Quando ir à escola é um risco, a UNICEF responde com soluções criativas

Uma ponte partida, um rio revolto, já para não falar em situações de guerra, são obstáculos suficientemente fortes para demover as crianças de irem à escola. No Dia Universal dos Direitos da Criança — a educação é um deles —, que se assinala esta segunda-feira, a UNICEF revela ao Expresso alguns projetos em curso para contornar essas armadilhas

Um menino vai para a escola numa piroga, através da planície inundada de Barotse, na Zâmbia JOHN JAMES / UNICEF

Ir à escola é, para milhões de crianças em todo o mundo, um verdadeiro desafio à sobrevivência. Faz-se, muitas vezes, através de pontes esburacadas, de rios com a água pelos joelhos ou por trilhos montanhosos ladeados por escarpas íngremes.

“A UNICEF trabalha com parceiros no terreno para garantir escolas e percursos seguros”, diz ao Expresso Lisa Bender, especialista na área de Educação em Situações de Emergência da UNICEF. “Há cada vez mais soluções inovadoras ao serviço de uma educação de qualidade.”

Em Madagáscar, por exemplo, esta agência das Nações Unidas, que trabalha em defesa dos direitos das crianças, forneceu bicicletas e canoas a adolescentes do sexo feminino que vivem em zonas rurais e para quem a lida da casa é prioritária em relação aos estudos. Para muitas meninas, as horas do dia não chegam para tudo o que têm em mãos. Com um recurso tão simples como uma bicicleta, vão e vêm da escola muito mais rapidamente, deixam de chegar atrasadas a todo o lado e, o mais importante, não abandonam a escola tão facilmente.

Um outro projeto da UNICEF está a ser concretizado no Bangladesh, onde os rios são um problema, sobretudo nos meses das monções, época em que os caudais sobem metros, tudo fica inundado, aldeias ficam isoladas e escolas são forçadas a fechar.

Através de uma ONG local, a Shidhulai Swanirvar Sangstha, a UNICEF apoia a manutenção de uma frota de “navios-escola”, reconstruídos a partir das tradicionais embarcações “noka”. Com telhados à prova de chuvas intensas, estão equipados com painéis solares, o que permite a utilização de computadores nas aulas. Há também barcos-biblioteca, outros para formação de adultos e clínicas flutuantes que se deslocam para zonas remotas.

Combater o Boko Haram… com a rádio

“A UNICEF está também a explorar, cada vez mais, de que forma a tecnologia pode trazer conhecimento a comunidades remotas”, acrescenta Lisa Bender. Até lá, o recurso a velhas tecnologias tem-se revelado eficaz. “A rádio pode desempenhar um papel-chave em tempos de crise. Durante o surto de ébola, na África Ocidental, a UNICEF e parceiros no terreno usaram o rádio para dar aulas a crianças nas áreas afetadas”, diz a especialista da organização da ONU.

“Estes esforços continuam em países como a Nigéria, onde a crise provocada pelo [grupo islamita] Boko Haram está a ter um impacto prejudicial no acesso das crianças à escolaridade.” (“Boko”, em língua hausa, significa algo como educação ocidental secular, ou seja não-islâmica, e “haram”, em árabe, significa “proibido”.)

Muito do trabalho da UNICEF no terreno apoia-se em parceiros locais, conhecedores do meio, das sensibilidades sociais e culturais e das necessidades. “A educação é um direito humano fundamental e um requisito muito importante para o desenvolvimento não só individual das crianças mas das sociedades e economias como um todo”, recorda Lisa Bender. “Temos de encontrar formas de tornar a educação disponível.”

A UNICEF está atenta também às zonas em guerra. Segundo um relatório da organização de setembro passado, em 2015, havia 27 milhões de crianças sem escola em regiões afetadas por conflitos, declarados ou latentes. É o caso do território palestiniano da Cisjordânia, onde a ocupação israelita faz-se (também) através de postos de controlo, o que obriga muitas crianças a cruzarem-se, diariamente, com militares e armas a caminho da escola.

