Quatro anos de cruel guerra civil

A Primavera Árabe morreu na Síria quando aos protestos pacíficos pedindo liberdade e democracia a ditadura respondeu com uma repressão sangrenta. Depressa se caíu numa guerra civil cujo arrastamento levou à perda de influência dos oposicionistas moderados, ultrapassados pelos ultraradicais sunitas, uns financiados pelos petrodólares sauditas, outros apoiados pela Al-Qaeda. E ainda haveria de surgir o islamo-gangsterismo do Daesh (acrónimo árabe do Estado Islâmico). Um fotógrafo brasileiro passou meses em Alepo, ao lado dos rebeldes rebeldes. E testemunhou o sofrimento do povo sírio.

Quase impercetível entre os escombros, uma menina corre pelo que resta de uma rua da cidade síria de Alepo

Professores, dentistas, estudantes… De um dia para outro, muitos sírios abandonaram os seus afazeres e pegaram em armas pela primeira vez na vida. Numa primeira fase, revoltados contra o regime de Bashar al-Assad, que reprimia com violência protestos pacíficos que pediam mais liberdade e democracia. Posteriormente, uns contra os outros, quando já era claro que pouco ou nada unia a oposição ao regime. A guerra civil generalizou-se. As fotos acima retratam três rebeldes: um lê o Corão durante uma pausa nos combates; outro dirige-se para a frente de guerra; noutra, um jovem combatentes goza da “tranquilidade” do bairro de Salaheddin, em Alepo, onde já não parece haver vida.

Quatro anos de guerra condenaram milhões de sírios a um futuro incerto. Segundo as Nações Unidas, o conflito provocou quase quatro milhões de refugiados, acolhidos pelos países vizinhos como é o caso da família fotografada em Kilis, na Turquia.

Quase o dobro (7,5 milhões) tornaram-se deslocados internos como as duas crianças retratadas, que encontraram refúgio no campo de Bab al-Salam (Porta da Paz), junto à fronteira com a Turquia; ou como Zaira (em baixo), de 27 anos, que segura uma foto do marido, morto na cidade onde viviam e que ela teve de abandonar. Quanto aos mortos, são difíceis de contabilizar. Segundo a ONU, serão cerca de 200 mil.

A guerra na Síria mostra também como, na região, as mulheres não estão necessariamente condenadas ao papel de vítimas. Nas fileiras curdas, guerrilheiras destacam-se pela sua bravura. Muitos jihadistas olham-nas aterrorizados num misto de pudor religioso e de sentimento de humilhação.

Um rebelde do Exército Livre da Síria, formação moderada. Neste conflito, a guerra faz-se, muitas vezes, na solidão. A cada esquina, a cada canto.

Textos de Margarida Mota. Fotos de Gabriel Chaim, tiradas em 2014

Portefólio publicado no “Courrier Internacional, de abril de 2015

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