O Papa Francisco chega sexta-feira à muçulmana Turquia. O líder da Igreja Católica vai encontrar-se com o patriarca ortodoxo de Constantinopla, numa altura em que os cristãos correm o risco de desaparecer do Oriente
O Papa Francisco chega na sexta-feira à Turquia — onde 98% dos 74 milhões de habitantes são muçulmanos — para cumprir a sua quinta visita ecuménica. O líder da Igreja Católica tem previsto um encontro com o ortodoxo Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, numa altura em que as minorias cristãs no Médio Oriente sofrem perseguições generalizadas — as mais graves das quais às mãos do “Estado Islâmico”, no Iraque e na Síria.
Estima-se que mais de 100 mil cristãos, ameaçados pelos extremistas, tenham sido forçados a fugir da província de Nínive, no norte do Iraque. Em agosto, o Sumo Pontífice admitiu que o uso da força contra o autodenominado Estado Islâmico “pode justificar-se”.
O avião papal aterra no aeroporto de Ancara na sexta-feira à tarde, onde Francisco terá à sua espera o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Na capital, o Papa visitará o túmulo de Mustafa Kemal Ataturk, o fundador da Turquia moderna (país herdeiro do Império Otomano), promotor de uma identidade nacional secular cada vez mais posta em causa por medidas de caráter islamizante impulsionadas pelo Presidente.
Sábado será o dia dedicado a Istambul e ao encontro com o representante da igreja ortodoxa. Francisco visitará também a Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia), construída no século VI para ser a Catedral de Constantinopla e convertida em mesquita após a conquista muçulmana da cidade, em 1453. Hoje, o templo é um museu.
Francisco será o quarto líder católico a visitar a Turquia – após Paulo VI (1967), João Paulo II (1979) e Bento XVI (2006). O início do diálogo entre estas duas igrejas cristãs remonta a janeiro de 1964, ano em que o Patriarca Grego Ortodoxo Atenágoras I de Constantinopla e o Papa Paulo VI se encontraram em Jerusalém. Foi o primeiro encontro ecuménico ao mais alto nível desde o Grande Cisma do século XI.
Discurso no Parlamento Europeu
Antes da sua deslocação à Turquia, o Papa Francisco viajou até Estrasburgo. Na terça-feira, falou no Parlamento Europeu — o último Papa a discursar naquele hemiciclo foi João Paulo II, em 1988, ainda o Muro de Berlim estava intacto.
“É necessário enfrentarmos juntos a questão migratória. Não se pode tolerar que o Mar Mediterrâneo se torne um grande cemitério!”, alertou o Papa, cuja primeira viagem oficial, em julho de 2013, foi à ilha italiana de Lampedusa, ponto de chegada de milhares de imigrantes africanos em busca de trabalho na Europa.
“Nos barcos que chegam diariamente às costas europeias, há homens e mulheres que precisam de acolhimento e ajuda. A falta de apoio no seio da União Europeia arrisca-se a incentivar soluções particulares para o problema que não têm em conta a dignidade humana dos migrantes, promovendo o trabalho servil e contínuas tensões sociais.”
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 26 de novembro de 2014. Pode ser consultado aqui