Aung San Suu Kyi tem sido criticada por não falar dos rohingya, mas neste país fazê-lo pode custar uma carreira política

Treze anos após ter recebido o Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi é cada vez mais contestada por reagir ao drama dos rohingya… com silêncio. “A questão dos rohingya é difícil não só para Aung San Suu Kyi mas para todos os políticos birmaneses. Nenhum líder político, incluindo os ativistas pró-democracia, tem coragem suficiente para falar do problema”, explicou ao Expresso Akihisa Matsuno, professor na Universidade de Osaca (Japão), perito em assuntos do Sudeste Asiático. “Os birmaneses budistas mas também minorias étnicas que têm lutado pela autonomia ou pela autodeterminação não olham para os rohingya como compatriotas, mas como estrangeiros (bangladeshianos). Nisso estão todos de acordo.”
Desafiar essa retórica tão profundamente enraizada na sociedade trará inevitavelmente consequências. “Se Aung San Suu Kyi falar dos rohingya, ela e a sua Liga Nacional para a Democracia (o principal partido da oposição) perderão apoio interno, o que afetará a popularidade de todo o movimento democrático”, refere Matsuno. “Para os políticos birmaneses, falar dos rohingya significa o fim das suas carreiras políticas.”
Em novembro, a Birmânia realizará eleições parlamentares. Depois, um colégio eleitoral escolherá o próximo chefe de Estado. Suu Kyi, que fará 70 anos a 19 de junho, está impedida de se candidatar a Presidente ou vice-presidente — os seus filhos não têm nacionalidade birmanesa (são britânicos). Para alterar essa cláusula na Constituição é necessário o apoio de mais de 75% dos deputados — 25% dos parlamentares são nomeados pelos militares no poder.
“Não posso provar que o regime esteja a incitar à violência em Rakhine, mas intencionalmente não toma medidas contra a escalada. Deixa que aconteça e explora o sentimento popular de que, quem apoia os ‘estrangeiros’ não tem patriotismo para liderar o país”, explica Matsuno. “O regime pode ter a secreta esperança de que Aung San Suu Kyi mencione os rohingya num deslize. É sabido que o regime tem um histórico de tentativas de descrédito de Suu Kyi com o trunfo nacionalista. É muito provável que, neste caso, espere ter o mesmo efeito.”
Artigo publicado no “Expresso”, a 30 de maio de 2015
