O líder norte-coreano não é visto em público há cerca de um mês. Adensam-se os rumores sobre o seu estado de saúde. Na ausência de Kim Jong-un, um representante norte-coreano junto da ONU admitiu em Nova Iorque que no país se “reeducam” aqueles que erram em “campos de trabalho”
A Coreia do Norte admitiu, pela primeira vez, a existência de campos de trabalhos forçados no território. “Tanto na lei como na prática, reeducamos através de campos de trabalho — e não centros de detenção — onde as pessoas são mentalmente melhoradas e refletem sobre os seus erros”, disse Choe Myong Nam, responsável do ministério dos Negócios Estrangeiros e representante do país junto das Nações Unidas.
A afirmação foi feita durante um raro encontro com jornalistas, em Nova Iorque, e surge como uma tentativa de resposta a um duro relatório das Nações Unidas sobre os direitos humanos na Coreia do Norte, divulgado em fevereiro. O texto alertava para casos concretos de “extermínio, assassinato, escravatura, tortura, detenção, violação, abortos forçados e outro tipos de violência sexual”, ilustrados por relatos atrozes — como a mulher que foi obrigada a afogar o filho ou os presos forçados a cavar as suas sepulturas para depois serem mortos com marteladas no pescoço.
No encontro com a imprensa em Nova Iorque, o responsável norte-coreano evitou responder a perguntas sobre a saúde do líder norte-coreano,Kim Jong-un, que não é visto em público há cerca de um mês, o que tem dado azo a especulações.
No domingo, o chefe de Estado norte-coreano — um confesso amante de desporto — esteve ausente da receção aos atletas que participaram nos Jogos Asiáticos, que se realizaram em Incheon, na vizinha — e rival — Coreia do Sul, com quem o Norte continua tecnicamente em guerra desde 1953.
“Centenas de milhar de pessoas”, segundo a agência noticiosa norte-coreana, saudaram, na berma das ruas de Pyongyang, a delegação de 150 atletas que conquistou 11 medalhas de ouro e 25 de prata e bronze, naquela que foi a melhor participação do país na competição desde 1990. Uma celebração nacional à qual Kim Jong-un faltou.
Na véspera, o general Hwang Pyong-so, tido no estrangeiro como o número dois do regime norte-coreano, encabeçara a delegação que se deslocou à Coreia do Sul — oficialmente para assistir à cerimónia de encerramento dos Jogos Asiáticos, oficiosamente, diz-se, com motivações políticas.
Os rumores acerca do estado de saúde de Kim Jong-un dispararam a 25 de setembro quando o Presidente falhou, pela primeira vez em três anos de poder, uma sessão da Assembleia Suprema do Povo, o Parlamento norte-coreano. Então, a televisão estatal noticiou que a ausência se devia a um “desconforto físico”.
A norte, a saúde do Presidente é um tabu, mas na parte sul da península, a agência Yonhap informou que Kim Jong-un, de 31 anos, padece de gota. Está lançado o debate sobre quem, realmente, está ao comando do país mais isolado do mundo.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de outubro de 2014. Pode ser consultado aqui