Os incêndios na Grécia apanharam uma funcionária da Embaixada da Grécia em Lisboa de férias em Atenas. Margarita Adamou diz que as imagens que vê nas televisões gregas recordam-lhe os fogos do ano passado em Portugal
A Grécia celebra, esta terça-feira, o Dia da Democracia, que assinala a queda da ditadura já lá vão exatamente 44 anos. Mas a festa foi substituída pelo anúncio de três dias de luto nacional. “Não vai haver celebrações, não vai haver nada”, diz ao Expresso Margarita Adamou, a partir de Atenas. “Toda a gente está colada às televisões e às rádios”, a acompanhar aquela que está na iminência de se tornar a maior tragédia grega em matéria de fogos florestais.
Os incêndios apanharam Margarita de férias no seu país natal. “De férias é uma forma de expressão. Este é um dia trágico para a Grécia e sobretudo para a capital”, diz esta funcionária na Embaixada da Grécia em Portugal.
“Desde a minha casa, no centro de Atenas, durante a noite, podia ver o fogo na região de Kineta, a parte ocidental de Atenas. Na parte oriental, onde o balanço foi muito mais trágico, não conseguia ver porque há uma montanha no meio. Mas toda a capital está envolta numa fuligem amarela, às vezes mais escura. É um dia de apocalipse.”
A grega refere que, no seu país, o clima favorece os incêndios, frequentes no verão. “Mas desta vez, os ventos muito fortes tornaram tudo mais difícil, tornaram impossível a atuação dos meios aéreos. A dimensão desta tragédia é única.”
Margarita trabalha, desde setembro, no gabinete de imprensa da Embaixada da Grécia em Portugal — onde a comunidade grega ronda as 300 pessoas. “Ainda não estava em Lisboa em junho, aquando dos incêndios na zona de Pedrógão Grande, mas já vivi em Portugal os fogos de outubro. O que vejo na televisão grega lembra-me muito as imagens trágicas que via todos os dias nas televisões portuguesas. Muitas viaturas carbonizadas, muita gente a correr, sobretudo na direção das praias. Cheguei a lembrar-me do terramoto de Lisboa de 1755 quando toda a gente fugiu na direção do Tejo para se salvar e depois aconteceu o tsunami e muita gente morreu afogada.”
Na memória dos gregos, 2007 é, até ao momento, o “annus horribilis” em matéria de fogos florestais, com 84 pessoas mortas entre junho e setembro. 2018 está em vias de lhe tomar o lugar. “Eu acho que o número de mortos vai ser superior a 100”, lamenta a grega. “Há muitos desaparecidos.”
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de julho de 2018. Pode ser consultado aqui