanha participantes na VIII Cimeira Ibero-Americana, com a ponte da Arrábida como cenário MARCELO DEL POZO / REUTERS
Na companhia do empresário Américo Amorim e de Pina Moura, então ministro da Economia, após a visita a uma fábrica de cortiça, a 19 de outubro de 1998 REUTERS
Recebendo o Presidente português Jorge Sampaio, no aeroporto de Havana, a 14 de novembro de 1999 REUTERS
Sampaio participou na IX Cimeira Ibero-Americana, que se realizou na capital cubana, a 15 e 16 de novembro de 1999 REUTERS
Fidel Castro retribuiu a visita a Jorge Sampaio, no Palácio de Belém, a 17 de maio de 2001 REUTERS
O líder cubano passou por Lisboa após um périplo pelo Médio Oriente e Norte de África REUTERS
À conversa com o primeiro-ministro António Guterres, no Palácio de S. Bento, a 17 de maio de 2001 REUTERS

Com Guterres, num passeio animado pelos jardins do Palácio de S. Bento REUTERS

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 18 de julho de 2014 e republicado a 26 de novembro de 2016. Pode ser consultado aqui e aqui

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Cessar-fogo fora da agenda israelita

O primeiro-ministro israelita diz que os bombardeamentos a Gaza são para continuar. O Presidente palestiniano acusa Israel de “genocídio”

O primeiro-ministro israelita afirmou esta quinta-feira que um cessar-fogo na Faixa de Gaza “não está na agenda”. Benjamin Netanyahu respondia a deputados interessados em saber se estão em curso contactos diplomáticos internacionais, nomeadamente com o Egito, o outro vizinho da Faixa de Gaza, no sentido da obtenção de uma trégua. “Não estou a falar com ninguém sobre um cessar-fogo agora.” 

A posição de Netanyahu segue-se ao envio de uma carta, assinada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, aos homólogos internacionais (de países com quem Israel tem relações diplomáticas), onde Avigdor Liberman justificou a intervenção militar e pediu apoio e “compreensão em relação ao exercício do legítimo direito à autodefesa” por parte de Israel.

“É importante que os líderes mundiais condenem o disparo contínuo de rockets pelo Hamas e outros grupos terroristas contra povoações israelitas, e tomem medidas para que seja desmantelada a infraestrutura terrorista do Hamas.”

O ministro israelita apelou também ao fim do Governo palestiniano – que tomou posse a 2 de junho, após um processo de reconciliação entre as duas fações palestinianas, Fatah e Hamas. “É evidente que o Governo palestiniano tem de dissolver imediatamente a sua parceria com o Hamas.”

Presidente palestiniano recorda Auschwitz

O Presidente palestiniano, por seu lado, descreveu a operação militar israelita como “um genocídio contra o povo palestiniano”. “Esta não é uma guerra contra o Hamas ou qualquer outra fação, mas antes contra o povo palestiniano”, afirmou Mahmud Abbas ontem à tarde, durante uma reunião da liderança palestiniana convocada de emergência, em Ramallah, para discutir eventuais pedidos de adesão da Palestina ao Tribunal Penal Internacional de Haia e outras organizações internacionais. 

“É genocídio. A morte de famílias inteiras por parte de Israel contra o nosso povo é genocídio”, acusou Abbas. “Devemos recordar Auschwitz?” O ministério palestiniano da Saúde informou hoje que cerca de metade das vítimas mortais em Gaza são mulheres e crianças. Segundo a agência de notícias Ma’an, o número de mortos ultrapassou, hoje, os 80.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de julho de 2014. Pode ser consultado aqui

Fogo cruzado nos céus de Gaza

Continuam os bombardeamentos aéreos ao território palestiniano, enquanto em Israel se prepara uma invasão terrestre. A operação contra o Hamas já fez dezenas de mortos. O Expresso falou com um palestiniano de uma das cidades no centro do conflito

Issa Amro tem acompanhado os bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza à distância, apesar de viver muito próximo do local que está na origem da mais recente crise israelo-palestiniana. Issa é palestiniano e vive em Hebron, na Cisjordânia, local onde foram raptados e encontrados mortos três jovens israelitas. Às mãos do Hamas, acusa Israel.

“A situação aqui está muito tensa”, diz ao Expresso. “Há mais militares israelitas do que habitualmente e todas as noites fazem rusgas casa a casa.” Procuram pistas que os levem até aos responsáveis pela morte dos três judeus e “procuram destruir tudo o que podem”, diz Issa.

“O Netanyahu [primeiro-ministro israelita] e o seu governo têm sede de sangue”, acusa Issa. Por isso, o ataque israelita que começou terça-feira em Gaza não o surpreende. A operação tem consistido em bombardeamentos efetuados por aviões de combate e navios da Marinha que disparam a partir do Mediterrâneo. Mas Issa acredita que a intervenção poderá não ficar por aqui.

