Os bombardeamentos da coligação internacional não chegam para travar o “Estado Islâmico”. Forças curdas iraquianas vão a caminho da Síria para reforçarem a defesa da cidade estratégica de Kobane
Um grupo de “peshmergas” (combatentes curdos iraquianos) está a caminho da Síria para reforçar as hostes que lutam contra o “Estado Islâmico”, que ameaça tomar a cidade de Kobane, junto à fronteira com a Turquia.
Cerca de 150 combatentes, divididos em dois grupos, saíram do Iraque e entraram na Turquia, onde ficaram a aguardar entrada na Síria.
Um mais pequeno viajou por terra, transportando consigo armamento pesado. Já em território turco, foi recebido em clima de festa por curdos locais (cerca de 20% da população da Turquia é curda) que agitavam bandeiras do Curdistão (o país com que sonham). Os curdos iraquianos (que já desfrutam de uma região autónoma) responderam com o “V” da vitória. A polícia disparou para o ar para dispersar a multidão.
O contingente mais numeroso viajou de avião até ao aeroporto Sanliurfa, no sudeste da Turquia, onde chegaram na madrugada de quarta-feira, seguindo depois em autocarros escoltados por forças de segurança turcas.
Antes de entrarem na Síria, os dois grupos têm reunião prevista durante esta quarta-feira, na região de Suruc, a cerca de 15 quilómetros de Kobane.
Bombardeamentos ineficazes
A Turquia tem sido fortemente pressionada para se envolver mais ativamente no combate ao “Estado Islâmico” e, concretamente, impedir que os jihadistas conquistem Kobane.
Semanas de bombardeamentos aéreos contra posições jihadistas nessa cidade (uma campanha em que participam os Estados Unidos e aliados árabes) não romperam ainda com o cerco montado pelos jihadistas (que só não controlam a parte norte, precisamente junto à fronteira com a Turquia).
A colaboração com os combatentes curdos é, porém, um assunto sensível na Turquia, onde o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) luta, há décadas, por um Curdistão independente em parte do território.
Segundo o sítio “Al-Monitor”, especializado na análise sobre o Médio Oriente, cerca de 150 combatentes do Exército Livre da Síria (rebeldes moderados apoiados pelo ocidente e pela Turquia) atravessaram, esta quarta-feira, a fronteira turco-síria com o intuito de reforçar a defesa de Kobane. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos confirmou a informação, mas colocou o número em 50.
Desconhece-se qual a origem deste grupo específico. O Exército Livre da Síria é uma coligação de forças rebeldes que integra seculares e islamitas. Recentemente, Ancara prometeu facilitar o trânsito de 1300 combatentes do Exército Livre da Síria.
A ofensiva do “Estado Islâmico” sobre Kobane dura desde 16 de setembro. Em 40 dias de combates morreram 815 pessoas. Para além de estratégica, a batalha de Kobane tem uma importância simbólica: é um teste à coligação internacional formada para travar a ameaça islamita.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de outubro de 2014. Pode ser consultado aqui