Já há 18 candidatos às presidenciais de 2020. E Joe Biden pode ser o 19.º

A cerca de 20 meses das próximas presidenciais, já há candidatos a percorrer os Estados Unidos de microfone na mão a tentar convencer eleitores. O ódio a Donald Trump espicaçou em especial os democratas, que já têm em marcha 17 candidaturas

Nos Estados Unidos, a corrida às eleições presidenciais de 2020 conta já com 18 atletas. Donald Trump foi quem primeiro se apresentou em pista, ao formalizar essa pretensão exatamente no mesmo dia em que tomou posse como 45º Presidente dos Estados Unidos, 20 de janeiro de 2017. A confiança de Trump na reeleição explodiu este fim de semana, conhecidas as conclusões do procurador especial Robert Mueller que apontam para a inexistência de provas claras de conluio entre a campanha de Trump e a Rússia, nas eleições de 2016.

No seu sítio na Internet, Trump não desperdiçou a oportunidade para tirar benefícios desta vitória. Mal se abre a página do seu sítio na Internet, salta um “pop-up” que diz: “Não houve conluio & exoneração completa. Os democratas ganharam milhões com uma mentira. Agora vamos responder! Façam a vossa doação na próxima hora e vamos quadruplicar [as contribuições dos democratas]! Contribuam já.”

“Estão a aproveitar a onda ‘No Collusion’ [Não houve conluio] para mobilizar os republicanos em torno de Trump”, comenta ao Expresso o analista de política americana Germano Almeida. “‘No Collusion’ passa a ser uma espécie de slogan da recandidatura” — e possivelmente irá ser repetido por Trump até à exaustão no comício desta quinta-feira na cidade de Grand Rapids, Michigan.

Na corrida pela reeleição, Trump tem já 17 concorrentes, 16 deles afetos ao Partido Democrata. (Nas fotogalerias abaixo, os 18 surgem pela ordem em que anunciaram candidatura.) Germano Almeida destaca três nomes. À cabeça, o veterano Bernie Sanders, o senador do Vermont que em 2016 quase derrotou Hillary Clinton nas primárias democratas. “Sanders tem muita notoriedade e uma base mobilizada. Mas é demasiado à esquerda e fará 80 anos a meio do mandato.”

No pólo oposto da veteranice, há sangue novo com um poder mobilizador crescente. Por um lado, Beto O’Rourke, que nas últimas eleições para o Congresso, a 6 de novembro de 2018, quase derrotou o republicano Ted Cruz no Texas, um dos estados mais conservadores, na disputa para o Senado. “É talvez o candidato mais carismático e com maior potencial de crescimento. Sendo do Sul, pode ser a melhor hipótese para fazer a ponte entre os radicais e a ala moderada e pragmática.”

Por outro lado, uma das seis mulheres que estão na corrida à Casa Branca. “Kamala Harris, senadora da Califórnia, arrancou muito forte a agarrar temas caros à base democrata. É muito bem preparada e consegue atrair a atenção mediática. Tem história pessoal e familiar poderosa e consegue aliar uma agenda de esquerda com um discurso credível, sem cair no radicalismo. Será talvez a favorita não assumida de Barack Obama.”

No campo republicano, Donald Trump tem, para já, apenas um concorrente: Bill Weld, um advogado que foi governador do Massachusetts e candidato à vice-presidência nas eleições de 2016, ao lado de Gary Johnson, pelo Partido Libertário.

A batalha mais acesa trava-se, pois, entre democratas. E a mais de ano e meio das eleições — agendadas para 3 de novembro de 2020 —, poderão ainda surgir mais candidatos. “Está tudo à espera de Joe Biden”, diz Germano Almeida, autor do livro “Isto não é bem um Presidente dos EUA” (Prime Books, 2018).

Vice-presidente de Barack Obama nos dois mandatos (2009-2017) e senador pelo Delaware durante mais de 30 anos (1973-2009), Biden é “um dos poucos pesos-pesados que restam na alta política americana. Como tem níveis de notoriedade muitíssimo superiores a todos os outros, surge neste momento muito à frente nas primeiras sondagens.”

Esta quinta-feira, Biden surge a liderar destacado uma sondagem da Universidade Quinnipiac (Connecticut) sobre a nomeação democrata, com 29% das preferências de voto. É seguido por Bernie Sanders (19%), Beto O’Rourke (12%) e Kamala Harris (8%).

Na última sondagem nacional, realizada pela conservadora Fox News e divulgada no domingo — e que ainda não contempla o efeito “No Collusion” —, Biden bate Trump por uns claros 47% contra 40%. “Neste fase do processo, em que os candidatos ainda não tiveram oportunidade de se dar a conhecer verdadeiramente, é normal que sobressaia quem já é conhecido há mais tempo. E, nesse plano, Joe Biden e Bernie Sanders têm grande vantagem sobre todos os outros.” Na sondagem da Fox, Sanders também vence Trump, por 44% contra 41%.

Perante a confiança intacta em Biden, seria de todo impossível uma repetição da dupla Obama-Biden, desta vez com papeis invertidos? “Legalmente sim, realisticamente não”, explica o comentador. “Nem Barack Obama aceitaria a descida de posto nem isso seria bom para Joe Biden. Seria a condenação do nomeado [Biden] a um rótulo de ‘marioneta’ do verdadeiro candidato desejado [Obama].”

Apesar dos bons números, uma eventual candidatura de Joe Biden não está isenta de riscos. Na semana passada, a televisão norte-americana CNBC dava conta da hesitação de alguns doadores democratas, pelo menos numa primeira fase. A coberto do anonimato, um financeiro multimilionário afirmava: “Penso que com Biden há um sentimento de ‘Eu gosto dele, é mesmo um bom tipo’, mas seria candidato numa altura em que um branco de 76 anos pode não ser aquilo que os eleitores desejam.”

“Os democratas terão de refletir se querem correr o risco de escolher alguém que terá 78 anos à data da tomada de posse para o primeiro mandato — e que percorre os corredores do poder em Washington há quase tantos anos quantos os que Beto O’Rourke tem de vida”, comenta Germano Almeida. “A escolha dos democratas será muito geracional.”

Na segunda-feira, Jennifer O’Malley Dillon surgiu nas notícias como a mais recente contratação de Beto O’Rourke para a sua equipa de estrategas. Com trabalho feito em cinco campanhas presidenciais, foi vice-diretora da primeira campanha de Obama, em 2012. Desta vez, diz alinhar com o candidato do Texas porque representa “uma nova geração de líderes de que precisamos”.

Sendo importante, a idade não explica tudo. Bernie Sanders é mais velho do que Biden e, nas 24 horas seguintes a anunciar que ia a votos, conseguiu angariar 5,9 milhões de dólares (5,2 milhões de euros) — neste capítulo, o campeão foi Beto O’Rourke que amealhou 6,1 milhões de dólares (5,4 milhões de euros).

“Se um dos grandes problemas de Hillary em 2016 foi ser ‘demasiado conotada’ com o poder estabelecido e ‘mais do mesmo’ do que se tinha passado em Washington, será mesmo inteligente escolher, para travar uma repetição do triunfo de Trump, alguém que faz parte do ‘establishment’ há mais de 40 anos?”, questiona Germano Almeida.

Perante a pulverização democrata, Kamala Harris e Beto O’Rourke são os únicos que conseguem acompanhar os veteranos Biden e Sanders com sondagens nacionais acima dos dois dígitos. “Dão mostras de terem enorme margem de crescimento”, diz o analista. “Kamala mais à esquerda de Beto. Beto proveniente do Sul e mais forte em zonas da América rural, com melhor desempenho em ‘território Trump’ e Kamala mais urbana e ligada a estados onde os democratas tradicionalmente dominam. Kamala mais forte entre os negros, Beto mais forte entre brancos e homens (dois segmentos em que Hillary falhou e em que os democratas terão de fazer melhor em 2020). Ambos fortes entre os jovens, as mulheres e os latinos.” Fortes também num campo que, geralmente, é determinante para o desfecho de uma eleição presidencial nos Estados Unidos: “o fator novidade”.

(IMAGEM PIXABAY)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 28 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

Apelos há muitos, boicotes à Eurovisão não há nenhum

Roger Waters pediu a Conan Osíris que boicote a Eurovisão em Israel. O fundador dos Pink Floyd, um destacado ativista da causa palestiniana, tentou sensibilizar o artista português para a ocupação da Palestina e o “apartheid” ali imposto. Mas a dois meses do Festival, a disputa entre a Rússia e a Ucrânia fez mais danos ao evento do que o conflito israelo-palestiniano…

Roger Waters, fundador dos Pink Floyd, junto ao “muro da Cisjordânia”, na região de Belém, a 21 de junho de 2006. “Stop apartheid”, lê-se AHMAD MEZHIR / REUTERS

Acolher um evento como a Eurovisão pode ser uma faca de dois gumes para um Estado como Israel. Por um lado, confere-lhe uma montra única de promoção do país, já que o evento é visto por centenas de milhões de pessoas. Por outro, tem inerente uma grande dose de risco dada a possibilidade de se registarem boicotes em protesto contra a ocupação israelita da Palestina.

A dois meses da final de Telavive – agendada para 18 de maio – não há, até ao momento, qualquer boicote anunciado. Mas desde domingo que Portugal está na linha de mira do movimento internacional BDS que promove formas de “Boicote, Desinvestimento e Sanções” contra Israel. Na sua página no Facebook, Roger Waters, fundador dos Pink Floyd e um dos mais destacados ativistas da causa palestiniana, publicou uma “carta aberta a Conan Osíris e aos outros 41 finalistas da Eurovisão”.

“Amigos meus disseram-me que Conan Osíris poderia juntar-se à vasta rede de artistas que estão atentos ao apelo palestiniano de boicote à Eurovisão na cidade de ‘apartheid’ de Telavive.” O músico inglês leu a tradução da letra de “Telemóveis”, apreendeu a mensagem “bem profunda” sobre a vida, a morte e o amor e dirigiu-se ao artista português. “[Há dez dias], escrevi-lhe e sugeri que agora ele tinha uma oportunidade para falar da vida sobre a morte e também de direitos humanos sobre erros humanos.”

Na carta, “expliquei que a Eurovisão poderia ser um ponto de inflexão [na situação de ‘apartheid’ em que vivem os palestinianos], pedi a Conan que se erguesse. Infelizmente, até agora, não há resposta de Conan”. À SIC, o português confirmou que recebeu o email, que o leu, mas escudou-se a comentar a abordagem do músico britânico.

Na bolsa das apostas, o inesperado protagonismo de Conan Osíris não o fez mais favorito à vitória do que até então. Esta segunda-feira, estava em 10º lugar quer no EurovisionWorld.com quer no OddsChecker.com — ambos os rankings são liderados pela Holanda, seguida pela Rússia e pela Suécia.

A banda Hatari, que representará a Islândia, tem sido crítica da realização da Eurovisão em Israel FOTO RUV

A ausência de boicotes não significa que as autoridades de Telavive possam confiar num evento sem casos políticos. A perspetiva de algum artista aproveitar o direto para expressar apoio aos palestinianos é real e, com todos os concorrentes já apurados, Telavive tem um receio particular: a banda Hatari, que representará a Islândia com o tema “O ódio prevalecerá”.

Há duas semanas, numa entrevista no Canal 13 de Israel, a banda techno-punk não iludiu a questão: “Houve muita pressão na Islândia para que a competição fosse boicotada. Nós temos sido críticos em relação à realização da competição em Israel, e o facto de a Islândia ter votado em nós significa que concordam com a nossa agenda de manter viva uma discussão muito importante.” A banda — que está em 7º lugar no ranking dos favoritos — não desvendou o que planeia fazer durante a atuação. Porém, “julgamos que não haverá uma bandeira palestiniana no palco”.

Atento à “ameaça”, o Ministério dos Assuntos Estratégicos de Israel montou uma “task force” interministerial para lidar com eventuais críticas de teor político que emirjam de delegações ao festival e que possam constituir uma violação da “Lei de Prevenção de Danos ao Estado de Israel através de Boicote”, de 2011. A organização Shurat HaDin, que representa judeus vítimas de terrorismo, apelou a que a banda seja proibida de entrar no país.

“Não vemos razão para que não sejam autorizados a entrar”, reagiu Jon Ola Sand, supervisor executivo do Festival. “Temos um diálogo estreito com os governantes de Israel, e eles sabem que isso pode rapidamente voltar-se contra eles e contra os organizadores se for recusado visto a alguém.” O “Sr. Eurovisão” acrescentou que a televisão pública islandesa (RUV) está ciente das consequências que podem advir de uma provocação política em palco. As regras da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla inglesa) não permitem letras, discursos ou gestos de natureza política e comercial durante a Eurovisão.

Dos 42 membros da EBU com participação prevista na Eurovisão, um saltou fora por razões políticas — não relacionadas com Israel. A Ucrânia, vencedora em 2004 e 2016, e onde Salvador Sobral ganhou, cancelou a sua participação após a candidata escolhida pelo público, Anna Korsun (MARUV de seu nome artístico) ter-se recusado a cancelar os concertos que já tinha agendados… na Rússia.

Uma outra participação envolta em polémica política é a da França. Na semana anterior à Eurovisão, a televisão pública israelita (KAN) tem prevista a transmissão de uma série em três episódios intitulada “Douze Points” (Doze Pontos) alusiva a um festival da canção realizado em Israel. Na trama, o representante francês é um jovem de origem magrebina (franco-argelino), homossexual e muçulmano que se vê pressionado pelo Daesh para realizar um atentado durante o direto do espetáculo. A série decorre num registo humorístico e nem os jiadistas nem os agentes da Mossad que tentam sabotar os planos são poupados à sátira.

Numa coincidência extraordinária, o representante francês em Telavive é Bilal Hassani, um jovem de aparência andrógina, nascido em Paris no seio de uma família franco-marroquina, muçulmano e homossexual. As autoridades francesas acusaram o desconforto, pressionaram para que a série não fosse cancelada mas esclareceu que não tenciona faltar ao evento.

Em matéria de boicotes, dir-se-ia que a organização israelita da Eurovisão tem visto o seu trabalho mais dificultado por… israelitas. Ultrapassadas as meias-finais de 14 e 16 de maio, a final realiza-se no dia 18, um sábado. Entre o pôr do sol de sexta-feira e o de sábado, os judeus observam o “sabbath”, período dedicado à oração e à introspeção, incompatível com qualquer atividade laboral. Ainda que a gala da Eurovisão possa decorrer já num horário posterior, o dia será necessário para ensaios.

Se a escolha de Telavive em detrimento de Jerusalém — a opção preferida do Governo israelita para acolher a Eurovisão — afastou o evento do epicentro de eventuais protestos por parte de judeus ultraortodoxos, não o protegeu em absoluto de danos motivados por questões religiosas. Desafiado pela organização para abrir o espetáculo da final, Omer Adam, estrela da pop israelita, declinou o convite por respeito ao “sabbath”. Já na fase de apuramento do candidato israelita, The Shalva Band, composta por músicos com deficiências e um dos favoritos à vitória, desistiu da competição por incompatibilidade entre os deveres religiosos e o calendário da Eurovisão.

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 18 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

Nas favelas, nos museus, no amor e na destruição: 30 imagens que fazem de Cristiano um ícone planetário

Cristiano Ronaldo é alguém que — um pouco por todo o mundo — alimenta sonhos de miúdos e conquista a admiração de graúdos. Retratado em murais, esculpido em estátuas, estampado em t-shirts ou pintado em telas de artistas, CR7 é um fenómeno global, venerado como um deus nos campos de refugiados rohingya, nas favelas do Rio de Janeiro, nas ruas da Índia, do Haiti ou da Palestina

Escultura de areia de CR7, na cidade chinesa de Zhoushan GETTY IMAGES
Um artista pinta o retrato do futebolista português, em frente ao Hotel de Ville, em Paris KENZO TRIBOUILLARD / AFP / GETTY IMAGES
Uma turista demonstra toda a sua paixão por Ronaldo, num centro comercial de Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos MATTHEW ASHTON / GETTY IMAGES
Uma criança nepalesa acabou de receber uma camisola autografada pelo seu ídolo OMAR HAVANA / GETTY IMAGES
Ronaldo, Messi, Robben e Pirlo “testemunham” os dotes futebolísticos de duas crianças palestinianas, no campo de refugiados de Khan Yunis, Faixa de Gaza ABED RAHIM KHATIB / GETTY IMAGES
Um jovem prepara-se para uma partida de futebol, na cidade de Goma, República Democrática do Congo JUNIOR D. KANNAH / AFP / GETTY IMAGES
No Funchal, a estátua de Cristiano faz as delícias de muitos turistas que visitam a ilha natal do futebolista RAFAEL MARCHANTE / REUTERS
Um artista de rua desenha o retrato do casal Cristiano-Georgina, na cidade russa de Sochi NELSON ALMEIDA / AFP / GETTY IMAGES
Entre o brasileiro Neymar e o uruguaio Luis Suárez, num mural da favela Tavares Bastos, no Rio de Janeiro, Brasil YASUYOSHI CHIBA / AFP / GETTY IMAGES
Retratado como um czar (ao lado de Sir Alex Ferguson, que o treinou no Manchester United), na exposição “Como os Deuses”, no Museu da Academia Russa de Belas Artes, em São Petersburgo OLGA MALTSEVA / AFP / GETTY IMAGES
Uma admiração que atravessa várias gerações, numa rua estreita da cidade indiana de Calcutá SAIKAT PAUL / GETTY IMAGES
O número 7 foi estampado, o nome Cristiano foi manuscrito, nas costas de um jovem afegão, em Cabul AHMAD MASOOD / REUTERS
Desde junho de 2010 que Cristiano Ronaldo tem uma estátua de cera, no famoso museu Madame Tussauds, em Londres STEFAN WERMUTH / REUTERS
Cristiano também conquistou um lugar no Museu Madame Tussauds de Nova Deli, na Índia, inaugurado a 30 de novembro de 2017 SAJJAD HUSSAIN / AFP / GETTY IMAGES
Uma estátua em cera do futebolista é uma das atrações do Museu CR7, no Funchal OCTÁVIO PASSOS / GETTY IMAGES
Mural de Cristiano Ronaldo, na cidade russa de Kazan, que acolheu a seleção portuguesa no Mundial de 2018 BENJAMIN CREMEL / AFP / GETTY IMAGES
Na região nepalesa de Bhaktapur, uma criança olha para os destroços em que se transformou a sua casa, após um sismo OMAR HAVANA / GETTY IMAGES
Na confusão do trânsito de Croix-des-Bouquets, no Haiti, distingue-se o retrato de CR7 no vidro traseiro de uma carrinha ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS
“O segredo de Cristiano”, uma obra do artista de rua italiano TvBoy, na baixa de Milão, Itália MIGUEL MEDINA / AFP / GETTY IMAGES
“Inseparável” de Messi, numa rua de Barcelona, Espanha LLUIS GENE / AFP / GETTY IMAGES
Viveiro de futebolistas, o Brasil também aprecia o talento de CR7, como esta mulher, no Morro dos Prazeres RICARDO MORAES / REUTERS
Numa praia de Mogadíscio, a capital da Somália FEISAL OMAR / REUTERS
Numa banca de matrioscas, em São Petersburgo, Rússia SERGEI KONKOV / GETTY IMAGES
No corpo de um manequim, na cidade de Turim, onde CR7 joga desde julho de 2018 MASSIMO PINCA / REUTERS
No corpo de uma criança rohingya, que espera pela distribuição de comida, no campo de refugiados de Tengkhali, na região de Cox’s Bazar, Bangladesh DAMIR SAGOLJ / REUTERS
Por baixo de Messi, ao lado de Obama, numa rua de Pelourinho, um bairro da cidade brasileira de Salvador JORGE SILVA / REUTERS
Na parede de uma casa, na cidade indiana de Calcutá RUPAK DE CHOWDHURI / REUTERS
Mural na cidade russa de Saransk FILIPPO MONTEFORTE / AFP / GETTY IMAGES
Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro nasceu a 5 de fevereiro de 1985, na cidade do Funchal, ilha da Madeira ARTUR WIDAK / GETTY IMAGES
CR7 transferiu-se esta época para a Juventus, após representar, enquanto jogador profissional, o Real Madrid (2009-2018), o Manchester United (2003-2009) e o Sporting (2001-2003) NICOLÒ CAMPO / GETTY IMAGES

Artigo publicado na “Tribuna Expresso”, a 14 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

Depois de silenciar a imprensa nacional, Turquia vira-se para a internacional

Três jornalistas alemães, um dos quais correspondente na Turquia há mais de 20 anos, foram expulsos do país liderado por Recep Tayyip Erdogan. Um dos visados acredita tratar-se de “uma estratégia para aumentar a pressão sobre os órgãos de informação estrangeiros”

O Governo alemão alterou as recomendações de viagem para a Turquia. Berlim alerta agora para riscos que os cidadãos alemães enfrentam por expressarem opiniões toleradas na Alemanha, ao abrigo da liberdade de expressão, mas que na Turquia podem ser punidas criminalmente.

Este domingo, em entrevista à televisão alemã ARD, o ministro germânico dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, justiticou o alerta com “observaçoes irritantes” feitas por um ministro turco segundo o qual turistas alemães podem ser detidos na Turquia se forem autores de comentários críticos para com as autoridades turcas nas redes sociais, por exemplo.

Este alerta aos nacionais segue-se à expulsão de três jornalistas alemães da Turquia e que o ministro Maas qualificou de “inaceitável”.

Dois deles abandonaram a Turquia este domingo: Thomas Seibert era correspondente do jornal “Tagesspiegel” em Istambul há mais de 20 anos, e Jörg Brase trabalhava desde janeiro de 2018 para a televisão pública ZDF. Ambos viram serem-lhe negadas as imprescindíveis credenciais para continuarem a trabalhar como correspondentes estrangeiros.

Num encontro com a imprensa antes de seguirem para o aeroporto, Jörg Brase disse pensar tratar-se de “uma estratégia para aumentar a pressão sobre os órgãos de informação estrangeiros. Após o governo ter conseguido silenciar em grande medida os media nacionais, agora vão atrás dos internacionals”.

Seibert disse que as autoridades turcas contactaram o “Tagesspiegel” e a ZDF e sugeriram que enviassem outros correspondentes, o que ambos os órgãos rejeitaram.

Hipocrisia turca

Apesar de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ser o líder internacional que mais se insurge contra a Arábia Saudita a propósito do brutal assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, dentro de portas dezenas de jornalistas turcos foram detidos na sequência da tentativa de golpe de julho de 2016. Ancara acusa-os de terem ligações à organização do clérigo Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos, que identifica como o mentor do golpe.

Em finais de 2018, o Comité para a Proteção de Jornalistas identificou 251 repórteres detidos no exercício das suas funções em todo o mundo — 68 dos quais na Turquia.

No relatório anual referente a 2018 dos Repórteres sem Fronteiras, a Turquia foi protagonista de “um recuo histórico da liberdade de imprensa.” Posicionado no lugar 157 numa lista de 180 países, “a Turquia é novamente a maior prisão do mundo para os profissionais dos meios de comunicação”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

Governo argelino decreta férias “forçadas” para tentar travar estudantes

Com manifestações nas ruas há três semanas, contra a candidatura do Presidente a um quinto mandato, o goveno argelino antecipou as férias escolares. Essa decisão é uma tentativa de desmobilizar os estudantes, um dos motores dos protestos

O Governo argelino determinou, este sábado, a antecipação em dez dias do início das férias escolares da Primavera, previstas para começar a 21 de março. Por determinação do Ministério do Ensino Superior e da Investigação Científica, os estudantes universitários argelinos ficam em casa já a partir deste domingo e até 4 de abril.

A decisão é um bónus “forçado”, já que visa desmobilizar os estudantes envolvidos nas manifestações antirregime que têm agitado a Argélia nas últimas três semanas, e que já foram consideradas as maiores desde o movimento da Primavera Árabe, em 2010-2012.

Em causa está a perspetiva do atual chefe de Estado recandidatar-se, aos 82 anos, a um quinto mandato consecutivo. Abdelaziz Bouteflika é um homem muito debilitado desde que, em 2013, sofreu um AVC. Vive confinado a uma cadeira de rodas e raramente é visto em público, originando suspeitas de que possa estar a ser usado como candidato fantoche.

As eleições presidenciais estão marcadas para 18 de abril e as universidades têm estado no coração dos protestos que começaram a 22 de fevereiro. Como forma de pressão, quer professores quer estudantes já realizaram várias jornadas de greve.

Apesar das imediações do Palácio Presidencial em Argel serem dos principais focos de concentração dos manifestantes, Bouteflika não os ouve. O Presidente está internado há duas semanas em Genebra, na Suíça, para “exames médicos de rotina”, informou o seu gabinete.

Na quinta-feira, anteciando-se a uma nova sexta-feira de protestos, o Presidente fez o seu primeiro aviso aos manifestantes, afirmando que a continuação dos protestos criariam o “caos” no país.

Esta semana, a Comissão Constitucional da Argélia vai pronunciar-se sobre a validade das candidaturas eleitorais apresentadas. Se Bouteflika for aprovado, muito dificilmente os estudantes passarão as férias dentro de casa.

(FOTO Protesto popular na Argélia, em março de 2019 WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de março de 2019. Pode ser consultado aqui