As autoridades de Telavive já aprovaram a mobilização de cerca de 40 mil reservistas a pensar numa invasão terrestre. “Não acredito que eles entrem nas áreas densamente povoadas”, diz o palestiniano. “Acho que vão ficar nos descampados, junto à fronteira.”

Tiro ao motociclista

Desencadeada terça-feira, a operação “Barreira de Proteção” (“Protective Edge”, em inglês) visa punir o Hamas — a organização islamita que controla o território desde 2007 — e parar com a ‘chuva de rockets’ disparados na direção de Israel.

“Vamos continuar a realizar ataques que constituam um alto preço para o Hamas”, afirmou esta quarta-feira o ministro israelita da Defesa, Moshe Ya’alon. “Estamos a destruir armas, infraestruturas terroristas, sistemas de controlo, instituições, edifícios governamentais, casas de terroristas. E estamos a matar altos comandantes.”

As Forças de Defesa de Israel confirmaram que Abdullah Difallah, um destacado operacional do Hamas, foi atingido esta quarta-feira no norte do território, quando seguia de moto.

Também a norte, na área de Beit Hanoun, uma das casas atingidas durante a madrugada pertencia a Hafiz Hamad, um líder da Jihad Islâmica, outra organização islamita com influência na Faixa de Gaza. Cinco familiares de Hamad morreram durante o ataque, sendo homens e mulheres entre os 16 e os 62 anos.

O número de mortos em Gaza desatualiza a cada hora que passa. A meio da tarde, o balanço da agência palestiniana Ma’an apontava para 39 mortos. Nas primeiras 24 horas da operação morreram 24 pessoas.

‘Rockets’ que voam longe

As autoridades militares israelitas alertam para o alcance de alguns ‘rockets’ que estão a ser disparados desde Gaza, nomeadamente o M302, de fabrico sírio, que pode voar 160 quilómetros. Um destes projéteis já caiu na cidade de Hadera (norte de Israel), a 100 quilómetros de Gaza, algo nunca conseguido anteriormente.

As Forças de Defesa de Israel dizem que o M302 “pode atingir a maior parte do território”. Issa Amro diz que não defende o lançamento de ‘rockets’. “Mas neste momento é a única opção” que Gaza tem para se defender, refere.

Telavive e Jerusalém contam-se entre as grandes cidades israelitas atingidas pelos ‘rockets’ do Hamas. Algumas dezenas foram intercetados pelo escudo de defesa Cúpula de Ferro, disperso pelo país.

Em Telavive, a Conferência sobre a Paz realizada terça-feira pelo diário israelita “Haaretz” foi interrompida pelo som das sirenes de alerta, obrigando os participantes a refugiarem-se no bunker. Quando lhe foi possível intervir, Phillip Gordon, coordenador das questões para o Médio Oriente da Casa Branca, afirmou: “Os Estados Unidos protegerão sempre Israel. É por isso que lutamos todos os dias [por Israel] nas Nações Unidas”.

Porém, continuou o norte-americano, essa aliança não inibe Washington de fazer perguntas importantes. “Como irá Israel permanecer democrático e judeu se tenta governar milhões de árabes palestinianos que vivem na Cisjordânia? Como terá paz se não está disposto a delinear uma fronteira, acabar com a ocupação e permitir a soberania, segurança e dignidade palestinianas? Como iremos impedir que outros países apoiem os esforços palestinianos em organizações internacionais, se Israel não for encarado como um país comprometido com a paz?”

AS ÚLTIMAS DUAS GRANDES OPERAÇÕES

“Pilar de Defesa”, 2012
Israel bombardeou Gaza entre 14 e 21 de novembro para atingir a capacidade militar do Hamas, que vinha lançando ‘rockets’ contra o seu território. O início da operação foi marcado pelo assassínio de Ahmed Jabari, chefe do braço militar do Hamas em Gaza. Segundo a Amnistia Internacional, morreram 99 pessoas em Gaza; do lado israelita, morreram dois soldados e quatro civis.

“Chumbo Fundido”, 2008/2009
Começou a 27 de dezembro, em plena festividade da Hanuka judaica, e durou até 18 de janeiro, envolvendo uma invasão terrestre. Israel atacou após o Hamas ter terminado o cessar-fogo que durava há meio ano, acusando os israelitas de não suspenderem o bloqueio por terra, mar e ar à Faixa de Gaza. Morreram 1417 pessoas em Gaza, a maioria civis, e 13 militares israelitas e três civis.

(IMAGEM Bandeiras de Israel e do Hamas WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 9 de julho de 2014. Pode ser consultado aqui

Israel lança operação militar contra o Hamas

É a terceira ofensiva militar no território palestiniano dos últimos seis anos. Os bombardeamentos aéreos já começaram e a ofensiva terrestre está a ser preparada

Israel iniciou esta terça-feira uma ofensiva militar na Faixa de Gaza, visando “restabelecer a estabilidade no sul” de Israel. A operação “Barreira de Proteção” começou com bombardeamentos aéreos sobre mais de 50 alvos.

O diário egípcio “Al-Ahram” noticiou que um carro com civis foi atingido no bairro de Daraj, no centro de Gaza, tendo matado os seus cinco ocupantes, as primeiras baixas desta operação.

Ao início da tarde, após uma reunião no ministério da Defesa, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou ao Exército israelita para que se prepare para uma possível invasão terrestre.

“As instruções do primeiro-ministro no fim da reunião foram no sentido de nos prepararmos para uma campanha minuciosa, longa, contínua e forte em Gaza”, afirmou um alto responsável, não identificado, citado pelo diário israelita “Haaretz”. “O primeiro-ministro ordenou que o exército esteja preparado para entrar. Está sobre a mesa uma ofensiva terrestre.”

Chuva de ‘rockets’ sobre Israel

A escalada segue-se à intensificação do lançamento de “rockets” desde a Faixa de Gaza contra território israelita. Segundo as Forças de Defesa de Israel, só na segunda-feira, foram disparados mais de 85 foguetes.

O Hamas reivindicou a responsabilidade por alguns lançamentos, que atingiram grandes cidades do sul de Israel e, pela primeira vez no decurso desta crise, fizeram soar as sirenes de alarme na região central do país e em Jerusalém.

Esta operação é a terceira contra o território palestiniano da Faixa de Gaza dos últimos seis anos, visando punir o movimento islamita Hamas, que controla aquele território desde 2007: no final de 2008, Israel desencadeou a operação “Chumbo Fundido” e, em novembro de 2009, e a ofensiva “Pilar Defensivo”.

O início do novo ataque a Gaza aconteceu um dia após três israelitas terem confessado a autoria do rapto e assassínio do jovem palestiniano Mohammed Abu Khdeir, queimado vivo até à morte.

Israel efetuou seis detenções relacionadas com este caso, que os investigadores acreditam ter sido um ato de vingança contra o rapto e morte de três jovens israelitas, na área de Hebron (Cisjordânia).

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de julho de 2014. Pode ser consultado aqui

Violência em Jerusalém após rapto e morte de jovem palestiniano

Os confrontos regressaram às ruas de Jerusalém, após o assassinato de um jovem palestiniano. Teme-se que tenha sido um ato de vingança pelo rapto e morte de três estudantes israelitas

A descoberta do cadáver de um palestiniano de 16 anos, numa floresta de Jerusalém, desencadeou confrontos entre residentes e forças de segurança israelitas, em Jerusalém Leste — a parte árabe da cidade, ocupada por Israel desde 1967. No bairro Shuafat, palestinianos arremessaram pedras contra a polícia israelita que respondeu disparando balas de borracha e gás lacrimogéneo.

O corpo de Muhammad Hussein Abu Khdeir foi encontrado esta quarta-feira de manhã. As autoridades israelitas têm em curso uma investigação no sentido de apurar se, na origem desta morte, estão motivações “nacionalistas ou criminais”. Entre os palestinianos não há dúvidas de que se tratou de um ato de vingança.

O corpo foi encontrado horas após o funeral de três jovens israelitas, que estavam desaparecidos desde o dia 12 e foram encontrados mortos, esta terça-feira, num descampado perto da cidade palestiniana de Hebron. Israel atribui o crime ao Hamas.

Ao diário “The Times of Israel”, o tio de Muhammad disse que várias pessoas viram o sobrinho a ser forçado a entrar num Hyundai cinzento, e que esses raptores eram judeus. Mahmud afirmou ainda que o jovem foi levado cerca das quarto da manhã (de quarta-feira) e que várias testemunhas tentaram perseguir o carro.

Husam Abed, morador na área de Shuafat, contou ao sítio “Jerusalem Online”: “No dia anterior (ao rapto de Muhammad Khdeir) tinha havido uma tentativa de rapto a um rapaz de 14 anos. Testemunhas atacaram o carro e o suspeito fugiu”.

Justiça pelas próprias mãos

Após ordenar uma investigação ao “assassinato abominável”, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apelou a todas as partes para que “não façam justiça pelas próprias mãos”.

O Presidente palestiniano, por seu lado, instou o chefe do Governo de Telavive a “condenar o rapto e assassinato do jovem palestiniano”, disse Mahmud Abbas em comunicado. “Da mesma forma que nós condenamos o rapto dos três israelitas”, acrescentou.

Para tentar conter possíveis confrontos, as forças de segurança israelitas fecharam o acesso ao Monte do Templo — onde se situa a Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado para os muçulmanos, que iniciaram no domingo o mês sagrado do Ramadão.

O Monte do Templo é um local de grande sensibilidade para muçulmanos e judeus. Desse complexo faz parte também o Muro das Lamentações, o local mais importante para os judeus. Em setembro de 2000, uma visita à Esplanada das Mesquitas do então primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, foi interpretada como uma provocação pelos palestinianos, que logo ali iniciaram a segunda Intifada (revolta), que durou até 2005.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de julho de 2014. Pode ser consultado aqui