Aeroporto de Tripoli muda de mãos, para outra milícia

Forças islamitas conquistam o aeroporto internacional de Tripoli e acusam Egito e Emirados de bombardearem a capital

Os Estados Unidos terão sido apanhados de surpresa. Segundo quatro responsáveis norte-americanos citadas pelo diário “The New York Times”, duas séries de bombardeamentos, na semana passada contra milícias islamitas líbias em Tripoli, foram levadas a cabo pelo Egito e pelos Emirados Árabes Unidos.

Os dois países árabes terão agido sem consulta prévia às autoridades norte-americanas, de quem são aliados e parceiros militares.

“Os responsáveis afirmaram que os Emirados Árabes Unidos – que ostentam uma das forças aéreas mais eficazes do mundo árabe, graças a equipamento e treino americanos – forneceram os pilotos, os aviões de guerra e os aviões de reabastecimento necessários aos caças para o bombardeamento a Tripoli, a partir de bases no Egito”, escreveu o jornal norte-americano. “Não ficou claro se os aviões ou munições eram de fabrico americano.” Internamente, os regimes egípcios e emiratis têm reprimido as forças islamitas. Mas ambas as capitais negam este envolvimento.

A polémica estalou após a força islamita Fajr Libya (Amanhecer da Líbia) ter anunciado, no fim de semana, a conquista do aeroporto internacional de Tripoli. Desde a queda do regime de Muammar Kadhafi, em 2011, que o aeroporto estava nas mãos de uma milícia rival, a Zintan.

Mohamed al-Ghariani, porta-voz da milícia islamita reconheceu que os islamitas sofreram um ataque aéreo que provocou dez mortos entre os seus combatentes. “Os Emirados e o Egito estão envolvidos nessa agressão”, disse.

Dois Parlamentos e dois Governos

À instabilidade das ruas soma-se o caos político. Segunda-feira, o Congresso Geral Nacional – o Parlamento eleito em 2012 (onde os islamitas tinham voz forte) e que foi entretanto dissolvido – voltou a reuniu-se e escolheu um primeiro-ministro, Omar al-Hasi, apoiado pelos islamitas. 

Isto coloca a Líbia com duas lideranças e duas assembleias, cada qual apoiada por diferentes fações armadas. Em junho passado, tinha sido eleito um novo Parlamento, a Casa dos Representantes (dominada por liberais e federalistas), cuja legitimidade os islamitas não reconhecem. 

A Casa reúne na cidade de Tobruk (leste), longe das confusões em Tripoli e Bengasi. “A Casa dos Representantes é o único órgão legítimo na Líbia”, reagiu o primeiro-ministro Abdullah al-Thinni, um dos dois chefes de Governo líbios.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 26 de agosto de 2014. Pode ser consultado aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *