Tal como em 2011, quando saíram às ruas para exigir a “queda do regime”, os tunisinos estão de volta às grandes manifestações. Desta vez, não com objetivos políticos mas para protestarem contra as medidas de austeridade que chegaram com o novo ano
Faz este domingo sete anos que, após quase um mês de manifestações populares, o Presidente Zine el-Abidine Ben Ali foi deposto na Tunísia. Foi, aliás, o primeiro ditador a tombar no contexto da Primavera Árabe.
A data será assinalada no país com novos protestos de rua, convocados pela oposição ao Governo e engrossados por um descontentamento popular generalizado decorrente da entrada em vigor, no primeiro dia do ano, de medidas de austeridade — que têm originado grandes protestos desde segunda-feira.
O aumento de preços atinge bens de consumo e combustíveis. Subiram também impostos sobre os veículos, as comunicações e a internet, bem como taxas alfandegárias sobre algumas importações.
Sobretudo à noite, alguns protestos resultaram em confrontos violentos entre manifestantes e polícia. Em comunicado, o Governo disse que respeitaria o direito dos tunisinos a manifestarem-se, mas que não toleraria atos de vandalismo.
Segundo o Ministério do Interior, desde segunda-feira, foram detidas 778 pessoas, incluindo 16 “extremistas islâmicos”. “Estamos preocupados com o grande número de detenções”, reagiu o porta-voz do Alto comissário da ONU para os Direitos Humanos. “Cerca de um terço dos detidos têm entre 15 e 20 anos de idade”, acrescentou Rupert Colville. “Apelamos às autoridades que assegurem que as pessoas não sejam detidas de forma arbitrária e que os direitos dos detidos sejam respeitados, e que ou sejam acusados ou libertados rapidamente.”
A Tunísia é o caso de sucesso entre os países bafejados pela Primavera Árabe, mas a situação política ainda é muito instável. O atual governo – de unidade nacional – é o nono desde a saída de cena do ditador. Para dificultar a recuperação económica, o crucial sector do turismo tem-se ressentido da vaga de ataques islamitas de 2015. A 26 de junho, na zona turística de Sousse (nordeste), um atentado provocou a morte de 38 estrangeiros, incluindo uma cidadã portuguesa.
Há sete anos, o tiro de partida para os protestos — e para a queda do regime tunisino — teve na sua origem razões económicas. Então, na cidade de Sidi Bouzid (centro), Mohammed Bouazizi, um vendedor ambulante imolou-se pelo fogo, a 17 de dezembro de 2010, em protesto contra a apreensão, por parte da polícia, do seu carrinho de frutas e legumes. Desta vez, os manifestantes dizem que não está em causa o regime, mas antes as suas dificuldades para pôr comida nas suas mesas.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de janeiro de 2018. Pode ser consultado aqui