Reconquista de Fallujah não trava atentados

Um dia após as forças iraquianas declararem vitória sobre o Daesh e recuperarem a cidade de Fallujah, pelo menos 12 pessoas foram mortas num ataque suicida contra uma mesquita

Pelo menos 12 pessoas morreram e 32 ficaram feridas num ataque suicida contra uma mesquita em Abu Ghraib, a meio caminho entre Bagdade e Fallujah. As vítimas tinham participado na oração da meia-noite de segunda-feira, que se seguiu ao “iftar”, a refeição após o pôr do sol com a qual os muçulmanos quebram o jejum do Ramadão.

Responsáveis iraquianos confirmaram esta terça-feira que o atentado foi levado a cabo por um homem que trazia vestido um colete armadilhado. O ataque não foi reivindicado.

A mesquita visada situa-se numa área predominantemente sunita. Bagdade e Fallujah distam 65 quilómetros e localizam-se no chamado triângulo sunita onde, após a deposição de Saddam Hussein, se organizou a resistência sunita contra o novo poder xiita e, mais recentemente, se infiltrou o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh), criando bases para atacar Bagdade e arredores.

Este foi o primeiro ataque após as forças iraquianas declararem vitória, no domingo, sobre o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) em Fallujah, após cinco semanas de combates. A ofensiva foi apoiada por bombardeamentos aéreos da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.

Segundo o sítio de análise geopolítica Stratfor, pelo menos 1800 combatentes do Daesh foram mortos durante a reconquista de Fallujah, que estava sob controlo jiadista desde janeiro de 2014.

Para o primeiro-ministro iraquiano, Haider Al-Abadi, a recuperação daquela cidade abre caminho à retomada de Mossul, no Curdistão iraquiano, o último grande reduto do Daesh em território iraquiano. “Vamos derrotar o Daesh em todo o Iraque com as nossas bravas forças armadas”, escreveu no Twitter.

Após a declaração da “libertação total” de Fallujah, as forças iraquianas continuam a perseguir extremistas em fuga, procurando prevenir futuros ataques. Um responsável do exército citado pela Reuters estima que cerca de 150 extremistas estejam escondidos ao longo da margem sul do rio Eufrates. “Têm duas opções: ou rendem-se ou serão mortos. Queremos impedir que recuperem o fôlego e ataquem as nossas forças com carros armadilhados”, afirmou o coronel Ahmed al-Saidi àquela agência noticiosa.

Desde Fallujah, a repórter da Associated Press, Susannah George, escreve que “dezenas de casas foram saqueadas e queimadas durante a libertação de Fallujah”. Enquanto o Governo iraquiano acusa militantes do Daesh em fuga, alguns responsáveis responsabilizam “milícias xiitas que participaram na operação ao lado da polícia federal”.

Os combates forçaram mais de 85.000 residentes a fugir para acampamentos sobrelotados, geridos pelo Governo, no meio do deserto.

As Nações Unidas confirmaram a existência de incidentes sectários durante a campanha de Fallujah, com base em relatos de abusos contra civis em fuga, realizados por membros de grupos xiitas que estiveram ao lado das forças nacionais na ofensiva contra o Daesh.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 28 de junho de 2016. Pode ser consultado aqui

Seis jordanos mortos junto à fronteira com a Síria

A explosão de um carro armadilhado junto a um campo de refugiados sírios matou seis militares e lançou o alerta na Jordânia. O país integra a coligação de combate ao Daesh

Pelo menos seis soldados jordanos foram mortos e outros 14 ficaram feridos após a explosão de um carro armadilhado, na área de Rukban (nordeste), junto à fronteira com a Síria.

O ataque ocorreu cerca das 5h30 da manhã desta terça-feira, numa zona tampão entre a fronteira e um campo de refugiados sírios, onde vivem cerca de 70 mil pessoas.

A televisão pública jordana qualificou o atentado, que não foi reivindicado, de “ataque terrorista covarde”. A AFP adianta que terá visado uma torre de vigia junto à fronteira. Um comunicado do Exército jordano informou que vários outros veículos “hostis” foram destruídos.

Fronteiro à Síria, Iraque, Arábia Saudita, Israel e ao território palestiniano da Cisjordânia, o Reino Hashemita da Jordânia é fortemente vulnerável à conflitualidade que o rodeia.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há na Jordânia mais de 620 mil refugiados sírios registados. Mas milhares de outros aguardam a oficialização da sua situação em acampamentos em zonas desérticas, como em Rukban.

Ao integrar a coligação militar internacional de combate ao autoproclamado Estado Islâmico (Daesh), torna-se também um alvo dos extremistas.

Num dos episódios mais famosos do terror do Daesh, o piloto jordano Moaz al-Kasasbeh, que participara nos bombardeamentos a Raqqa e fora detido pelos jiadistas após o seu caça se despenhar, foi queimado vivo dentro de uma jaula de ferro.

O ataque desta terça-feira acontece duas semanas após cinco agentes dos serviços secretos jordanos terem sido mortos quando um homem armado irrompeu pelo gabinete dos serviços de informação em Ain el-Basha, perto do campo de refugiados palestinianos de Baqa’a.

A Jordânia abriga mais de dois milhões de refugiados palestinianos. Na sua maioria, gozam de total cidadania, caso único entre os países árabes que acolhem refugiados palestinianos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de junho de 2016. Pode ser consultado aqui

Abu Sayyaf decapita mais um canadiano

A execução de um cidadão canadiano de 50 anos, cativo do grupo separatista filipino Abu Sayyaf desde há nove meses, relança a discussão à volta do pagamento de resgates a terroristas

As autoridades filipinas confirmaram, esta terça-feira, a decapitação de um canadiano que estava refém do grupo terrorista Abu Sayyaf há nove meses, na ilha de Sulu (sul). O grupo tinha ameaçado assassinar Robert Hall, de 50 anos, caso não fosse pago, até às 15 horas de segunda-feira (mais sete horas do que em Lisboa), um resgate no valor de 300 milhões de pesos (5,8 milhões de euros).

Nesse dia à noite, foi encontrada uma cabeça decepada junto à catedral da ilha de Jolo (sul). “A descoberta confirmou a decapitação brutal por parte do maléfico e criminoso Grupo Abu Sayyaf de uma vítima de rapto”, diz um comunicado militar, citado pela AFP.

Robert Hall tinha sido raptado a 21 de setembro, a bordo de um iate junto a um “resort” turístico da ilha de Samal, no sul, juntamente com a namorada (a filipina Marites Flor), um norueguês (Kjartan Sekkingstad, “manager” da estância) e outro canadiano. Este último, John Ridsdel, de 68 anos, foi degolado em abril passado, após um pedido de resgate não ter sido atendido pelas autoridades canadianas.

“Após a perda trágica de dois canadianos, quero reiterar que os raptos terroristas apenas alimentam mais violência e instabilidade”, reagiu o primeiro-ministro, Justin Trudeau. “O Canadá não vai ceder às suas táticas amedrontadoras e atitudes desprezíveis em relação ao sofrimento de outros. É precisamente por esta razão que o Governo do Canadá não vai nem pode pagar resgates por reféns de grupos terroristas, já que se o fizesse colocaria em perigo as vidas de mais canadianos.”

Estima-se que os quatro reféns tenham sido levados para a selva da ilha de Jolo, para onde as autoridades filipinas enviaram um forte dispositivo militar e policial para os tentar resgatar.

Segundo o Major Filemon Tan, porta-voz das forças de segurança no sul, os sequestradores têm conseguido escapar ilesos uma vez que gozam da cumplicidade da população carenciada. “Eles têm familiares na comunidade, que os alertam quando veem soldados nas imediações”, afirmou o militar à rádio DZMM.

O militar explicou ainda que as áreas de floresta, o terreno acidentado e as longas extensões de costa, que permitem que os terroristas se esquivem mar adentro quando se sentem apertados em terra, dificulta a perseguição aos terroristas.

Grupo pequeno mas muito violento

Fundado nos anos 90, o Grupo Abu Sayyaf — então associado e financiado pela Al-Qaeda de Osama bin Laden — luta pela criação de um Estado islâmico no sul das Filipinas, país de maioria católica. Nos últimos anos, algumas fações do grupo declararam fidelidade ao autodenominado Estado Islâmico (Daesh) e à liderança de Abu Bakr al-Baghdadi.

O grupo é pequeno, mas ativo e muito violento, recorrendo a ataques à bomba, extorsões, raptos e decapitações. Tem nos sequestros uma importante fonte de financiamento.

A 1 de maio passado, o grupo libertou 10 marinheiros indonésios, na ilha de Jolo, após cinco semanas em cativeiro. Habitualmente, as libertações têm implícito o pagamento de resgates. Hussin Amin, “mayor” de Jolo, afirmou então: “Se esta grande libertação aconteceu em troca de dinheiro, quem quer que tenha pago está a apoiar o Abu Sayyaf. Este dinheiro será usado para comprar mais armas de fogo e será utilizado como fundo de mobilização por parte destes criminosos”.

Segundo a Al-Jazeera, a violência associada ao Abu Sayyaf já provocou mais de 100 mil mortos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de junho de 2016. Pode ser consultado aqui