Presidente foge para sul e deixa o Iémen sem norte

Colocado em prisão domiciliária pelos rebeldes huthis, que controlam a capital iemenita, o Presidente Hadi conseguiu escapar e refugiou-se em Aden. Teme-se que essa movimentação beneficie as pretensões independentistas do sul

As grandes manifestações voltaram à capital do Iémen com milhares de pessoas a marcharem até à residência pessoal do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi em solidariedade para com o chefe de Estado e para reclamar… uma outra capital para o país.

“A capital tem de ser Aden porque uma capital deve estar livre de milícias”, dizia a estudante Omaima Salah, à reportagem do jornal “Yemen Times”. Desde setembro que Sana’a, a capital do Estado, é controlada pelos rebeldes huthis (xiitas, confissão minoritária no país), que desde há um mês e até ao passado fim de semana mantiveram o Presidente em prisão domiciliária, forçando-o à demissão.

A situação no Iémen deu uma reviravolta após, no sábado, o Presidente Hadi ter conseguido escapar ao controlo dos rebeldes. Citando fontes huthis, o “Yemen Times” diz que Hadi disfarçou-se com roupas de mulher.

Após fugir da capital e refugiar-se em Aden, sua cidade natal e a grande cidade do sul, Hadi emitiu um comunicado declarando que ainda é o Presidente do Iémen e apelando a que todas as decisões políticas tomadas pelos huthis sejam declaradas ilegais e inválidas.

Unidade ou fragmentação?
Segundo a imprensa iemenita, o Presidente está a desenvolver contactos, desde Aden, com governadores provinciais no sentido de recuperar o controlo do país. 

Segunda-feira, as poderosas tribos de Bani Hilal demonstraram a sua lealdade a Hadi realizando uma parada militar na província de Shabwa (sul). E em Taiz, sudoeste, protestos populares exigiram a expulsão dos huthis de Sana’a e a reposição da autoridade de Hadi.

Mas crescem dúvidas quanto à real eficácia da fuga do Presidente para sul. “Imediatamente levantou-se a questão de saber se essa movimentação irá ajudar à unidade ou aumentar a probabilidade da secessão”, alerta o “Yemen Times”.

Para além da minoria huthi, e das suas reivindicações políticas, o Iémen alberga ainda um movimento secessionista, precisamente na região sul, e ainda, mais para leste, a Al-Qaeda na Península Arábica, que é atualmente o ramo mais ativo da organização terrorista. Acresce que, até 1990, o ano da reunificação do Iémen, Aden foi a capital do Iémen do Sul.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de fevereiro de 2015. Pode ser consultado aqui

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