A pensar no stresse provocado por situações do género, a UNICEF apoia um projeto de percursos acompanhados, na zona H2 de Hebron (Cisjordânia) — área sob controlo militar de Israel, onde vivem 500 colonos judeus entre 30 mil palestinianos. Em parceria com o Programa de Acompanhamento Ecuménico na Palestina e pelas Equipas Pacificadoras Cristãs, este programa passa por colocar voluntários internacionais a acompanhar grupos de crianças no seu caminho para a escola. Estes adultos transmitem confiança e segurança às crianças, induzem os militares israelitas a fazerem controlos mais céleres nos checkpoints e dissuadem o assédio e atos de violência por parte dos colonos. A sua presença encoraja as crianças a não abandonarem a escola.

Uma instituição beneficiada por este projeto é a Escola de Cordoba, junto aos colonatos de Beit Hadassah e de Beit Romano. No passado, foi várias vezes vandalizada por colonos, o que levou à colocação de arame farpado em redor de parte da escola.

“A falta de acessos seguros para as crianças irem à escola pode ser um grande obstáculo para que, em especial as meninas, recebam educação”, conclui Lisa Bender. “É por esta razão que escolas comunitárias, como as que temos no Afeganistão, podem verdadeiramente ajudar a derrubar estes obstáculos e dar às crianças a possibilidade de irem à escola num ambiente seguro. Estas escolas comunitárias não só incentivam as meninas a matricularem-se, como contribuem para melhorar resultados e aprendizagem.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de novembro de 2017. Pode ser consultado aqui. A fotogaleria “Arriscar a vida para ir à escola” pode ser consultada aqui

André Freire: “Os jornalistas só se indignam com o Sr. Orbán ou a esquerda na América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu”

André Freire, politólogo e professor do ISCTE, é uma das 100 pessoas, entre escritores, cantores, deputados, economistas, sindicalistas, professores universitários e jornalistas, que assinaram o manifesto “Justiça para a Palestina”, uma iniciativa do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente. No dia em que o documento é apresentado ao público (18h30 desta quinta-feira na Fundação José Saramago, em Lisboa) e em que se cumprem 100 anos da Declaração Balfour, de apoio à criação de um país para os judeus na região da Palestina, o Expresso falou com André Freire. “Os jornalistas, que são sempre tão diligentes a defender os seus direitos – e eu apoio isso, claro – não têm falado sobre isto”

Porque decidiu acrescentar o seu nome a este manifesto?
Naturalmente porque me revejo no que está escrito no documento, que tem que ver com a defesa dos direitos da Palestina e do povo palestiniano. Isto não implica, obviamente, não reconhecer também os direitos ao povo judaico. Mas a verdade é que Israel tem incumprido e violado as orientações das Nações Unidas. A construção de colonatos continua e a vida das pessoas na faixa de Gaza é simplesmente impossível — vivem ali num gueto de grande densidade populacional, sitiadas, cercadas.

É preciso defender os direitos das duas partes, mas se há uma parte que tem muita força e que tem colocado, aliás, essa força à frente do direito, é Israel e são os judeus. São cometidas violações constantes dos direitos humanos. Os judeus estão a tentar fazer uma política de facto para que, quando chegar a fase das negociações, não haver sequer Cisjordânia, que está já completamente esquartejada.

O que espera que possa vir a mudar com a apresentação pública deste documento?
Tem havido uma grande indiferença em relação a este assunto. Os jornalistas, que são sempre tão diligentes a defender os seus direitos — e eu apoio isso, claro — não têm falado sobre isto. Só se indignam com o Sr. Orban [Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria) ou com os tipos de esquerda da América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu e, porém, isto é uma coisa muito grave. Em Portugal não houve praticamente discussão alguma. Repito: o Estado judaico tem violado todas as orientações e normativas das Nações Unidas, impedindo o povo palestiniano de ter uma vida minimamente digna, nomeadamente na faixa de Gaza. A perseguição de que os judeus foram alvo não pode servir para justificar tudo mais de 50 anos depois. É preciso inverter este processo. Até porque, com o novo inquilino na Casa Branca, a situação parece-me estar ainda mais difícil do que já estava, sobretudo no terreno, que está claramente pior. É preciso tomar uma posição e é por essa razão que o meu nome é um dos que consta do manifesto.

O conflito entre Israel e Palestina dura há décadas. O que acha que tem falhado na aproximação entre as duas partes?
Tem havido várias falhas e uma delas, na minha opinião, tem que ver precisamente com o posicionamento das grandes potências, nomeadamente os EUA, que deveriam pressionar os judeus para encontrar uma solução e não o têm feito. Os próprios judeus têm falhado, ao desrespeitarem as orientações das Nações Unidas, ao expandirem de forma indefinida e indeterminada os colonatos e ao aplicarem políticas de punição coletiva, nomeadamente quando há alguém que escolhe uma via mais radical e comete atentados, sendo depois punidos os membros da sua família. Tudo isso não tem ajudado. Não acho que a responsabilidade pela falta de um entendimento seja só de um lado. Não penso que seja isso e também não vale a pena entrar em maniqueísmos. Agora, não tenho dúvidas sobre qual o lado que tem estado com uma política de facto, de força, e sobre quem saído mais favorecido. Tudo isto tem destruído os países à volta, nomeadamente o Líbano.

Acredita que poderá haver, em breve, uma solução para o conflito?
Confesso que não estou muito otimista. Esta situação arrasta-se há décadas. E a geopolítica atual é provavelmente das mais desfavoráveis. Houve um sinal de mudança por parte de Barack Obama, mas agora a situação está bem mais complicada. Basta ver a abordagem atual dos israelitas, que é bastante mais musculada.

LISTA DOS 100 SIGNATÁRIOS DO MANIFESTO “JUSTIÇA PARA A PALESTINA”

