Diálogo Fatah-Hamas começa a dar frutos

O processo de reconciliação nacional entre as principais fações políticas palestinianas, em curso no Egito, começa a produzir resultados. Esta quinta-feira, foi anunciada a obtenção de um primeiro acordo

Fatah e Hamas, as principais fações políticas palestinianas, desavindas há dez anos, alcançaram um primeiro acordo, no âmbito do diálogo de reconciliação a decorrer no Cairo, anunciou, esta quinta-feira, o líder dos islamitas, em comunicado. “Fatah e Hamas alcançaram um acordo ao amanhecer, sob o generoso patrocínio do Egito”, disse Ismail Haniyeh.

Uma fonte que pediu anonimato adiantou à agência noticiosa Associated Press que, ao abrigo desse acordo, forças da Autoridade Palestiniana (AP) — dominada pela Fatah e liderada pelo Presidente Mahmud Abbas — irão assumir o controlo do posto fronteiriço de Rafah, entre Gaza e o Egito. Do lado egípcio, a Península do Sinai tornou-se um porto de abrigo de grupos terroristas, pelo que, para as autoridades do Cairo, é urgente mais segurança e colaboração do lado de Gaza.

Detalhes sobre o acordo — que abordou questões civis, administrativas e de segurança interna — foram remetidos para uma conferência de imprensa, a ser realizada por representantes das duas fações, ainda esta quinta-feira.

Dossiês importantes como a formação de um governo de unidade nacional e o futuro das forças armadas afetas ao Hamas foram remetidos para uma nova ronda de conversações. “A próxima fase da reconciliação será um encontro entre representantes de todas as fações palestinianas no Cairo para discutir os grandes assuntos nacionais, tais como o braço armado do Hamas, a questão das armas e dos cargos políticos”, confirmou Hazem Qassem, porta-voz do Hamas.

Este entendimento entre a Fatah e o Hamas é o culminar de um processo de aproximação iniciado no mês passado, quando o Hamas (que governa a Faixa de Gaza) aceitou ceder poderes à AP (que controla a Cisjordânia). Na semana passada, foi dado um passo de gigante no sentido da criação de confiança entre as partes quando a AP realizou a sua reunião semanal não em Ramallah, como habitualmente, mas na cidade de Gaza.

Independentemente do seu desfecho, estas conversações poderão, a curto prazo, contribuir para aliviar a situação de penúria que afeta a população de Gaza. Nos últimos meses, muita da pressão exercida pela AP sobre o Hamas — para que ceda o poder no território — tem passado por medidas punitivas do quotidiano dos locais. Uma delas passou por pedir a Israel a redução do fornecimento de energia elétrica ao território — que, neste momento, não excede as quatro horas diárias. Outra foi o corte salarial dos funcionários da AP a residir em Gaza.

A disputa entre Fatah e Hamas remonta a 2007 quando os islamitas tomaram o poder pela força em Gaza. No ano anterior, tinham vencido as legislativas palestinianas, resultado que não foi reconhecido internacionalmente. Desde então, sucessivas tentativas de reconciliação nacional não produziram resultados, contribuindo para manter a Palestina dividida em dois territórios (Cisjordânia e Faixa de Gaza) e dois poderes (AP/Fatah e Hamas).

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de outubro de 2017. Pode ser consultado aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *