O dia em que americanos e sauditas firmaram um acordo para toda a vida

O assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi abalou a aliança de décadas entre Estados Unidos e Arábia Saudita, mas não ao ponto de a ferir de morte. Petróleo, armamento e inimigos comuns contribuem para a solidez de uma relação especial em que os dois países têm muito a perder um sem o outro

Na vertigem com que rasga tratados internacionais, há um acordo, porém, que Donald Trump não se atreve a questionar. Data de 14 de fevereiro de 1945 e foi celebrado a bordo do USS Murphy, atracado no Grande Lago Amargo, no Egito. A caminho de casa — oriundo da Conferência de Ialta, onde se reuniu com o britânico Winston Churchill e o soviético José Estaline —, o Presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt recebeu, no contratorpedeiro, Abdulaziz Ibn Saud, pai de Salman, o atual monarca da Arábia Saudita, e avô de Mohammad bin Salman (MBS), o príncipe herdeiro que hoje surge como o líder ‘de facto’ do país.

Na década anterior a este encontro histórico, tinha sido descoberto petróleo na Arábia Saudita. Em 1945, o reino vivia sobre um autêntico mar de “ouro negro” e empresas americanas controlavam a Arabian Oil Company (Aramco), a petrolífera saudita criada em 1933. Roosevelt e Saud constataram essa realidade e firmaram um acordo para a vida: os sauditas continuariam a produzir petróleo e os norte-americanos jamais deixariam de o comprar. Com o tempo — e sucessivas crises e conflitos no Médio Oriente —, esta aliança passou a incluir uma dimensão militar, que transformou a Arábia Saudita num cliente vip do mercado de armas dos EUA.

Mais de 70 anos depois, a aliança Washington-Riade está posta à prova por força do “caso Khashoggi”. O príncipe herdeiro saudita é suspeito de ter dado pessoalmente a ordem para a execução do jornalista, crítico do regime de Riade, no interior do consulado da Arábia Saudita em Istambul (Turquia). Em Washington, o Congresso e a Casa Branca já defenderam medidas penalizadoras se ficar provado o seu envolvimento no crime.

Esta sexta-feira, MBS e Donald Trump estão na Argentina para participar na cimeira do G20, que termina sábado. Washington já fez saber que não está previsto um “encontro formal” entre os dois líderes, mas quer a História quer palavras recentes do Presidente dos EUA mostram que jamais este caso levará a uma rutura entre os dois países.

Num comunicado publicado no sítio da Casa Branca, a 20 de novembro, Trump defendeu acerrimamente a aliança com os sauditas, recordando os lucros que resultaram da sua visita ao país, em maio de 2017. “O reino concordou em gastar e investir 450 mil milhões de dólares (398 mil milhões de euros) nos Estados Unidos. É uma quantia recorde. Vai criar centenas de milhar de empregos, um desenvolvimento económico tremendo, e muita riqueza adicional para os EUA. Desses 450 mil milhões de dólares, 110 mil milhões de dólares (97 mil milhões de euros) serão gastos na compra de equipamento militar à Boeing, Lockheed Martin, Raytheon e muitas outras grandes empresas americanas da área da Defesa. Se nós estupidamente cancelarmos esses contratos, a Rússia e a China seriam os enormes beneficiários — e ficariam muito felizes em ficar com todo esse novo negócio. Seria, para eles, um presente maravilhoso enviado diretamente dos Estados Unidos!”

Ainda que analistas recordem que as verbas chorudas de que Trump fala não decorram de contratos efetivamente já assinados, as estatísticas dizem que os sauditas são, de longe, o maior comprador de armamento americano. Segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (SIPRI), entre 2013 e 2017, a Arábia Saudita comprou 18% (quase um quinto) de todo o armamento vendido pelos Estados Unidos, que é o maior exportador mundial de armas.

Para Riade, os equipamentos militares americanos são fundamentais à segurança do reino e aos seus esforços de contenção do arquirrival Irão — em alta na Síria, no Iraque, no Líbano e no Iémen. Para Washington, os milhões sauditas injetam saúde na sua indústria de armamento.

A atestar o estatuto especial de que os sauditas beneficiam, o Pentágono tem, a cerca de 20 quilómetros para sudeste de Riade, uma missão de treino militar (USMTM), liderada por um general de duas estrelas, que funciona como canal de comunicação entre os fabricantes de armamento e a hierarquia militar saudita.

A missão está instalada na “Eskan Village”, uma área habitacional construída em 1983 para albergar tribos beduínas, que recusaram mudar para ali. O espaço manteve-se desocupado até agosto de 1990, quando estalou a Guerra do Golfo e as tropas norte-americanas destacadas para participar na Operação Tempestade do Deserto foram ali instaladas, para ajudar a conter os ímpetos do Iraque de Saddam Hussein sobre as jazidas do Kuwait.

Hoje, o país que tanto norte-americanos como sauditas querem conter é o Irão. A 5 de novembro, os EUA repuseram as sanções à indústria petrolífera iraniana que tinham sido suspensas após a assinatura do acordo internacional sobre o programa nuclear do Irão, em maio passado. Com menos petróleo iraniano a jorrar no mercado internacional, a Arábia Saudita é chamada a garantir a sua estabilidade.

A aliança EUA-Arábia Saudita aproxima o país que mais petróleo consome à face da Terra e aquele que mais exporta. Por dia, os norte-americanos importam 800 mil barris de crude dos sauditas, o que corresponde a 5% do total das necessidades norte-americanas. Até um passado recente, os EUA compravam diariamente mais 600 mil barris, para além dos 800 mil. O corte justifica-se com a chamada ‘revolução do xisto’, que levou a um significativo aumento da produção energética norte-americana e à queda do preço do petróleo no mercado internacional. Nada que abalasse a relação.

A interdependência entre EUA e Arábia Saudita estende-se também ao sector financeiro. A Arábia Saudita ocupa o décimo lugar no ranking dos detentores estrangeiros de dívida americana, com 166,8 mil milhões de dólares em obrigações do Tesouro. Em Silicon Valley, “unicórnios” como a Uber ou a Tesla — “unicórnios” são startups tecnológicas avaliadas em mais de mil milhões de dólares — beneficiam, direta ou indiretamente, de investimentos provenientes do Fundo de Investimento Público Saudita.

No discurso de Washington, a Arábia Saudita é também um aliado precioso no combate ao terrorismo. No comunicado de 20 de novembro, em que coloca os EUA incondicionalmente ao lado da Arábia Saudita, Donald Trump inicia a mensagem com um forte ataque ao Irão. “Os iranianos mataram muitos americanos e outros inocentes por todo o Médio Oriente. O Irão declara abertamente , e a plenos pulmões, ‘Morte à América!’ e ‘Morte a Israel!’ O Irão é considerado ‘o principal patrocinador mundial do terrorismo’.”

O outro lado da moeda revela que 15 dos 19 terroristas que sequestraram os quatro aviões que realizaram o 11 de Setembro eram de nacionalidade saudita, como o eram cerca de 140 dos 790 homens que passaram pelos calabouços de Guantánamo — apenas três eram iranianos. No 11 de Setembro, foram mortas 2977 pessoas, a esmagadora maioria cidadãos norte-americanos. A relação Washington-Riade sobreviveu, e continuou especial como sempre.

(IMAGEM Bandeiras dos Estados Unidos e da Arábia Saudita EMBAIXADA E CONSULADOS DOS EUA NA ARÁBIA SAUDITA)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de novembro de 2018. Pode ser consultado aqui

Benjamin Netanyahu, o governante “cinco em um”

Para além da chefia do governo de Israel, Benjamin Netanyahu é atualmente o titular de quatro ministérios. Esta concentração de poder não é inédita no país e costuma ser sintoma de crise

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel WWW.KREMLIN.RU / WIKIMEDIA COMMONS

primeiro-ministro de Israel chamou a si, esta semana, a condução dos ministérios da Defesa e da Imigração e Integração. Com esta acumulação de funções, Benjamin Netanyahu fica responsável, durante a semana de trabalho (e em sentido figurado), por um ministério por cada dia útil já que, para além destes três cargos, ele é ainda ministro dos Negócios Estrangeiros e da Saúde.

“Certamente que não é bom que o primeiro-ministro detenha tantas pastas”, diz ao Expresso Natan Sachs, diretor do Centro de Políticas sobre o Médio Oriente do Brookings Institution, Washington D.C.. “Neste caso, há uma combinação de três situações. [Desde o início], Netanyahu manteve os Negócios Estrangeiros para si, o que enfraquece o ministério consideravelmente em comparação com o gabinete do primeiro-ministro.”

Em relação ao da Saúde, que ele detém desde 28 de novembro de 2017, “é dirigido por um vice-ministro, e ele é ministro só no papel. Os restantes [que herdou no passado domingo] são resultado da última crise política, ou seja, Netanyahu é ministro por defeito após a renúncia dos titulares. É bem possível que ele designe ministros para alivia-lo, incluindo um ministro dos Negócios Estrangeiros.”

Desde que o atual governo iniciou funções, a 14 de maio de 2015, Netanyahu já tinha, pontualmente, assegurado as pastas das Comunicações, da Cooperação Regional, da Economia e Indústria e do Interior. “É comum os primeiros-ministros israelitas ficarem com várias pastas após crises na coligação governativa e a saída de ministros”, explica ao Expresso Aluf Benn, editor chefe do diário israelita “Haaretz”.

“Historicamente, os primeiros-ministros também asseguraram o ministério da Defesa durante 27 dos 70 anos de vida de Israel.” Aconteceu com David Ben-Gurion, Menachem Begin, Yitzhak Rabin e Shimon Peres, por exemplo.

Trégua é “rendição ao terrorismo”

Netanyahu ficou com a pasta da Defesa após a demissão do ultranacionalista Avigdor Lieberman, apresentada no dia 14 em protesto com a forma como o primeiro-ministro geriu a última crise na Faixa de Gaza. Três dias antes, os serviços secretos israelitas tinham averbado um fracasso quando comandos infiltrados no território palestiniano — para uma missão não especificada — foram detetados pelo Hamas, o movimento islamita que controla Gaza.

Perseguidos enquanto fugiam, foram “protegidos” por fortes bombardeamentos de caças israelitas, de que resultou a morte de sete palestinianos, incluindo um comandante do Hamas. Na operação, morreu também um tenente-coronel israelita.

O Hamas não foi brando na resposta e lançou sobre território israelita a ‘chuva’ de foguetes mais intensa desde a guerra de 2014. Uns foram intercetados pelo escudo antimísseis Cúpula de Ferro, outros atingiram áreas civis, matando uma mulher, em Ashkelon.

Um vídeo tornou-se popular nas redes sociais: disparado pelo Hamas, um rocket Kornet — um míssil antitanque de fabrico russo — atinge um autocarro militar israelita, criando a sensação de que o Hamas ‘batera o pé’ ao poderoso Tsahal (Forças de Defesa de Israel).

Israel retaliou com bombardeamentos em Gaza durante alguns dias. que mataram mais cinco palestinianos. Quando se temia uma nova guerra em Gaza, foi assinada uma trégua — uma “rendição ao terrorismo”, acusou Avigdor Lieberman, no mesmo dia em que se demitiu de ministro da Defesa.

“Netanyahu é um ‘falcão’ em muitas coisas, incluindo ao nível do compromisso com os palestinianos, o que torna o conflito israelo-palestiniano muito mais difícil de resolver”, comenta Natan Sachs. “Mas ao contrário da imagem que tem, ele não é aventureiro ou alguém muito interessado em ir para a guerra. Ele é primeiro-ministro há muito tempo [entre 1996 e 1999 e desde 2009], mas teve apenas um grande conflito — em Gaza, em 2014 — o qual, na verdade, ele também não queria. Netanyahu descobriu que os eleitores gostam de um líder que soa como um ‘falcão’, mas não de um líder que os mande para a guerra.”

A opção de Netanyahu por uma trégua com o Hamas afastou, por momentos, o espectro de uma nova guerra na região, mas trouxe instabilidade política ao executivo que lidera. A decisão não foi unânime dentro da frágil coligação governamental — composta por cinco partidos (Likud, Kulanu, Lar Judaico, Shas e Judaísmo Unido da Torah) e apoiada no Parlamento (Knesset) por 61 de 120 deputados — e voltou a ser notícia, em Israel, a possibilidade de antecipação das eleições agendadas para 5 de novembro de 2019.

“Estamos numa situação particularmente complexa ao nível da segurança”, afirmou Netanyahu, no domingo, num discurso transmitido pela televisão. “Em tempos como estes, não se derruba um governo. É irresponsável… Estamos numa batalha intensa e, no meio de uma batalha, não abandonamos os nossos postos. No meio de uma batalha, não fazemos política. A segurança da nação está para além da política.

Uma sondagem divulgada na terça-feira revelou que para 58% dos inquiridos não foi a segurança do país que levou Netanyahu a afastar a hipótese de eleições antecipadas, mas antes motivações de ordem política.

“Netanyahu pode ganhar ou perder com eleições antecipadas”, conclui Natan Sachs. “Por um lado, é suspeito em vários casos de corrupção, e poderia sair beneficiado se ganhasse umas eleições antes de os enfrentar. Por outro, as suas últimas movimentações em Gaza — procurando um cessar-fogo com o Hamas — foram muito impopulares em Israel, uma vez que foram acompanhadas por foguetes mortais disparados pelo Hamas que apenas foram parcialmente retribuídos. Mais tempo [no poder] permitirá a Netanyahu distanciar-se disso.”

Artigo publicado no Expresso Online, a 23 de novembro de 2018. Pode ser consultado aqui

Viagem ao país onde quase não se ouve o barulho das crianças

Ir de férias à Coreia do Norte não é tarefa impossível. Um jovem português predispôs-se à aventura para tentar perceber o que era ficção e realidade entre tanta coisa que ouvia sobre um país governado há 70 anos por uma família. O primeiro mito caiu poucos minutos após entrar no país…

Duas grandes estátuas em bronze de Kim Il-sung e Kim Jong-il, os “grandes líderes” falecidos, são uma das imagens icónicas de Pyongyang JOÃO CHALEIRA

João Chaleira levava meia dúzia de horas em solo norte-coreano quando se questionou, pela primeira vez, se aquele país seria tão fechado e rígido como tantas vezes ouvira nas notícias. Sentado à mesa de um restaurante, no centro de Pyongyang, partilhava o jantar com sete outros ocidentais que, como ele, tinham escolhido a Coreia do Norte para umas curtas férias. Nos dias seguintes, iam viajar juntos, acompanhados por duas guias norte-coreanas, uma fluente em inglês, a outra em francês.

Quando pensavam que o jantar tinha terminado, as luzes da sala apagaram-se. “Olhámo-nos sem perceber o que se passava”, conta este abrantino de 29 anos, residente em Lisboa desde os 18. “Surgem, então, duas empregadas com um bolo. As guias levantam-se da mesa e começam a caminhar na minha direção. Cantam os ‘parabéns a você’ e entregam-me um ramo de flores. Depois agradecem-me por eu ter escolhido passar o meu aniversário no seu país. Eu, que esperava o tal país rígido, quase agressivo e de poucos sorrisos, sou de repente confrontado com uma festa surpresa em Pyongyang! A ideia de que ia passar os dias seguintes a olhar por cima do ombro caiu logo ali.”

O português não dissera a ninguém que fazia anos, mas uma situação desmascarou-o. À chegada ao país, tinha a recebe-lo, na estação ferroviária de Pyongyang, uma das guias, que logo lhe pediu o passaporte — o documento só seria devolvido no final da viagem. Daí até à preparação da festa, tudo foi feito na maior discrição.

Vista geral sobre a cidade de Pyongyang, atravessada pelo Rio Taedong JOÃO CHALEIRA

Na Coreia do Norte, só se entra a partir da China, em comboio ou de avião. João optou por ir por terra: primeiro, de Pequim a Dandong (norte da China), onde apanhou outro comboio, que só parou na capital norte-coreana. Ao todo, precisou de quase 24 horas.

O controlo fronteiriço foi feito dentro das carruagens, atravessada a Ponte da Amizade, sobre o Rio Yalu, que separa Dandong e a cidade norte-coreana de Sinuiji. “Ia preparado para um controlo muito rígido. Tinham-me dito que era necessário encarar esse momento com o máximo de cuidado e respeito. Quando chegou a minha vez, a primeira coisa que me perguntarem foi se levava… livros.”

A pergunta não o surpreendeu. Em Pequim, tinha tido um “briefing” preparatório, onde — para além de lhe explicarem que “a Coreia do Norte não existe”, e que o país chama-se República Popular Democrática da Coreia (DPRK, na sigla inglesa) — lhe falaram da realidade que ia encontrar e de regras que havia que cumprir. “Foi-me dito para não levar livros, documentos relacionados com a Coreia ou mesmo bandeiras da Coreia do Sul, Japão ou Estados Unidos estampadas em roupas ou em malas.”

Curiosamente, carimbos no passaporte — ainda que relativos aos mesmos países — não eram problemáticos. Preocupante era a tecnologia que o turista levava consigo para dentro do país. “Camera?” “Phone?” “Computer?”, perguntavam os agentes, num inglês rudimentar, durante a revista, que podia implicar pesquisas nos telemóveis e portáteis.

“Eles anotavam as marcas e os modelos de tudo o que era tecnologia, provavelmente para garantir que os equipamentos que entravam no país eram os mesmos que saíam, e que nenhum ficava lá com informação. Tirando isso, foi tranquilo. Os agentes sorriam e pediam permissão para mexer nas malas. Terminados os procedimentos, podíamos descer do comboio para esticar as pernas. Na plataforma, havia uma senhora a vender ‘duty-free’. Caiu o meu primeiro mito em relação à Coreia do Norte.”

Hora de ponta numa estação do metro, em Pyongyang JOÃO CHALEIRA

Entre os companheiros de viagem, havia uma grega, uma alemã, um canadiano, um finlandês e três franceses. Uns mais viajados do que outros, todos com a mesma motivação para ali estarem: espreitar a Coreia do Norte e, dentro do que fosse possível observar, tentar confirmar o que era realidade e ficção entre tanta coisa que tinham ouvido sobre um país governado há 70 anos pela família Kim.

No “briefing” em Pequim, tinham sido aconselhados a evitar conversas de cariz político. Mas o que fazer quando era a própria guia — João interagiu mais com a falante de inglês — a disparar perguntas? “O que achas da reunificação? Achas que vai acontecer?” “Os EUA devem estar envolvidos? E a China?”

Muitas vezes, as discussões começavam a dois e generalizavam-se ao grupo. “No início, tinha receio de responder. Não sabia se podia dizer o que realmente pensava. Com o passar dos dias, a conversa tornou-se mais distendida. Muitas vezes, ela apenas ouvia; noutras, também dava a opinião. Até que ponto era sincera, não sei. Também não consegui perceber se as perguntas eram curiosidade pessoal ou se tinha indicações para recolher as nossas opiniões e reportá-las. Mas tendo sempre presente que não estava num país livre, e que só via aquilo que me deixavam ver, foi outro mito que caiu, o de que não é possível ter conversas políticas na Coreia do Norte.”

Em Pyongyang, o Arco da Reunificação recorda um projeto antigo que se mantém atual: a reunificação da Península JOÃO CHALEIRA

A Coreia do Norte enquanto destino de férias entra nos planos de João Chaleira — um apaixonado por basquetebol licenciado em gestão de empresas — na senda de um conjunto de “viagens míticas” com que sempre sonhou, e que concretizou. Foi de Moscovo a Pequim a bordo do Transiberiano, visitou Machu Picchu (Peru), viu o nascer do sol no Salar de Uyuni (Bolívia), calcorreou Israel e a Palestina, o Japão e a Islândia. Em dezembro foi à Patagónia.

“Quando comecei a pensar na viagem seguinte, quis optar por algo mais marcante a nível pessoal. E surgiu a ideia da península da Coreia, com o propósito de conhecer os dois lados de uma das fronteiras mais fechadas do mundo que separa, para além de países, duas realidades distintas.” Esteve cinco dias no Norte e sete no Sul.

Se ir ao Sul é fácil, ir ao Norte não é necessariamente difícil. Há agências acreditadas pelas autoridades de Pyongyang que vendem “tours”. Para além da capital, João visitou Nampo, Sariwon, Kaesong e a zona desmilitarizada entre as duas Coreias. As burocracias são céleres e simples — o visto é dado à entrada —, mas também criteriosas… Há que assinar um documento em que o turista garante que não trabalha como jornalista, fotógrafo ou escritor. Nesses casos, a agência deixa de poder ser útil e aconselha-o a contactar diretamente as autoridade norte-coreanas — uma forma polida de fechar a porta, salvo honrosas exceções…

No comboio que levou João até Pyongyang, seguia também o ator Michael Palin, dos Monty Pyhton. “Ia lá gravar um programa de viagens para a ‘National Geographic’. Já ia acompanhado por um guia. Tinham fitas azuis no braço que os identificava como jornalistas.”

O Palácio do Sol, onde estão sepultados Kim Il-sung e Kim Jong-il, avô e pai do atual líder JOÃO CHALEIRA

Na Coreia do Norte, pode-se tirar fotografias em “todo o lado”, salvo onde os guias o proíbem, como edifícios governamentais, controlos militares nas ruas ou situações que revelem pobreza. No metro, pode-se fotografar as estações, mas não os túneis.

Também não é permitida a captação de imagens no Palácio do Sol, onde estão os mausoléus de Kim Il-sung e Kim Jong-il — avô e pai do atual líder, Kim Jong-un — e onde só se entra com traje formal. “Ainda em Lisboa, recebi um email da agência aconselhando a que levasse camisa, calça, gravata e sapatos para a visita ao Palácio do Sol”, diz João.

Em dois momentos do programa, foi também aconselhado ao grupo que fizesse vénias em sinal de respeito: uma no Palácio do Sol, onde o visitante tem de se curvar aos pés, à esquerda e à direita dos corpos (não à cabeça); outra diante das duas grandes estátuas em bronze dos “grandes líderes” falecidos, uma das imagens icónicas de Pyongyang. As vénias não eram obrigatórias, mas quem não as fizesse ficaria excluído das visitas aos locais.

Lembrança do Comité Português de Estudo do Kimilsunismo, na Torre Juche, um monumento em Pyongyang que homenageia a ideologia do regime norte-coreano, segundo a qual “o homem é dono do seu próprio destino” JOÃO CHALEIRA

Contactar com locais foi um obstáculo intransponível. “Com o passar dos dias, fui percebendo até onde é que podia ‘esticar a corda’. Um dia, quando saíamos do autocarro, havia um senhor a pouca distância, que nos olhava com curiosidade. Levantei a mão, ele sorriu e correspondeu. Num ápice, a guia colou-se a mim para se inteirar do que estava a acontecer. Pedi para tirar uma fotografia com o homem e ela autorizou, agindo sempre com pressa. O senhor seguiu-nos, com o telemóvel na mão, e pediu para tirar uma foto comigo. Ela não deixou.”

Durante a estadia na Coreia do Norte, João nunca ficou sozinho — até ao dia em que se sentiu indisposto. “Estávamos num restaurante. A guia ficou preocupadíssima. Imagino a pressão que sofrem para mostrar o melhor do país e fazer com que os turistas não fiquem com má imagem. Seria um grande problema se um ocidental adoecesse num ‘tour’. Pedi-lhe para ir ‘lá fora’ apanhar ar. Ela hesitou mas deixou. Só depois me apercebi que estive 15 minutos sozinho numa rua de Pyongyang.”

Na memória, João guarda a imagem de uma cidade organizada, incrivelmente limpa e estranhamente silenciosa, com pouco trânsito e onde quase não se ouve barulho de crianças. Diz também nunca se ter sentido em risco. “Antes de partir, perguntavam-me se eu não tinha medo de ir à Coreia do Norte. Eu comecei a fazer essa pergunta a mim próprio e uma resposta foi-se formando na minha cabeça. Eu teria medo de ir ao Afeganistão ou à Síria, pelo fator aleatório: podia estar numa praça e acontecer um atentado terrorista. Na Coreia do Norte, bastaria seguir as indicações das guias e manter o foco: Atenção às fotos! Mantém-te com o grupo! Evita conversas com locais! Atenção às risadas e cotoveladas quando nos contam histórias surreais dos líderes!”

“Todas as nossas ações, por mais inocentes que fossem, estavam a ser vigiadas pelas guias. Mas, verdadeiramente, nunca me senti vigiado. Havia um controlo, mas era tão bem feito que eu facilmente me abstraía.”

Foto tirada desde o alto Hotel Yanggakdo, onde ficam hospedados todos os turistas que visitam Pyongyang JOÃO CHALEIRA

No fim de cada dia de visitas, o grupo era deixado no Hotel Yanggakdo, onde ficam hospedados todos os turistas que visitam Pyongyang. Inaugurado em 1995, o edifício é um monstro de betão ao estilo soviético, com 1000 quartos distribuídos por 48 andares. “Nós ficávamos no piso 37. Eu ia jurar que os turistas eram alojados nos andares de cima para parecer que o hotel estava cheio, mas estava muito longe disso.”

Sem as guias por perto, por que não arriscar uma escapada noturna pelas ruas da cidade? “O hotel tem uma localização curiosa”, explica João. Situado numa ilha no meio do Rio Taedong, que atravessa a capital, o acesso faz-se através de duas pontes, uma para cada lado. “Não lhe vou chamar prisão, mas é a comparação que ocorre com facilidade…” Não havia guardas à porta do hotel a impedir a saída para o exterior, mas possivelmente se arriscassem ir sozinhos seriam intercetados e mandados para casa.

João Chaleira junto à guia do Museu da Guerra de Libertação da Pátria Vitoriosa, em Pyongyang. A gravata, que tinha sido necessária para visitar o Palácio do Sol, já estava fora do pescoço JOÃO CHALEIRA

No hotel, não faltava nada: restaurantes, bares e karaoke; casa de câmbio, posto de correios, terminais de telefone, onde se podia ligar para o estrangeiro. A outra forma de fazer chamadas internacionais passava por comprar um chip de telemóvel norte-coreano, que custava mais de 100 euros e que só permitia fazer chamadas, não receber. No fim da viagem, o chip teria de ficar no país.

O grupo almoçava e jantava quase sempre em restaurantes, numa sala reservada só para turistas, sem possibilidade de contacto com locais. “Em alguns lugares, parecia mesmo que éramos os únicos clientes, numa sala cheia de mesas e cadeiras vazias e uma mesa posta para nós.”

Na última noite, em jeito de despedida, a guia pergunta ao grupo o que quer fazer. Sugerem ir a um pub local. Ela recorda que no hotel há bares com fartura, mas o grupo insiste. Encurralada, ela não dá parte de fraca. Terminado o jantar, mergulham na noite norte-coreana — o grupo com a expectativa de testemunhar como os locais se divertem, as guias com a sensação do dever cumprido. Chegados ao pub, não faltava música nem bebidas. Mas o local estava… vazio.

Artigo publicado no Expresso Diário”, a 19 de novembro de 2018 e republicado no “Expresso Online”, a 25 de novembro de 2018

Mundial 2022: Jogar no Qatar, dormir no Irão

O Qatar e o Irão lutam, presentemente, contra situações de asfixia internacional. O primeiro tenta resistir ao embargo decretado por quatro “irmãos” árabes que temem a sua proximidade ao Irão. Este tenta sobreviver à reposição de sanções ordenada por Donald Trump. Poderá o Mundial 2022 — organizado pelo Qatar — ser, para ambos, um aliado no combate a esse isolamento?

O Qatar está a equacionar hospedar algumas seleções que vão disputar o Mundial 2022 noutros países, nomeadamente no vizinho Irão. Em declarações à agência noticiosa francesa AFP, o chefe do comité organizador da competição disse que o pequeno emirado recebeu “muitas propostas de países” interessados em acolher equipas participantes no torneio, mas que a decisão terá de ser tomada “em conjunto com a FIFA”. “Ainda nada foi decidido”, afirmou Hassan Al Thawadi, na segunda-feira, em Paris, à margem do Fórum para a Paz. “O assunto continua a ser discutido.”

Para o Qatar, a necessidade de ter outras opções para acolher as equipas decorre de uma conjuntura de dificuldades logísticas em virtude do embargo decretado a 5 de junho de 2017 por quatro países árabes — Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrain e Egito —, que acusam o rico emirado de apoiar grupos islamitas radicais e de estar cada vez mais próximo do Irão, o grande rival geopolítico dos sauditas.

Usar infraestruturas iranianas seria algo também do interesse da República Islâmica, a braços com uma asfixia económica e financeira crescente, em virtude da reintrodução, por parte dos Estados Unidos, de sanções que tinham sido suspensas após a assinatura do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, em 2016. Na semana passada, foi reposto um pacote de sanções ao sector petrolífero, que ferem também empresas estrangeiras e países que continuem a fazer negócios com Teerão.

Em abril passado, o ministro iraniano dos Desportos, Massoud Soltanifar, disse que o Qatar poderia usar as dezenas de hotéis e de instalações desportivas existentes na ilha iraniana de Kish, a sul. “O Irão está pronto para fornecer ao Qatar qualquer assistência para ajudar o país a organizar melhor o torneio, que é visto por muitos milhões de pessoas”, disse Soltanifar, após um encontro com o homólogo do Qatar, à margem de uma reunião ministerial da Organização para a Cooperação Islâmica, em Baku, capital do Azerbaijão.

Se na Rússia foi bom, no Qatar será melhor

A competição está a quatro anos de distância — com o pontapé de saída previsto para 21 de novembro de 2022 —, mas o embargo que visa o Qatar não dá sinais de abrandar. “Espero que as nações que estão a realizar o bloqueio vejam o valor deste grande torneio e permitam que os seus povos beneficiem dele”, apelou Hassan Al Thawadi.

O responsável confirmou que o Mundial está a ser organizado mediante a fórmula de 32 equipas, apesar da FIFA, o organismo máximo que gere o futebol em todo o mundo, já ter aprovado um modelo de 48 equipas a partir do Mundial de 2026. “Há um estudo de viabilidade a pensar numa competição com 48 equipas. Uma decisão será tomada pela FIFA e por nós enquanto nação anfitriã”, acrescentou Al Thawadi.

Arranjar alojamento para mais 16 seleções complicaria enormemente a tarefa do Qatar. Durante uma recente visita às obras nos estádios, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, disse que o Mundial de 2022 a 48 seria “um desafio difícil”. Com a mesma certeza, afirmou: “O Mundial da Rússia foi o melhor de sempre, mas o Mundial de 2022 no Qatar — estou certo — será ainda melhor”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de novembro de 2018. Pode ser consultado aqui

Recordar a I Guerra para evitar a III

O centenário do armistício da I Guerra Mundial, amanhã, traz à reflexão a hipótese de um novo conflito mundial

O ano de 2012 viu partir a última pessoa que participou na I Guerra Mundial. Chamava-se Florence Green, era inglesa e trabalhou numa messe de oficiais da Royal Air Force em Marham, no leste do Reino Unido. Morreu aos 110 anos, os mesmos que tinha o inglês Claude Choules, o último combatente vivo das hostes aliadas, que falecera meses antes de Florence. Do lado das potências centrais, Franz Künstler, nascido no Império Austro-Húngaro, foi o derradeiro veterano a partir — em 2008, com 107 anos de idade. O inglês Harry Patch foi o último sobrevivente entre aqueles que lutaram nas trincheiras. Morreu em 2009, aos 111 anos.

Com estes desaparecimentos centenários, calaram-se de vez os testemunhos na primeira pessoa de quem travou “a guerra que irá acabar com a guerra”, como a ela se referiu o escritor inglês H. G. Wells. Não seria assim, já que, passados apenas 21 anos, outro conflito em grande escala mobilizaria o mundo e dizimaria a Europa. Hoje, 100 anos após o fim da I Guerra Mundial — o armistício foi assinado a 11 de novembro de 2018, na floresta de Compiègne, em França —, uma terceira guerra mundial será um cenário plausível?

Soldados britânicos ocupam uma trincheira alemã, em Ovillers-la-Boisselle, França, durante a Batalha do Somme, em julho de 1916. Um está de vigia enquanto os outros descansam JOHN WARWICK BROOKE / WIKIMEDIA COMMONS

“Uma guerra como a de 1914-18 não é provável, mas só pensando que é possível podemos preveni-la”, diz ao Expresso Álvaro Vasconcelos, ex-diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia e fundador do blogue Fórum Demos. “O nacionalismo é a guerra, disse François Mitterrand no seu discurso-testamento no Parlamento Europeu. É bom lembrarmo-nos disso para que a tragédia europeia não se repita. Nos anos 90, o nacionalismo na Europa levou ao ódio do outro, à guerra e ao massacre”, diz, em referência à Jugoslávia. Hoje, está em alta um pouco por todo o mundo.

Protagonistas da III Guerra

No seu manifesto, o Fórum Demos elenca uma “penosa série de acontecimentos” que alertam para ameaças à democracia: “A eleição de Donald Trump nos EUA, o crescimento da extrema-direita xenófoba na Europa, a recusa da hospitalidade europeia relativamente aos que fogem da guerra nas nossas fronteiras, os milhares de mortos sepultados no Mediterrâneo, a repressão brutal da oposição em países árabes, as vitórias eleitorais de conservadores religiosos no Brasil”.

Professor responsável pelas unidades curriculares de Geopolítica e de Cibersegurança no Instituto Universitário Militar, Armando Marques Guedes realça “o nacionalismo ‘antiglobalista’ e, muitas vezes, agressivamente antioutros — entendidos hoje como os de outras religiões, etnias ou culturas — que pulula na Europa”. Da França ao Reino Unido, da Finlândia à Polónia, Áustria, Alemanha, República Checa, Eslováquia, Hungria e Itália. Mas também na China e Índia, Rússia e Turquia, Brasil e Venezuela, além dos EUA.

“Creio que o nacionalismo que ‘voltou’ é muito mais parecido com o dos anos 30 do que com o dos anos 10 do século passado. Não acredito muito numa guerra europeia, ou num terceiro capítulo da Grande Guerra Civil Europeia”, diz. “O que creio ser possível são mais Ucrânias e Geórgias por essa Europa fora.”

“Uma III Guerra Mundial, comparável à primeira, seria uma guerra total entre Estados Unidos, China e Rússia”, diz ao Expresso o investigador Carlos Gaspar, do Instituto Português de Relações Internacionais. “A Europa, depois do seu suicídio nas duas grandes guerras do século XX, ficou reduzida a um estatuto menor e as suas principais potências — Reino Unido, França, Alemanha — são regionais, poderiam ficar à margem de uma nova guerra hegemónica.”

China em todo o lado

Com sofisticada tecnologia no ar em vez de homens enfiados em trincheiras, “uma III Guerra Mundial seria provavelmente dominada e decidida pelas armas nucleares”, acrescenta Gaspar.

Trump rasgou recentemente o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário — assinado entre EUA e URSS em 1987 —, numa medida interpretada como visando forçar a China a comprometer-se num potencial novo tratado. A China é um dos cinco membros do exclusivo clube de países com armas nucleares e tem planos de expansão nesse domínio. A 23 de junho passado, Pequim lançou um concurso para a construção de um quebra-gelos movido a energia nuclear.

Marques Guedes recorda que a China “tem uma presença cada vez maior em África — vide a sua enorme base naval em Djibouti, criada em agosto de 2017 — e penetração em redor, com navios de guerra nos dois lados do Atlântico Sul, no Golfo da Guiné e na África Ocidental, e no Mediterrâneo. E, imagine-se, no Mar Negro e no Ártico!”. O académico afasta o cenário de um conflito à escala da guerra de 1914-18. “Mas prevejo guerras assimétricas [envolvendo atores não-estatais e recorrendo a táticas terroristas, por exemplo] e novas guerras por procuração, com ‘estrangeiros próximos’ e ‘estrangeiros distantes’, para utilizar a terminologia russa, por trás delas”.

A lição de Mark Twain

Em conflitos na complexa região do Médio Oriente, por exemplo, os “próximos” são a Arábia Saudita, o Irão, a Turquia, o Qatar, os Emirados Árabes Unidos e, em parte, o Egito e Israel; os “distantes” são a Rússia, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a União Europeia, a NATO e, com protagonismo crescente, a Alemanha e a Polónia.

Uma dessas guerras trava-se na Síria. Outras grassam no Iémen, Líbia, Mali, República Centro-Africana e no martirizado Afeganistão. Marques Guedes cita Mark Twain: “A História não se repete, mas rima muitas vezes”.

CONTEXTO

Pretexto
A 28 de junho de 1914, é assassinado em Sarajevo o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, arquiduque Francisco Fernando

Alianças
De um lado, os Aliados (Tríplice Entente: França, Rússia, Reino Unido). Do outro, as potências centrais (Tríplice Aliança: Alemanha, Império Austro-Húngaro, Itália). Esta última só entra na guerra em 1915, mas na fação aliada. Ao lado das potências centrais ficou o Império Otomano

Baixas
Metade dos 20 milhões de mortos eram civis. Os Aliados perderam 5,7 milhões de soldados, as potências centrais quatro milhões

Portugueses
Combateram 100 mil do lado aliado; 7500 perderam a vida

(Imagem principal: Ilustração alusiva ao momento da assinatura do armistício, a 11 de novembro de 1918, numa carruagem-restaurante de um comboio estacionado na floresta de Compiègne, norte de França MAURICE PILLARD VERNEUIL / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no Expresso, a 10 de novembro de 2018