Adel Sidarus, Professor universitário
André Freire, Politólogo, professor do ensino superior
André Pinotes Baptista, Deputado do PS
Aniceto Afonso, Coronel, historiador
Anselmo Dias, Bancário
António Arnaut, Advogado, ex-deputado do PS
António Avelãs Nunes, Professor universitário
António Delgado Fonseca, Oficial do Exército
António Madeira Bárbara, Embaixador
António Redol, Engenheiro
Aristides Gonçalves Leitão, Jurista
Arménio Carlos, Dirigente sindical
Augusto Flor, Antropólogo, dirigente associativo
Augusto Praça, Dirigente sindical
Avelino Gonçalves, Sindicalista bancário
Boaventura Sousa Santos, Professor universitário
Bruno Dias, Deputado do PCP
Carla Miranda, Deputada do PS
Carlos Alberto Moniz, Compositor, intérprete
Carlos Almada Contreiras, Almirante
Carlos Almeida, Historiador
Carlos Araújo Sequeira, Jurista
Carlos Esperança, Escritor, jornalista
Carlos Fragateiro, Professor universitário
Carlos Matos Gomes, Coronel, escritor
Carlos Moutinho de Macedo, Jurista
Cláudio Torres, Director do Campo Arqueológico de Mértola, prémio Pessoa
Deolinda Machado, Sindicalista
Diana Andringa, Jornalista
Fernando Rosas, Professor universitário
Fernando T. Marques, Actor
Francisco Assis, Eurodeputado do PS
Francisco Duarte Mangas, Escritor
Francisco Fanhais, Cantor
Frederico Gama de Carvalho, Investigador científico, VP da Fed. Mundial Trabalhadores Científicos
Frei Bento Domingues, Teólogo dominicano
Hélder Costa, Encenador
Helena Pato, Professora
Helena Rato, Economista
Ilda Figueiredo, Economista
Isabel Allegro de Magalhães, Professora universitária
Ivan Gonçalves, Deputado do PS
Jamila Madeira, Deputada do PS
Joana Mortágua, Deputada do BE
Joana Vilaverde, Artista plástica
João Corregedor da Fonseca, Jornalista
João Duarte Freitas, Médico
João Ferreira, Eurodeputado do PCP
Joaquim Correia, Advogado
Jorge Bateira, Professor universitário
Jorge Cadima, Professor universitário
Jorge Figueiredo, Editor resistir.info
Jorge Pé-Curto, Escultor
José António Gomes, Escritor, professor do ensino superior
José Baptista Alves, Coronel engenheiro
José Barata-Moura, Professor universitário
José Costa Neves, General
José Duarte, Jornalista, divulgador musical
José Ernesto Cartaxo, Sindicalista
José Fanha, Escritor, poeta
José Goulão, Jornalista
José Luís Ferreira, Deputado do PEV
José Manuel Pureza, Professor universitário, deputado do BE
José Manuel Rodrigues, Artista plástico, prémio Pessoa
José Neves, Fundador do Partido Socialista
Júlio de Magalhães, Economista
Levy Baptista, Advogado
Lumena Raposo, Jornalista
Mamadu Ba, Advogado
Manuel Alegre, Escritor e poeta
Manuel Begonha, Capitão de Abril
Manuel Duran Clemente, Capitão de Abril
Manuel Figueiredo, Economista
Manuel Freire, Cantor, compositor
Manuel Martins Guerreiro, Almirante
Manuel Valadares, Jurista
Manuela Tavares, Professora, dirigente da UMAR
Maria do Céu Guerra, Actriz, directora d’ A Barraca
Marília Villaverde Cabral, Coordenadora da URAP
Mário Beja Santos, Escritor
Mário Pádua, Médico
Marisa Matias, Eurodeputada do BE
Micaela Miranda, Encenadora em Jenin, Palestina
Miguel Viegas, Eurodeputado do PCP
Modesto Navarro, Escritor
Paulo Carvalho, Cantor
Pedro Bacelar de Vasconcelos, Deputado do PS
Pedro Borges, Jurista
Pedro Penilo, Artista plástico
Pedro Pereira Leite, Professor universitário
Pedro Pezarat Correia, General
Pedro Santarém, Engenheiro mecânico
Pilar del Río, Presidenta da Fundação José Saramago
Regina Marques, Dirigente do MDM
Rego Mendes, Coordenador nacional do Movimento Erradicar a Pobreza
Ribeiro Cardoso, Jornalista
Rui Coelho e Campos, Jurista
Rui Namorado Rosa, Investigador, professor universitário
Santiago Macias, Professor universitário
Sérgio Machado Letria, Programador cultural
Valter Hugo Mãe, Escritor
Vânia Dias da Silva, Deputada do CDS
Vasco Lourenço, Coronel
Victor Cavaco, Engenheiro do ambiente
Zeferino Coelho, Editor

Entrevista realizada por Helena Bento.

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 2 de novembro de 2017, e republicado no “Expresso Online”, no dia seguinte. Pode ser consultado aqui e aqui

Uma promessa impossível

É um dos documentos polémicos da História e faz 100 anos esta quinta-feira. Pela Declaração Balfour, os britânicos prometeram um “lar nacional” aos judeus num território que não era deles e onde os judeus eram minoritários. Hoje, os israelitas festejam; os palestinianos exigem a reparação dessa “injustiça histórica”

Arthur James Balfour, secretário britânico dos Negócios Estrangeiros entre 1916 e 1919 e autor da Declaração Balfour, de 2 de novembro de 2017 WIKIMEDIA COMMONS

Para os judeus, foi o tiro de partida para a concretização de um sonho bíblico: a criação do Estado de Israel. Para os árabes, o prenúncio de uma “catástrofe” que expulsou centenas de milhares de pessoas da terra onde sempre viveram. Assinada em 2 de novembro de 1917, a Declaração Balfour — através da qual a Grã-Bretanha prometeu aos judeus um “lar nacional” no território da Palestina — é uma das traves-mestras do Médio Oriente como hoje o conhecemos e onde Israel é, para os árabes, um vizinho permanentemente incómodo.

