Refugiado em Aden, Abed Rabbo Mansour Hadi fugiu para parte incerta, ameaçado pelo avanço dos rebeldes houthis. Horas antes, apelou à ONU que autorize uma intervenção militar no país
O Presidente do Iémen fugiu esta quarta-feira do palácio onde vivia refugiado, na cidade de Aden (sul). Abed Rabbo Mansour Hadi seguiu para parte incerta, após os rebeldes houthis (minoria xiita que controla a capital desde setembro) terem avançado para sul e tomado a base aérea Al-Annad, a cerca de 60 quilómetros da cidade portuária de Aden, temporariamente transformada na capital do país.
Esta instalação militar era usada por tropas norte-americanas e europeias e era crucial para o desenvolvimento de operações com drones (aviões não tripulados) contra a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), instalada no leste do Iémen.
Recentemente, os Estados Unidos retiraram cerca de 100 militares ali estacionados após a AQPA ter conquistado uma cidade nos arredores. Também o Reino Unido retirou o seu pessoal.
Segundo a AFP, citando um membro da guarda presidencial, o Presidente fugiu para o estrangeiro, a bordo de um helicóptero. Controlada pelos houthis, a televisão estatal anunciou uma recompensa de 20 milhões de riais iemenitas (85 mil euros) pela captura do Presidente.
Quem não conseguiu escapar foi o ministro da Defesa, Mahmoud al-Subaihi, detido pelos houthis na cidade de Lahj (sul), onde decorrem combates entre grupos rivais.
As forças leais ao Presidente estavam em estado de alerta após a conquista, pelos houthis da cidade de Taiz, no domingo passado, considerada a “porta de entrada” no sul do Iémen. Segundo a Associated Press, milícias e unidades militares afetas ao Presidente “fragmentaram-se”, facilitando assim o avanço dos houthis.
Sauditas reforçam dispositivo militar junto à fronteira
Na terça-feira, numa carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU, o Presidente iemenita instou o órgão a autorizar uma intervenção militar no Iémen para travar “a agressão dos houthis”. Hadi também pediu ajuda ao Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita e as cinco petromonarquias) e à Liga Árabe.
A ofensiva houthi para sul foi declarada após os atentados suicidas, na semana passada, contra duas mesquitas frequentadas pelos houthis em Sana’a. O líder do grupo, Abdel-Malik al-Houthi, ordenou a mobilização geral das suas forças com o objetivo de combater a AQPA e outros grupos armados.
O Iémen é um dos países mais pobres do mundo e corre sérios riscos de mergulhar numa guerra civil generalizada, que pode arrastar toda a vizinhança: os houthis são xiitas como o poder no Irão (de quem recebem apoio), mas todas as lideranças da Península Arábica são sunitas.
Duas fontes do Governo dos EUA avançaram à agência Reuters que a Arábia Saudita está a deslocar equipamento militar pesado para junto da sua fronteira com o Iémen. “Se o golpe houthi não terminar pacificamente, nós tomaremos as medidas necessárias para proteger a região”, disse o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Saud al-Faisal.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 25 de março de 2015. Pode ser consultado aqui