Corria o ano de 1917 e o mundo estava tomado pela Grande Guerra. De um lado os Aliados, entre os quais a Grã-Bretanha, do outro um conjunto de potências do Centro da Europa, uma delas o Império Otomano. Numa carta enviada a Walter Rothschild, líder da comunidade judaica do Reino Unido, o secretário britânico dos Negócios Estrangeiros, Arthur James Balfour, expressa o apoio do Governo de Sua Majestade ao “estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu”, lê-se. O Governo “irá envidar os seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo, entendendo claramente que nada deve ser feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas existentes na Palestina”.

Ficava implícito que a concretização do Estado judeu dependia da derrota do Império Otomano no conflito e da capacidade britânica de se apropriar de alguns dos seus de territórios. “Nunca houve nada parecido”, escreveu Gideon Levy, no domingo, no diário israelita “Haaretz”: “Um império prometeu uma terra que ainda não tinha conquistado a um povo que não vivia lá, sem nada perguntar aos seus habitantes. Não há outra forma de descrever a inacreditável temeridade colonialista que clama de cada letra da Declaração Balfour”.

Este documento não passaria de uma pura opção de política externa não fosse, dois anos antes, os britânicos terem feito aos árabes uma promessa que, se concretizada, inviabilizaria esta feita aos judeus. Em outubro de 1915, Sir Henry McMahon, Alto Comissário britânico no Egito, ofereceu um Estado árabe independente ao Sherif Hussein de Meca se ele os ajudasse na luta contra os otomanos.

Se os britânicos queriam ganhar a guerra, Hussein desejava libertar-se das amarras do califa. Estavam, pois, criadas as condições para uma revolta interna árabe contra o suserano otomano, onde sobressairia um britânico: T. E. Lawrence, mais conhecido por “Lawrence da Arábia”.

Corrida aos despojos otomanos

À época, os judeus eram menos de 10% da população da Palestina. Ao incorporar a Declaração Balfour nos termos do mandato sobre a Palestina que lhe coube em sorte — desmembrado e repartido o Império Otomano entre as potências vencedoras da guerra —, Londres cumpre a promessa feita aos judeus e ignora o Estado árabe garantido ao Sherif Hussein.

Com proteção britânica, milhares de judeus — muitos deles em fuga a perseguições, nomeadamente na União Soviética — começam a rumar a essa “terra prometida”. Entre 1922 e 1935, a população judia na Palestina cresce de 9% para 27%.

Em 1948, com o Holocausto já a pesar na consciência do mundo, o Estado de Israel é criado na Assembleia Geral das Nações Unidas. Finda, então, a administração britânica da Palestina e começa o pesadelo palestiniano: cerca de 750 mil árabes são expulsos do território, dando origem ao problema dos refugiados palestinianos (que hoje afeta milhões de pessoas) e a um trauma coletivo que leva os palestinianos a referirem-se ao nascimento do Estado judeu como uma “catástrofe” (nakba).

Um desastre sem fim

Em setembro passado, na Assembleia Geral da ONU, o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, instou os britânicos a “corrigirem uma injustiça histórica”, pedindo desculpa ao povo palestiniano ou reconhecendo o Estado da Palestina. Mas os passos de Londres vão no sentido oposto. Esta semana, o convidado de honra da chefe de Governo britânica, Theresa May, nas comemorações do centenário da Declaração Balfour em Londres será… o seu homólogo de Israel, Benjamin Netanyahu.

“Os primeiros-ministros de Israel e do Reino Unido celebrarão uma grande conquista sionista”, defende Gideon Levy. “Agora é hora também de um exame de consciência. A celebração acabou. Cem anos de colonialismo, primeiro britânico e depois, inspirado por ele, israelita, aconteceram à custa de outro povo e isso é o seu desastre sem fim.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de novembro de 2017. Pode ser consultado aqui